Emoção e Crueldade

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RONY


Eu realmente não devia ter feito aquilo.

Depois de vários momentos pensando no como Hermione ficava vulnerável em reação à mim, pensando no como aquilo poderia ser um ponto fraco que alguém mal intencionado poderia explorar, eu sabia muito bem que era estupidez e crueldade chantageá-la emocionalmente.

Mas quando Hermione falou que planejava partir sozinha no dia seguinte, o sangue simplesmente subiu à minha cabeça.

Eu havia prometido a mim mesmo que jamais ficaria longe dela. Vê-la desafiar essa promessa me deixou ainda mais furioso. Hermione e suas malditas convenções éticas...

Não esperava derruba-la no chão. Santo Deus, eu nunca teria feito isso conscientemente. Quando a vi se erguer, irritada, fiz a única coisa que ao mesmo tempo possibilitaria acalma-la e convencê-la. Apenas a puxei para mim e a beijei.

Ela tentou resistir. Estava furiosa, dava para perceber - como eu só a vira estar quando estava vampirizada semanas atrás. Seu corpo estava rígido e ela empurrava meu peito com os braços. Mas assim como chocolate no fogo, sua resistência foi derretendo aos poucos. Ela parecia estar quase convencida...

E foi nesse momento que Hermione me empurrou, me encarando de boca aberta, simplesmente furiosa.

– Será que isso responde o por quê eu tenho que ir com você? - indaguei.

Pensei que ela ia avançar em mim, mas Hermione apenas piscou, a boca tremendo, parecendo indignada, e se virou em direção à cama. Ela bufava, lembrando vagamente um cão raivoso, enquanto conjurava uma maleta, aonde começou a guardar algumas coisas, sem realmente prestar atenção ao que fazia.

Para minha surpresa, ela conjurou uma segunda maleta ao lado da sua.

Me senti ao mesmo tempo orgulhoso e envergonhado ao ver que havia conseguido, mesmo que provisoriamente, um consentimento de má vontade para acompanha-la.

Me adiantei e comecei a organizar a maleta que Hermione conjurara, sem dizer nada.

Agora que eu fizera aquela chantagem estúpida, tudo me pareceu ter sido uma burrice egoísta e hedionda da minha parte. Eu queria me desculpar por convence-la de modo tão cruel, mas não podia arriscar que ela retaliasse outra vez minha disposição de segui-la até a Austrália. Achei que valia a pena ter apenas um pouco de sua mágoa e irritação se isso permitisse que eu ficasse ao seu lado. Não podia pedir desculpas... não naquele momento, pelo menos. Então permaneci calado.

O resto do dia se passou sem que Hermione me dirigisse uma única palavra. Papai e mamãe não perceberam o muro invisível que nos separava durante o almoço e o jantar, mas Gina, com seu dom de dedução, analisava cada tijolo dele, completamente pasma.

Quando Hermione foi dormir no quarto de Gina, sem nem se despedir - pelo menos de mim - Gina saiu dele, fechando a porta atrás de si, e me encarando curiosa.

– O que estão fazendo?

– Vamos para a Austrália amanhã...

– É O Q... - Gina começou a exclamar, antes que eu tapasse sua boca com a mão.

– Psiu - ralhei com ela, olhando ao redor - não é pra você falar para ninguém.

– Eu não falo, não se preocupe - Gina revirou os olhos, tirando minha mão de seu rosto com um tapinha - mas é bom vocês partirem o mais cedo possível, então. Mas a minha pergunta na verdade era... sabe... - ela indicou a porta com o polegar- o que você fez com essa menina...

– Ahn... ela não queria que eu fosse - dei de ombros, envergonhado - então eu... a convenci.

Gina balançou a cabeça, chocada.

– Caramba, Rony. Caramba! - ela bateu as mãos na cintura - mas você realmente é um legume insensível de primeiro escalão... Precisava maltratar os sentimentos de Hermione desse jeito... depois de tudo que essa menina passou?

– Infelizmente, sim - suspirei - de outro modo, ela ia fazer de tudo para que eu não fosse. Você sabe disso.

– É, tem razão - Gina cruzou os braços - mas assim que vocês chegarem lá, trate de pedir desculpas para a garota. Ou eu duvido muito que essa relação de vocês, seja qual for, vá durar muito tempo naquele calor de trinta e dois graus. Não vai querer passar o resto dessa viagem com ela emburrada ao seu lado, vai?

– Acho que não - bocejei, concordando.

– Bom... eu e Harry vamos tentar despistar papai e mamãe até vocês irem. Você sabe que eles vão ficar furiosos, não é? Mamãe provavelmente vai só esperar você voltar para te enforcar.

– Sim, sei, Gina - resmunguei.

– Beleza, então - ela deu uma risadinha de cumplicidade, e, para meu espanto, me abraçou - boa noite, maninho. E vê se toma cuidado nesse passeio na Austrália... vocês dois.

Retribuí seu abraço. sorrindo.

– Pode deixar...

– Até daqui à dois meses - ela brincou, fechando a porta e acenando.

Fui para meu quarto, sentindo o peso na consciência de ter "maltratado" Hermione me esmagar até eu adquirir a provável estatura de uma barata.

Harry estava na parte de cima da beliche do meu quarto quando entrei.

– Então... você vão amanhã mesmo?

– Vamos - me deitei na parte de baixo - assim que o dia amanhecer.

– Bom... - Harry deu um enorme bocejo, e eu senti as molas do colchão acima de mim rangerem quando ele se virou - boa noite... e boa sorte para vocês dois.

– Boa noite, Harry - deitei de lado. pousando a cabeça no travesseiro.

– Rony?

– O quê?

– Tentem aproveitar esse tempinho... sabe... - ele riu - para se acertarem.

– Espero que isso aconteça, cara - fechei os olhos, me sentindo exausto - espero que isso aconteça...

Em alguns minutos, acabei caindo no sono, pensando no como coquinhos eu iria acalmar a fera que eu acompanharia até a Austrália na manhã seguinte.

Acordei sobressaltado de um pesadelo que envolvia luzes verdes, sangue e gritos.

Mas o sangue e os gritos do sonho me eram desagradavelmente conhecidos... pertenciam à garota que provavelmente ainda dormia no quarto ao lado.

"Vai ficar tudo bem", eu disse a mim mesmo, enquanto tentava me acalmar. "Vai dar tudo certo... nada de mal vai nos acontecer...".

Eu não fazia ideia do quanto estava enganado.


Rony e Hermione na Terra dos Cangurus (A Saga da Lontra) - Temporada IIOnde histórias criam vida. Descubra agora