Obturação

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HERMIONE


Entrei na clínica, sentindo minhas entranhas latejarem de tensão.

Passei por papai, que me recebeu com um sorriso amigável. Meu coração só doía enquanto eu via sua expressão simpática.

"Ah, papai", solucei mentalmente. "Não sabe como eu queria que você já se lembrasse de mim..."

A clínica por dentro era aconchegante, de uma cor bege clara. Na sala de espera, havia crianças brincando com o que parecia ser uma dentadura muito grande de pelúcia. Os pais se sentavam ao redor da mesinha colorida, em poltronas de cor ocre. As cadeirinhas das crianças tinham formato de dentes. Um grande cartaz afixado na parede indicava os serviços prestados pela clínica.

Rony apertou de leve minha mão, tentando me tranquilizar. Eu estava me sentindo levemente enjoada.

– Senhorita Williams - papai gesticulou a cabeça para o consultório, que havia à esquerda - pode entrar. Já vou atendê-la. Os senhores podem aguardar na sala de espera?

Darel concordou, mas Rony olhou assustado para papai.

– Doutor Wilkins, eu... gostaria de acompanhar o procedimento da Hermione, se não fosse incômodo...

Olhei para meu pai, que pareceu um bocado surpreso, mas deu de ombros.

– Claro, senhor..?

– Weasley, Doutor Wilkins. Rony Weasley...

Papai franziu a testa.

– Esse nome não me é estranho...

Ele levou a mão à cabeça, contraindo o rosto. Sacudiu a cabeça, piscando, e tentou disfarçar sua momentânea reflexão se virando para o consultório.

– Desculpem.. podem vir... é por aqui.

Engoli em seco, pensando no como papai parecia ter se incomodado com o sobrenome de Rony. Será que ele sentia uma ligação com esse nome também, como um vestígio de sua antiga memória? Lembro de sempre ter falado de Rony durante as férias para os meus pais. Papai parecia ter um vago resquício disso.

O que me fazia ficar intrigada, já que, ao menos na teoria, o Feitiço da Memória eliminava qualquer vestígio das memórias anteriores. Mesmo depois que eu implantei novas memórias em meus pais, parecia haver, por trás delas, algumas lembranças soltas.

Meu Deus... e se eu não conseguisse reverter o processo?

O consultório, que contrastava com o resto da clínica, tinha as paredes de um branco gelo, A cadeira odontológica era de um azul-claro, e tudo ao redor era limpo e organizado.

Me deu um nó na garganta pensar no como se assemelhava ao consultório que papai me levava quando era pequena.

"Se controle, Hermione", disse a mim mesma, enquanto deitava na cadeira. "Você precisa focar em reverter o feitiço, não em ficar se lamuriando."

A varinha em meu bolso parecia pesar dez quilos. Mesmo ela parecia estar ansiosa para canalizar o feitiço que, eu esperava, traria a memória de meus pais de volta.

Rony me observava, de frente para mim, sentado numa banquetinha no canto do consultório. Ele assentiu, dando um sorriso tenso que não chegava aos seus olhos.

– Muito bem - ouvi papai mexer nas ferramentas ao lado da cadeira - vamos dar uma primeira analisada na sua boca, está bem?

Fiz que sim com a cabeça.

Rony e Hermione na Terra dos Cangurus (A Saga da Lontra) - Temporada IIOnde histórias criam vida. Descubra agora