— Anne — meu pai disse com muita cautela. — Está tudo bem.
Andei três passos para dentro e mantive a porta aberta para o caso de precisar sair correndo. Ninguém se mexeu, como se minha presença ali fosse irrelevante.
— Claro — eu disse com os músculos tensos. — Tenho certeza que sim.
Senti meu pé direito se arrastar para trás devagar e meus joelhos se flexionaram levemente enquanto meus punhos se fechavam. Posição básica de defesa.
Saia daí, a voz que eu só usava para momentos urgentes e decisões difíceis estava sussurrando na minha mente, como se estivesse com medo de ser ouvida. Corra! Isso foi algo próximo de um sussurro gritado. Um botão vermelho de alerta estava piscando na minha cabeça com um dedo atrevido pairando sobre ele, pronto para apertar o botão. Mas eu não podia sair. Meu pai estava bem no meio de um semicírculo formado por seis caras enormes e o pior é que eles estavam segurando espadas — espadas! — Depois de ter observado a cena com atenção algo me dizia que eu não ia muito longe se saísse correndo.
— Por acaso você andou fazendo algum serviço mal feito? — perguntei, sentindo um formigamento na nuca. — Repuxou a cara de uma madame no lugar errado e agora ela quer cobrar o preço?
Eu disse aquilo e olhei para o meu pai com uma cara irritada de mas que droga é essa?
Como ninguém se moveu ou respondeu eu foquei o olhar nas laminas tentando achar algum sinal de que fossem falsas. Capturei um movimento vindo do cara do meio. Ele mexeu o punho que estava segurando a espada e a lamina refletiu a luz que atravessava uma brecha na cortina da janela e refletiu no estofado do sofá de couro. Engoli em seco. Pareciam bem reais para mim. Continuei olhando para a espada erguida e arrastei o olhar ao longo da lamina erguida até o punho, seguindo por um braço musculoso estourando a camisa preta de mangas curtas. Depois, ombros largos e cabelo muito escuro.
Parei com minha inspeção quando ele ficou tenso. Senti um formigamento na nuca que aumentou para uma dor de cabeça, como se eu não estivesse apenas vendo-os ali. Eu estava tomando consciência da presença deles. Os músculos do cara que eu estava olhando insistentemente se mexeram por baixo da sua camisa. Acompanhei seu braço livre e vi que ele abriu e fechou o punho, como que resistindo à tentação de enxugar a mão nos jeans escuros. Olhei para os outros igualmente desconfortáveis abrindo e fechando as mãos da maneira mais discreta possível, mexendo os dedos da mão que segurava o punho da espada. Meu pai movimentou a cabeça muito discretamente, um movimento tão lento que eu não teria percebido se não estivesse prestando atenção. Ele inclinou a cabeça para o lado com os olhos cravados em mim. Juntei as sobrancelhas estranho aquele olhar fora de hora. Ele só me olhava assim quando ia me repreender por algo, mas logo depois ele puxou o canto esquerdo da boca para cima num sorriso mínimo de ternura, como ele fazia quando suspirava o meu nome, se sentido triste e derrotado ao mesmo tempo e nesse momento eu soube que algo muito ruim ia acontecer.
Arfei surpresa e nervosa, minhas mãos começando a suar, meus músculos tensos prontos para qualquer movimento e me coração acelerado bombeando a adrenalina que eu precisava para o resto do meu corpo... e a onda de dor escapou da prisão segura que a mantinha detida. As ondas transbordaram de maneira atrevida, me causando um formigamento nas pernas e nos braços. Todos os caras se viraram ao mesmo tempo e fixaram seus olhares em mim.
— Não a machuquem — meu pai disse dando um passo à frente.
Eu respirava com dificuldade e minha cabeça estava tentando processar tudo aquilo. Tinha seis caras enormes com espadas — muito bem afiadas, obrigada — em punho, que me davam vontade de vomitar só de olhar para elas. Esperei alguém fazer algum movimento violento e arrancar minha cabeça de uma vez, mas ninguém estava fazendo nada. Pareciam estar respirando com cautela e seu olhar indicava que estavam tentando ocultar uma surpresa com todas as forças. Tentei fazer cara de suplica e não de dor, mas receio ter sido inútil. Meus músculos queimavam e meus pulmões ardiam. Saí da minha posição de guarda e fiz a pergunta premiada:
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Os Guerreiros de Antares - Trégua
FantasyAnnelise Boudelaire é apenas mais uma habitante do mundo que conhecemos e seu grau de importância é tão comum quanto para qualquer outra pessoa: ela tem amigos e tem família. No entanto ela acaba por descobrir que toda a sua vida fora estruturada a...