Antares

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Eu flutuava calmamente numa escuridão com pontinhos brilhantes. Parecia o céu durante a noite. Por um momento apenas fechei os olhos e deixei que meus pensamentos saltassem da minha cabeça para dar espaço à sensação agradável de calmaria. Mas meu subconsciente não podia deixar de lado a ideia de que havia algo errado naquilo, mesmo que naquele momento eu não me importasse muito. Apenas me deixei levar por algum tempo até que meus pensamentos começaram a voltar e meu corpo foi caindo e caindo e...

Ai, merda! Respire! Respira, caramba!

Abri os olhos de repente, como quando se acorda de um pesadelo, e puxei o ar para os pulmões com força, sentindo minha garganta seca. Era a segunda vez que aquilo acontecia pelo simples fato de me lembrar de certos acontecimentos. Definitivamente algo estava errado.

Por mais que tentasse, todo o meu esforço para puxar um pouco de ar que fosse para os meus pulmões foi em vão e aos poucos fui percebendo o porquê.

Eu estava retorcida numa posição anormal. Meu corpo provavelmente havia sido largado de qualquer jeito em cima daquela cama, uma vez que estava virado para baixo e um dos meus braços estava dobrado embaixo de mim, machucando minhas costelas. Contudo, o que tornava aquela posição tão terrível era a forma como o meu pescoço estava torcido: meu queixo estava posicionado em cima do meu ombro direito, impedindo a passagem do ar. Além de tudo, estava dolorido como o inferno. Parecia até que...

Senti meus olhos se arregalarem tanto que temi que fossem saltar das órbitas. Forcei meu corpo a se mover com urgência e me sentei rapidamente, finalmente respirando e tossindo loucamente, sentindo os músculos doloridos do pescoço. Levei uma das mãos à nuca com a respiração ainda acelerada e o coração ameaçando saltar pela boca. Senti uma mistura de pânico e alívio tão grandes que tive vontade de rir alto e me desmontar num choro convulsivo. Tudo ao mesmo tempo. E então percebi que não fazia a menor ideia de onde eu estava.

A primeira coisa que notei foi que estava em um quarto absurdamente grande: as paredes eram muito altas e eram de madeira escura até a metade, com detalhes que lembravam portas altas e estreitas oval na parte superior, representando desenhos de animais e objetos aparentemente aleatórios em alto relevo. A metade de cima da parede à minha esquerda era decorada com várias prateleiras repletas de livros e uma lareira de pedra grande o suficiente para aquecer todo o quarto. À minha frente, cortinas pesadas cobriam o que eu pensei ser uma janela gigantesca, bloqueando a luz do dia — se é que ainda era dia — e duas poltronas e um sofá de aparência confortável estavam ao redor de uma mesinha composta por um vaso de cristal e flores frescas. À minha direita, uma penteadeira enorme feita da mesma madeira escura das paredes, com um espelho de três faces e todos os acessórios que uma penteadeira precisa ter. Na mesma parede havia duas portas que classifiquei como sendo largas demais. Uma terceira estava localizada na parede da cama que eu estava deitada, que, aliás, também era desnecessariamente grande. Cabiam seis Annelises ali e daria para passar a noite sem incômodos. Havia travesseiros suficientes para sete pessoas e os lençóis eram grossos e macios e um baú acolchoado ficava aos pés da cama. Em cada lado da cama, encontravam-se duas mesinhas com um abajur em cada uma delas. Acima da minha cabeceira trabalhada havia uma luz de leitura com uma cordinha pendente que arrastou minha atenção ao lustre gigantesco que pendia do teto.

Antes mesmo que eu pudesse absorver tudo, alguém abriu a porta com força e eu levei um susto tão grande que meu coração quase saiu rolando pelo tapete.

— Que bom que acordou — Kevin disse com seu mau humor típico, andando a passos largos até parar perto do baú. Ele havia trocado de roupa e agora usava camisa regata preta de algodão, calças largas no estilo militar pretas e coturnos. — Levante-se.

Os Guerreiros de Antares - TréguaOnde histórias criam vida. Descubra agora