Confusão

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Encolhi o corpo na posição de uma bola deformada, com as pernas cruzadas e o tronco abaixado, protegendo a cabeça com os braços com tanta força que foi difícil mexer o corpo depois que acabou e tudo ficou no mais perfeito silêncio. Estranhamente minha dor não estava mais lá. Na verdade eu me sentia revigorada

Ergui a cabeça para examinar toda a bagunça da sala. Meu pai saiu de trás do sofá, me encarando com as sobrancelhas erguidas. O que por acaso era o que todos estavam fazendo naquele momento. Até mesmo Kevin e Deimos que estavam arrancando cacos de vidro do corpo - sem esforço algum - e largando no chão com o mau humor estampado na cara. Os outros tiveram a sorte de não estarem ao alcance das janelas e só precisaram sacudir alguns cacos menores do corpo.

Olhei para Deimos e notei que ele não tinha mais machucado nenhum. Seu rosto estava apenas marcado pelo sangue dos machucados que simplesmente sumiram. Ele notou que eu estava olhando com uma cara muito confusa - e provavelmente mito idiota - e virou o rosto em outra direção. Ignorei aquilo e me esforcei para formular algo para dizer.

- O que aconteceu? - foi a pergunta premiada.

- A pergunta premiada - Grigori saiu de onde quer que estivesse antes, dando petelecos nos caquinhos de vidro grudados em sua camisa.

- Uma consequência de seu Despertar - ele respondeu como se aquilo explicasse tudo. - A propósito, não faça mais isso.

- Mas eu...

Bum! Em um instante a porta veio abaixo e minha casa foi invadida - de novo! - por mais um bando de caras enormes que entraram pelas janelas estilhaçadas e pela porta recém-arrombada. Observei a sala contando quantos eram: seis, considerando Deimos, assim como o grupo de Grigori, e estavam armados com arcos e flechas e cada um tinha uma espada embainhada num cinto de couro que pendia da cintura. Todos tinham um alvo e estavam prontos para disparar.

O problema era que eu também estava na mira.

Parei minha observação quando notei que, a pouco mais de um metro de mim, havia alguém apontando uma flecha direto para a minha testa. E algo me dizia que ele não ia errar o tiro. Suspirei. Já estava quase pedindo para me matarem de uma vez. E eu não tinha feito nada!

- Não atire nela - virei o rosto na direção de Grigori que segurava sua espada apontada para baixo, mas com o punho fechado com tanta força que os nós dos seus dedos estavam brancos

O arqueiro não se moveu.

Continuei sentada no chão sem mover um músculo. Assim como o arqueiro, que permanecia firme em sua posição, com um dos olhos fechado, pronto para atravessar meu crânio com uma flecha prateada.

- Não atire nela.

Todo mundo - menos o maldito que apontava aquela coisa para mim - arriscou perder a concentração só para dar uma olhadinha no cara que tinha dito aquela frase magnífica: Deimos.

Aproveitei o momento.

- É, cara - eu disse ficando de pé lentamente e todos voltaram a prestar atenção. - Não atire em mim - estiquei meu braço na direção de Grigori e o apontei com o indicador. - Atire nele.

Grigori olhou para mim com os olhos estreitos.

- Foi mal, cara - dei de ombros. - Você quebrou todas as portas do meu quarto. Não gosto de você.

Mesmo assim, o arqueiro ainda apontava a flecha para mim. Grigori me olhou e ergueu uma sobrancelha. Rá!

Mostrei a língua e senti um arrepio percorrer meu corpo quando Deimos falou de novo.

Os Guerreiros de Antares - TréguaOnde histórias criam vida. Descubra agora