Surpresa. De novo.

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Levei um tempo para compreender o que ele estava dizendo. Não havia a menor possibilidade de ter alguma verdade naquilo. Dois mundos não poderiam coexistir. Até poderiam, mas um deles não seria capaz de abrigar seres fisicamente superiores aos Humanos. Ou seria? Mesmo que isso fosse verdade, eu não poderia fazer parte do segundo mundo, poderia?

— Nada do que você disse faz sentido — acusei, encarando o chão de madeira polida. — Minha mãe não é uma Guerreira.

— Não, ela não é — Kevin disse e quase fiquei feliz por ouvi-lo dizer alguma coisa a meu favor. Quase. — Pelo menos não mais. Ela está morta.

Ergui a cabeça sentindo uma raiva repentina.

— Minha mãe não está morta.

— Amy... — Grigori começou a falar, mas eu o interrompi, pouco me importando se ele quebraria meu pescoço ou puxaria minhas tripas pelo ouvido.

— Anne, seu grande idiota — fiquei de pé e Grigori e Kevin fizeram o mesmo. Os dois pareciam tensos com minha irritação. — Minha mãe não faz parte de toda essa mentira mal contada que você acabou de me contar. E ela com certeza não. Está. Morta.

— Certo — Grigori falou e observei Kevin abrir e fechar os punhos discretamente em sinal de desconforto. — Então como você me explica o fato de seu pai ter confessado uma traição? E como você sobreviveu a um pescoço quebrado se é apenas Humana?

— Meu pai pode ter confessado uma traição e talvez até tenha confessado que minha mãe não é minha mãe de verdade, mas isso não significa que eu sou imortal ou coisa assim.

— Ter o pescoço quebrado e acordar horas depois, totalmente recuperada, significa que você é imortal.

— Não — balancei a cabeça com tanta força que fiquei tonta. — Isso é impossível.

— Aparentemente, não.

Passei as mãos nos cabelos e soltei um longo suspiro na tentativa de me acalmar. Pelo canto do olho, pude ver Kevin relaxar consideravelmente.

— Quem era a minha mãe?

— Nós não sabemos. Mas ela era uma das nossas.

— Como assim, uma das suas?

— A guerra dividiu Antares em dois grupos: os Savin'na, Guerreiros da Deusa Zahia, e os Vough-Hara, Guerreiros da Deusa Meribhast. Fazemos parte do exército de Zahia. Naturalmente, nossos inimigos são do exército de Meribhast. Estamos em uma trégua que já dura bastante tempo e chegamos a acreditar que estava acabado, mas aí descobrimos você.

Suspirei de novo e me sentei, fazendo sinal para Grigori continuar.

— Ao iniciar o treinamento, os Guerreiros têm sua essência alterada. Eles passam a poder sentir a presença de outros Guerreiros e, com certa concentração, podem saber quantos são. Alguns têm a capacidade identificar o nível de força de todos os membros de um grupo, desde o mais fraco até o mais forte. Chamamos essa energia de Eike.

Eu me lembrava de ter ouvido essa palavra antes. Então era disso que Erian e Deimos falavam naquele dia.

— O seu Eike está em um nível consideravelmente alto e você precisa de treinamento para controlar isso. Quando perdemos a calma, nossa energia é liberada e, por ser muito forte e diferente, seu Eike acaba sendo desconfortável para nós.

— Poderia ter evitado o desconforto se não tivessem ido atrás de mim — falei mal-humorada, começando a me sentir deprimida.

— O seu pai é um dos Humanos que receberam grande quantidade de energia pura. Eu disse que isso em nada afeta as pessoas do seu mundo, mas os Guerreiros podem sentir a energia que vem dele e até ele estava começando a sentir a energia que você tem. Por isso ficamos tão tensos quando você perde a calma.

Os Guerreiros de Antares - TréguaOnde histórias criam vida. Descubra agora