Uma fuga pra Floresta Branca

Descoberta - Parte 2

Ela se virou para mim de perfil, seu olhar era firme mas no fundo de seus olhos azuis cristalinos eu vi uma enorme tristeza, era com se ela estivesse lutando, tentando se libertar.

-Olá Mia...-ela disse em tom sarcástico.

-Mãe,por que?-perguntei em um tom quase mudo.

Ela nada respondeu, se virou e limitou seus movimentos a só respirar, estranho.

-O que quer com ela?

-Você sabe muito bem, ou quer que eu te lembre o que....

-Você é um sujo,tenho pena de você!- eu disse em um tom alto o interrompendo.

-Escute aqui garota!Não ouse levantar essa sua voz para mim,ouviu?-ele disse apertando meu rosto bem forte com a mão.

O ignorei e comecei a observar a princesa que estava desacordada, seu rosto estava gracioso, porém seus cabelos e roupas estavam maltrapilhos.

-E ela?-me limitei nas palavras apontando a cabeça para Crystal.

-Ela era meu plano inicial, a sequestraria e a mataria.Depois eu pegaria seu corpo e lhe acusaria de a ter assassinado assim o rei te condenaria e eu iria me aproveitar de seu momento de luto, roubando Suezul pra mim
- ele disse rindo.-Mas como você veio até mim, decidi destruir você e ainda levo Nathan junto.

-Você é ridículo! Conte - me todos seus planos e me de tempo de fugir.-eu disse rindo e ele sorriu mais ainda.

-Só quero que você saiba o que irá acontecer depois que você morrer, mas não te contei tudo não garota.

Que vontade de jogar ele dentro do vulcão,por favor, como se eu quisesse saber de seus planos. Quero é ter paz para fugir.

Conforme o dia ia passando eu parecia estar mais louca do que nunca,pra onde eu olhava só via lava e terra vermelha. Lembrei - me dos meses que passei com Rafael, conforme o tempo que passávamos juntos íamos nos tornando mais próximos. Ele era meu irmão de coração, na verdade, mais um irmão de coração. Ele me contava seus sonhos de ter uma família normal, de abraçar seus pais, de acabar com minha dor.
Quem dera, se pudesse eu tirava a dor dele e colocava em mim, nem sei se faria diferença, na verdade eu não poderia, compartilhamos da mesma vontade e a mesma dor.Minha mãe não me contou que sou adotada.

Lembrei-me da felicidade que senti quando Nathan voltou a morar conosco, das poesias que eu lia em seus livros. Então me veio a memória a letra da música que Nathan escreveu.

-O que está fazendo?- eu disse e com a ajuda de Nathan, me sentei ao seu lado, ele estava no telhado com um papel e uma caneta.

-Escrevendo uma música, mas ela está horrível, sem rima e sem ritmo. -ele sorriu com uma pontada de vergonha.

-Posso ler?- perguntei e ele assentiu.

Lembre-se de mim quando ao seu redor só ver a escuridão.
Quando sua esperança for encontrar uma saída, escute a minha voz e a siga.

Sem você não conseguia raciocinar, estava perdido.

Mesmo que eu não esteja contigo, mesmo que eu vá dessa para uma melhor, queria que soubesse que eu te amo.

- Você pode pegar e fazer uma carta em vez de música.- Eu disse e ele sorriu ao pegar seu papel de volta.

-Talvez eu não tenha tempo de entregar pra alguém.

-Lembre se de mim quando seus sonhos forem tirados, lembre se de mim que a vida foi arrancada no dia que lhe vi.-Eu comecei a recitar e ele escreveu sorrindo, ele repetia as minhas palavras com sua voz serena.- Pense em mim que só resta o desejo de sonhar. Por mais que tudo morra, que eu vá junto, que só reste o mundo e que dependa de mim, saiba que eu....

-Te amo!- falei chorando ao lembrar do que já passei junto com esses dois.

Podia jurar que ouvia a voz de Nathan cantando em meu ouvido, talvez eu só esteja emocionalmente abalada.
Olhei para a princesa que acabara de acordar e estava assustada, como ela não perguntou nada, supus que ela sabe o que está acontecendo.

-Psiu!- a chamei cochichando e ela me olhou.-Vou te tirar daqui, seu irmão morre se souber, ele mesmo não te conhecendo te ama.

Ela escutava tudo sem entender o que eu falava, quando finalmente entendeu afirmou com a cabeça.

-Eles vão dormir logo logo, tem uma faca jogada logo perto, vou tentar a pegar e cortar sua cordas e você, as minhas.

-Como posso confiar em você?-ela perguntou.

-Devo esse favor a alguém, fora que por sorte você estava presa perto de alguém que não lhe deseja mal.

-Posso saber a quem?-ela me direcionou essa pergunta com certo medo.

-A quem te ama muito.-finalizei a fazendo ficar pensativa.

Enrico chegou perto de onde estávamos e me fuzilou num olhar vencedor. Idiota!
Ele viu que Crystal havia acordado mas pouco se importou,estava convicto demais.

A noite já havia começado,a lua estava cheia e eu vi novamente aquela estrela brilhar mais forte até do que a própria lua, ela direcionava seu brilho na estrada como se me convidasse a fugir.

Levantei com cuidado da cadeira e peguei a faça que eu havia escondido perto de Crystal a mais ou menos quatro horas atrás. Me virei de costas para a princesa e cortei suas cordas rapidamente.

-Ótimo!-ela disse aliviada.- Agora não se mexa para eu não a machucar.-ela falava enquanto pegava a faça de minha mão e cortava as minhas cordas.

-Pronto!-eu disse quando senti que estava livre.- As próximas horas serão as comandantes do nosso destino. Devemos correr como nunca e se ficarmos cansadas, corremos mais ainda.

-Tudo bem,vamos por qual caminho?- ela me perguntou.

A estrela iluminou mais forte pelo segundo caminho a esquerda, um bosque que eu nunca havia visto.

-Siga firmemente aonde a estrela ilumina.-disse enquanto segurava a faça em meu quadril.-Pronta?

-Pronta!

-Quando eu contar até três. Um, dois, Três!!