A primeira morte de Mia

7 1 3
                                    

Mia...

Mia..

Acorde!

A voz proferia em meus ouvidos um despertamento.

Abri os olhos sentindo-me extremamente confusa. Estava sozinha, mas estava em uma caverna.

Quando fui me levantar senti uma leve tontura, seguida de uma dor aguda no braço. Eu tremia, de bater o queixo, mas não via ninguém. A nevasca estava intensa do lado de fora e a pequena fogueira era minha única garantia de sobrevivência. Olhando ao redor, pressuponho que os meninos deixaram tudo arrumado e foram atrás de comida.

Me aproximei do fogo tentar aquecer minhas mãos. No entanto, muito rapidamente meu corpo se aqueceu, dissipando qualquer resquício de frio.

Inspirei o ar gelado, e soltei o ar aquecido. Estava entediada sozinha, não havia nada para me distrair, nem ninguém com quem falar.

Senti o meu braço latejar novamente. Lembrei de minha mãe, a que me criou, a que me amou mesmo sabendo que não era sua. Ela estaria cuidando de minhas feridas, zelando pelo meu bem. Como ela tinha planos lindos para mim. Ser uma mulher casada, com uma grande família, vivendo em paz perto do lago Suez. 

Uma mulher tão bondosa que me deu seu sobrenome. E meu pai. Como sentia sua falta. Eu era sua princesa. Meu irmão, minha irmã... Eu perdi seu casamento, eu tinha até a ideia do vestido que faria para essa ocasião.

Chorei quietinha pensando que provavelmente me consideravam morta, devido a tanto tempo desaparecida. Eu sabia que iria morrer em breve, então, não seria em todo mentira. Só os deu mais tempo para se conformarem com minha perda. 

Eu queria sentir o cheiro de minha mãe e o calor do abraço de meu pai. O aconchego do colo de minha irmã, e as piadas enfadonhas de meu irmão.

Eu seria grata se pudesse ter mais um dia com eles.

Eu seria grata se pudesse ter uma vida inteira de aventuras, descobertas, de amor, de dores, de tudo. Eu temo que não tenha toda uma vida. 

Minhas veias queimavam em pensar em tudo aquilo. Meu espírito não queria morrer, não aceitava que terminaria assim, tão breve.

Eu sentia que deveria viver uma vida longa, com muitas histórias.

Serva de Fogo. Será que eu duraria mais de uma semana? Eu ria pensando nesse destino. Se eu tivesse aceitado, onde estaria agora? Mais do que morta, com certeza. Mas o destino não me queria lá, me queria exatamente onde estou. Gratidão ao destino? Talvez.

Quando criança, bem pequena, sempre que ia para o lago Suez eu sentia, esperava e procurava algo a mais. Eu sentia que não estava caminhando como os outros. Parecia que eu estava me esforçando, só que ao contrário.

Quando mais jovem, eu sabia que não era igual, mas ignorei a voz que me dizia que eu iria mudar o rumo da história que estava sendo escrita. Eu era a reviravolta.

Meus olhos, extremamente anormais me diziam isso, intimamente.

Tão puro, tão inconstante. Me sentia sempre incompreendida, mas ao mesmo tempo, recusava a aceitar meus próprios sentimentos. Nem mesmo agora eu os aceito.

Ouvi um uivar do lado de fora, e um arrepio de angústia tomou todo meu ser.

Corri, mas logo fui barrada pelos meninos, que acabaram de retornar com expressões de dor.

- O que aconteceu? - perguntei com medo da resposta.

- Não se preocupe, é somente o frio que nos machuca. - respondeu Rafael sorrindo.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Oct 07, 2021 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Uma fuga pra Floresta BrancaOnde histórias criam vida. Descubra agora