Parte 7

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Após acabar meu plantão, fui para casa. Resolvo então abrir a última caixinha da coletânea de presentes. Encontro um bilhete e uma rosa de plástico branca.

"Querida Lu, essa última carta é uma despedida, eu não pude me casar com você, afinal, você seguiria seus sonhos e eu ficaria aqui. Acabei me envolvendo com outra pessoa, na qual tive um filho. Espero que você me entenda. Era o melhor para nós dois. –Gustavo"

Me poupei das lágrimas e peguei tudo, todos presentes que eu tinha aqui, todas as caixinhas. E joguei tudo no lixo. Não vou embora desse apartamento, afinal, fui eu quem paguei. Resolvo então dormir, amanhã o dia será melhor.

Acordo no meio da noite com meu celular tocando.

-Alô?

-Lu, por favor, preciso de ajuda.

-O que houve mãe?

-Seu pai, ele está se debatendo, eu não sei o que vai acontecer com ele.

-To indo ali agora mesmo.

Pego meu carro e vôo em direção a casa dos meus pais. Entro correndo dentro de casa e meu pai estava caído no chão. Vou até ele e sinto a pulsação. Baixa demais. O peito estava inchado. Ele estava tendo um infarto. Ligo para a emergência e me sinto inteiramente devastada. Vou com ele até o hospital e fico de vigia. Ate que o médico veio até nós.

-Vocês são os familiares do Senhor José?

-Sim, somos.

-Ele infelizmente morreu. Lamento informar.

Minha mãe e eu estávamos inconformadas com essa situação. Fomos até ele. Ele estava frio, e inchado. Meu coração se despedaçou. Então saímos e fomos organizar o velório. Depois de algumas horas liberaram o corpo, e fomos velá-lo. Rezamos e tentamos parecer bem, mas por dentro estávamos em pedaços.

Após o enterro, fomos para casa. Dei um calmante a mamãe, e fui me deitar também. Eu até gosto de ser médica, mas não foi isso que eu sempre quis. Isso foi o que meu pai me impôs. Mas agora, ele está morto.

1 MÊS DEPOIS....

Vendemos a casa, e me assumi a frente da empresa do meu pai, que tinha por nome Frio de Maio. Era uma empresa de roupas e perfumes, ambos importados. Que trazia um lucro muito alto para nós. Fiz um cursinho de administração, e sei o necessário para cuidar de tudo aqui. Só que eu não esperava encontrar quem eu encontrei: Gustavo. Ele era vendedor, e não sabia que meu pai era dono desta empresa. Marquei uma reunião no refeitório, para dar a nova notícia.

-Bom dia pessoal. Eu sou a Luiza Lima. Filha do José Maria Lima. Após o triste ocorrido, eu assumi a empresa, por ser filha única. Quero que cada um de vocês venha até minha sala. Um de cada vez. Para conversarmos, tudo bem? Obrigada.

Subi com o primeiro funcionário, e após atender quase todos, faltava só ele:Gustavo, meu pesadelo.

-Bom dia Gustavo, sente-se. Aqui diz que trabalha aqui...a partir de hoje? –pergunto perplexa.

-Sim, entreguei meu currículo a um mês, antes do ocorrido com seu pai.

-Bom, o gerente geral irá te ensinar o básico, e o resto você adquire com o tempo. Seu salário inicial será de 1000 dólares, com 5% de lucro em cada produto vendido. Certo?

-Certo. Vou indo então.

Ele saiu da minha sala. Parecia um pouco decepcionado. Não esperava que eu assumiria aqui, pelo que parece. Sim, abandonei a medicina. Sou só médica da minha mãe agora. Ligo para o pessoal da gestão da empresa e peço para abrirem cargo para uma secretária. A pessoa com melhor currículo ganharia o cargo. Mas a pessoa deveria viajar comigo, em reuniões, e nas compras de modelos e desenhos, das melhores roupas que existem.

Não demorou muito e o pessoal me ligou.

-Dra. Lu?

-Sim, no que posso ajudar?

-Já tem um candidato. Com um currículo ótimo e com tempo de sobra.

-Pode mandá-lo vir até aqui, por favor?

-Sim, claro.

-Obrigada.

Ouço batidas na porta e então um garoto muito bonito entra.

-Bom dia, você é o Breno Álvares?

-Sim.

-Sente-se, vamos conversar. Vejamos: formado em recursos humanos, administração e fez curso de vários idiomas. Também tem uma banda e tem curso de publicidade. Tudo isso só com 28 anos? –Tiro os óculos e fixo os olhos nele. Ele era ótimo. Mas como não consegue emprego?

-Isso mesmo, Dra.

-Mas porque você não consegue emprego então?

-Porque todas empresas me dizem que tem pessoas mais capacitadas que eu.

-Você sabe que terá de viajar comigo, não sabe?

-Sei sim, e estou disposto a ajudar. Eu vivo trabalhando mesmo.

-É casado?

Ele engole em seco.

-Sou viúvo.

Agora quem ficou sem palavras fui eu.

-O que houve com sua esposa?

-Ela morreu em um acidente a 5 anos. E depois disso, só trabalho.

-Meus pêsames.

-Não, tudo bem. Já passou.

-Bom Breno, está contratado. Parabéns. Você começa amanhã.

Ele sorriu, apertamos as mãos e ele saiu. Estou sentindo um cheiro recomeço no ar. Me tornei outra pessoa. E estou feliz.


Frio de MaioOnde histórias criam vida. Descubra agora