Capítulo 1

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Não sei o que tem de divertido nessa área da cidade; dizem que é mais pobre, e durante a noite é um perigo sair sozinha. Quando Kendra disse que não seria divertido, pelo menos achei que a parte do "distrair" fosse verdade, mas até agora tudo o que pensei foi que teria de enfrentar mais destes cenários, já que estou decaindo em minha situação financeira. Olhei para os lados duas vezes mais antes de atravessar a rua até o outro lado, onde havia um beco formado por dois prédios de cerca de sete andares. Kendra seguiu reto em direção ao prédio da direita do beco, tocando a campainha e ouvindo o som do interfone ser ligado.

- Quem é?

- Kendra. E conhecida.

Conhecida. Nosso status de relacionamento é "conhecidas". Não posso reclamar, tenho certeza que eu sei mais da vida dela do que ela da minha, já que eu não passo grande parte do meu tempo bêbada. O máximo de relacionamento que mantemos até hoje são a troca de diálogo durante a hora da emergência ou o fato de eu ter de cuidar dela quando chega alterada em nosso quarto, me impedindo de dormir com o som de seu vômito.

A porta se abriu depois que Kendra se identificou. Parecia leve, mas mostrou-se muito pesada. Ao passar por ela, deixei que se fechasse sozinha atrás de mim. Olhei para os lados e vi um hall mediano e sujo, como se fizesse muito tempo que alguém não limpasse aquele lugar. Achei que Kendra fosse pegar o elevador, mas a placa de "interditado" fez com que minhas pernas doessem ao subir quatro andares. Tentei acompanhar o ritmo de Kendra, mas ao chegar no destino final, estava sem ar e arrependida de ter concordado em sair do campus.

Vi que no corredor onde estávamos havia diversas pessoas encostadas nas paredes conversando entre si. Ao passarmos por elas, algumas cumprimentavam Kendra e outras soltavam alguma gíria que prefiro não entender o significado. A maioria das pessoas usavam roupas de ginásticas e tênis que pareciam ser maiores que os próprios pés. Havia pessoas de todos os tipos, negras, brancas, asiáticas e ruivas. Foi como se estivesse em um dos comerciais culturais que dizia não haver preconceitos étnicos.

Fui somente ouvir o som de música agitada quando estava no meio do caminho até a porta por onde Kendra entrou sem bater. Abri a boca ao ver que era uma sala de dança, com parte das paredes da sala encapadas por espelhos e barras de segurança onde homens e mulheres se aqueciam. O lugar não era nada organizado, tampouco limpo, seguindo o mesmo esquema de poeira que havia no hall. Contudo, ninguém ali parecia se preocupar com a falta de higiene. Todos pareciam mais dispostos a... Dançar.

- O que é aqui? – pergunto para Kendra boquiaberta.

- Aqui é um estúdio de dança. – ouço uma voz atrás de mim e pulo com o susto. Ao virar para trás para ver o perfil da pessoa que me assustou, vejo um homem muito mais alto do que eu, com uma camiseta regata preta grudada ao corpo e uma calça cargo preta. Seus tênis eram enormes, provavelmente o dobro do tamanho de meus mocassins. Com seus olhos enormes e azuis, olhou para mim dos pés à cabeça, os lábios nem finos, nem grossos apertaram-se e então desviou sua atenção para Kendra atrás de mim. – Quem é a garota?

"A garota está na sua frente." Penso, ofendida por estar sendo ignorada. Por outro lado, usei do tempo que não estava olhando para mim para ver que ele era forte; possui ombros largos com uma tatuagem no ombro direito. A tatuagem segue para as costas, me deixando curiosa sobre como seria seu conteúdo completo, mas sabendo sobre minhas condições e o fato óbvio de que ele não foi com a minha cara, preferi me manter calada.

- Minha colega de quarto. – Kendra disse.

- A mesquinha? – uma garota gritou do outro lado da sala, tirando risadas de algumas pessoas. – Achei que ela fosse rica demais para vir até aqui.

Garota S [degustação]Onde histórias criam vida. Descubra agora