Quando Ansel mostrou minha dança para os professores e os alunos veteranos, senti que todos passaram a me tratar melhor e com mais respeito. Saber que a mesquinha dançava até melhor que alguns deles fazia com que o ódio de alguns se esvaísse e de outros se intensificassem por haver mais um obstáculo na realização de seus sonhos – ou de chamar a atenção do chefe.
- Você tem mais força no seu pé direito, então tente dar os rodopios apoiados nele. – Hans disse no final da sexta-feira seguinte, depois de ter feito algumas horas de treinamento com ele a pedido de Ansel. Como esperado, Hans era ousado em seus movimentos, mas não deixou de se ver surpreso por minha facilidade em aprender a imitá-lo. Infelizmente, não entendo de dança o suficiente para arriscar passos novos por mim mesma; tudo o que faço é limitado ao que assisto-os fazer.
- Tudo bem. – falei, memorizando o aviso e olhando para minhas pernas, que parecem iguais a olho nu. Olhei no relógio, que marca o fim de meu expediente no trabalho; me despeço com um agradecimento do namorado de Kendra e saio correndo para o vestiário, onde um grupo de garotas conversavam sentadas, trajadas somente em suas toalhas. Cumprimento, sendo respondida por algumas – a minoria.
- Então, desde quando dança? – Patricia, que me lembro, se apoiou no batente do meu chuveiro, me deixando sem graça, já que seu corpo cheios de curvas bem delineadas e a pele em um tom bronzeado muito bonito, deixava o meu corpo sem graça.
- Na verdade, comecei semana passada. – falo, me ensaboando. Ouço sua risada.
- 'Tá falando sério? – concordei com a cabeça ao vê-la não acreditar no que digo. – Como?
- Como?
- Como consegue surpreender Ansel sem nunca ter dançado?
- Não sei.
- Você não acha que isso é ofensivo para todos que treinam duro há anos?
- Acho. Não quero pegar o lugar de ninguém.
- Isso não tem nada a ver. – Patricia olha para meu corpo. – Você está em algum relacionamento com Ansel?
- Ele é meu chefe...
- Você me entendeu. – sua voz parecia agora irritada. Inclinei minha cabeça para o lado direito, pensativa, até entender que ela deveria estar se referindo a um affair.
- Ah! Não, não temos nada! – levanto meu braço. – Não nos damos bem, vivemos brigando.
- Exatamente. – Patricia apontou para mim. – Você já viu Ansel brigar com alguém? Ele nunca provoca nenhuma mulher. Ele jamais correu atrás de alguém ou pediu para todos assistirem a uma apresentação. Nunca pediu para Hans, um dos melhores professores, dar aulas particulares a alguém.
Abro a boca, não me importando com a água que entra por causa do chuveiro aberto. Ele nunca havia feito nada disso? Sei que ele não tem o costume de brigar e ser uma pessoa pacífica, mas não vejo sua personalidade agressiva como um aspecto positivo. Preferia ser tratada como todos se fosse possível.
- Estou apenas te avisando, porque há uma das alunas que está de olho em você. – ah, então ela estava tentando me ajudar. Preciso treinar melhor minha análise corporal das pessoas. Patricia não parecia estar disposta a ser alguém próximo a mim. As pessoas deveriam sorrir quando tivessem a intenção de ajudar. – Enquanto você não é ninguém, é bom, Nathalia. Mas a partir do momento que você se torna alguém aqui dentro, e um alguém que Ansel se mostra interessado, você corre mais risco do que uma pessoa normal andando na rua às duas da manhã.
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Garota S [degustação]
ChickLitNathalia Germini nasceu em berço de ouro. Pelo menos eram o que seus amigos de escola diziam. Filha de pais advogados importantes em São Paulo, tudo o que ela sentia era o sufoco das regras que eles impunham para ser a "filha perfeita". Decidida a s...