Capítulo 10

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Pisquei uma vez. Duas vezes. Três.

Achei que era uma ilusão, que pudesse estar doente, qualquer hipótese menos a verdade de que Gabriel estava logo à frente com um sorriso no rosto e a roupa de verão que costuma usar quando vai à praia com os amigos. Abri a boca, chocada com sua repentina aparição. Que tipo de surpresa é essa? Como ele conseguiu comprar as passagens? Da onde surgiu a ideia de deixar o TCC de lado para vir em época de aula vir me visitar?

- Nathalia, qual é... Ah. – senti o toque de Kendra em meu braço, mas logo sumir. Olhei para o lado com minha boca ainda aberta e ela olhava com a mesma expressão na direção de Gabriel. – Por acaso... Ele... – apontou para ele e ao perceber que não responderia, virou seu rosto para mim. Concordei com a cabeça. – Porra.

- O que eu faço? – olho para Ansel, que ainda tirava as malas de Kendra, exagerada, com a ajuda de Hans.

- Vou distraí-los, você pega ele e vai descobrir o que diabos ele veio fazer nos Estados Unidos, se não tem nem aonde cair morto. – sussurrou. Como não tinha plano melhor, concordei rapidamente, sentindo-a se afastar de mim com rapidez.

Sem pensar mais uma vez, saí em disparada em direção a Gabriel, que usava os óculos de sol que lhe dei no aniversário antepassado. Tentou me abraçar, mas fui mais rápida, puxando-o e arrastando-o atrás de mim até a área dos dormitórios. Caminhamos por alguns minutos calados; minha atenção estava dirigida ao caminho até meu quarto e de Kendra, enquanto ele provavelmente gostaria de receber uma explicação, já que há alguns meses eu estaria chorando de felicidade por tê-lo aqui do meu lado.

Entramos no dormitório e fechei a porta, me lembrando de não aderir à minha impulsão e trancar para Kendra não entrar, mas como o quarto também é dela, logo tirei essa ideia da cabeça. Olhei para Gabriel, que encarava curioso a diferença do meu lado de nossa escrivaninha e o lado de Kendra.

- É maior do que eu imaginava. – falou, virando seu corpo em minha direção enquanto colocava as mãos dentro da bermuda. - Você não parece feliz.

- Hum? – virei meu rosto para ele. – Ah, claro que estou feliz, você está aqui. – sorri, sem graça, esperando que ele considerasse como minha costumeira timidez. – Aliás, como conseguiu vir para cá? Achei que estivesse tendo dificuldades em juntar o extra para a poupança.

Seus ombros se levantaram, fazendo-o parecer mais alto do que já era. Observei Gabriel em pé à minha frente, tentando descobrir o que havia de errado comigo. Pela primeira vez, não gostei do quão bem ele me conhece, a ponto de saber quando estou perturbada ou quando simplesmente não quero falar. Seus olhos percorreram toda minha extensão enquanto procurava uma desculpa para lhe dar; penso em Ansel olhando para trás e não me encontrando para nos despedirmos. No lugar dele, Gabriel surge, sentando à minha frente, na minha cadeira da escrivaninha.

- Você quer falar sobre isso?

- Isso o quê?

- Nathalia... – ele soltou uma pequena risada, descrente por estar me fazendo de tão tola, quando sabe que sou mais que isso. – Se você não quiser falar, tudo bem.

- Não é... – iniciei e não finalizei. Gabriel levantou uma sobrancelha; eu dificilmente interrompo uma frase quando começo a argumentar. Só acontece quando estou receosa sobre o assunto. – Eu fiz uma amiga. Quero dizer, duas. – faço o número com o dedo, vendo-o se calar para me ouvir pacientemente. – Uma delas é da minha sala e em uma conversa privativa, me disse que ainda gosta do ex, a quem conheço por trabalhar no mesmo local que eu; coincidentemente, ele também gosta dessa minha amiga, mas os dois são, hum, inibidos demais para falar com o outro, devido aos conflitos que tiveram no passado. Só estou avoada, porque ambos me pediram para ajuda-los, mas não sou boa, quero dizer, não tenho experiência em conciliar pessoas. Sou ensinada a fechar negócio para a separação.

Garota S [degustação]Onde histórias criam vida. Descubra agora