Conforme calculado, cheguei à frente do estúdio às 11:13 da manhã. Claro que estava adiantada. Desde que ele almoce como uma pessoa normal ao meio-dia, eu estava praticamente 45 minutos adiantada, o que me dá tempo para me perguntar mais uma vez se quero realmente fazer isso. Quero encontrar Ansel?
Olho para os lados e a rua estava bem mais cheia do que da última vez que vim, na sexta. Talvez fosse o fato de ser sábado e as pessoas saírem cedo para fazerem as compras necessárias para o mês ou semana; reconheci que o bairro é bastante comercial, com lojas e mercados diversos, além de restaurantes e lanchonetes. Morar nos andares acima das lojas, para estudantes era um privilégio, com tanta coisa ao redor.
Balanço a cabeça a fim de parar de me distrair com minhas próprias observações e aproximo minha bolsa mais perto de meu corpo, como se aquilo fosse a razão de me segurar ali na calçada. Imitei a ação que Kendra fez na quinta-feira quando vim aqui pela primeira vez e toquei a campainha. Ouvi a mesma voz perguntar "quem é?" e eu responder somente um "Nathalia". A porta demorou para ser aberta, mas ouvi o 'clank' indicando que ela havia sido destravada. Empurrei a porta pesada de metal e vidro, fechando-a atrás de mim. De costume, olhei para o elevador, mas ele continuava com uma faixa amarela escrito "interditado" em toda sua extensão. Vi um homem negro e alto, forte o bastante para me quebrar em quatro sair por uma das portas que havia em conexão com o hall.
- Nobell pediu para você ir até o primeiro andar. Última porta à direita. - apontou para as escadas. Agradeci em voz baixa, ainda intimidada por seu tamanho e a expressão pouco amigável que dirigia a mim. Em passos apressados, fiz o caminho indicado por ele, tentando ao máximo não olhar para trás para verificar se ele me seguia.
Ao chegar no primeiro andar, ousei dar uma bisbilhotada e vi que ele já não estava mais no hall, provavelmente voltando a seu posto de porteiro e segurança. Suspirei, mais aliviada, e olhei para o corredor que era idêntico ao do quarto andar, onde ocorriam os treinos de dança. Andei em passos lentos e olhei em meu relógio mais uma vez, vendo que marcavam 11:24. Quanto tempo fiquei no lado de fora tentando me decidir se entrava ou não? A última porta à direita do corredor estava aberta porque não havia porta para fechá-la. Uma música da Jennifer Lopes tocava ao fundo; coloquei uma cabeça para espiar e vi Ansel sentado em uma cadeira de couro de rodas imensa atrás de uma imensa mesa de carvalho escuro polido, provavelmente fino demais para o prédio abandonado. Ao lado, uma TV de plasma estava instalada na parede, onde o clipe da Jennifer Lopes tocava alto. Hoje ele não estava com regata ou camiseta; estava vestido normal, com uma pólo azul marinho. Vi seus olhos azuis me encararem quando dei duas batidas no batente da porta. Perdemos cinco segundos nos encarando até Ansel pegar o controle da TV e apontar em direção à ela, colocando o som no mundo.
- Sente. - apontou para a cadeira de couro à sua frente.
- Antes - disse, entrando na sala, mas não o obedecendo. Minha ação o fez voltar a olhar para mim antes de dar atenção por completo em seu trabalho. -, quero saber se você irá demorar, pois tenho compromisso.
- Que tipo de compromisso?
- Do tipo que você não precisa saber.
Vi um sorriso se formar em seus lábios e ele encostar na cadeira, que deve ser nova, pois não soltou ruído algum quando ele se mexeu em cima dela.
- Você não deveria falar assim com seu futuro chefe, "mesquinha".
Não pude evitar demonstrar surpresa com sua afirmação, vendo-o soltar uma risada nasalada, provavelmente se divertindo ao me ver, pela primeira vez, sem saber o que responder. Minha cabeça processava a mensagem: Chefe?
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Garota S [degustação]
ChickLitNathalia Germini nasceu em berço de ouro. Pelo menos eram o que seus amigos de escola diziam. Filha de pais advogados importantes em São Paulo, tudo o que ela sentia era o sufoco das regras que eles impunham para ser a "filha perfeita". Decidida a s...