Capítulo 6

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- Você deve esquecer o peso de seu corpo. – explicou, sério. – O pé esquerdo deve continuar fixo no chão sendo somente a base da pirueta, a força do impulso deve vir da perna direita. – tocou minhas pernas, tirando de meu transe e me fazendo rapidamente empurrá-lo para longe de mim. Segurei o rodo que usei para encerar a sala e arrumei meu cabelo completamente embaraçado. – Você não é—

- Foi sem querer. – o cortei, desesperada para sumir de sua frente. – Não danço.

- Não é o que parece. – sua voz é calma demais. Prefiro vê-lo me debochar a ter sua compreensão. – Você dança bem.

- Não minta. Na verdade, não quero saber. Eu não danço. – repito novamente, dando-lhe as costas por estar muito envergonhada e indo desligar o som da rádio. Assim que o fiz, voltei a passar o rodo no chão com mais força e rapidez.

- Nathalia, dançar não é uma vergonha. – o ouvi dizer. Não o respondi. – Você pode dançar e estudar, sabia?

- Não diga besteiras. – resmunguei. Senti sua mão agarrar meu antebraço e então me virar para encará-lo.

- Dançar não é uma besteira. Tampouco estudar. – sua voz era grave e o hálito de hortelã era uma novidade para mim. – Se você quer dançar, pode vir nas aulas...

- Não. Eu... – não sabia o que falar. Comparecer às aulas como uma aluna é impossível. Não tenho todo o talento; além do mais, as pessoas me odeiam, como iriam querer fazer qualquer trabalho em conjunto comigo? Não preciso de mais preocupações em minha vida. – Eu não danço. – foi o que consegui falar.

- Você parece estar dizendo um mantra para si mesmo. É claro que você não dança, você nunca dançou. Mas o que eu vi agora não é nada do que você está falando. Você dança, sim. E muito bem.

- Eu dancei aqui, mas não significa que eu dance. Eu. Não. Danço! – bati o rodo no chão, enervada por tê-lo me elogiando pelas qualidades erradas. Como pode uma pessoa que nunca se mexeu na vida receber elogios de um profissional, quando há centenas de pessoas loucas para ter sua aprovação?

- Prove.

- O quê? Como posso—

- Se você não sabe dançar, então prove. Quero que faça os mesmos passos que fez agora.

- Isso é ridículo, não irei fazer nenhum passo—

- Então você sabe dançar. – ele sorriu. Me calei, brava e nervosa. Ele estava fazendo isso de propósito.

- Fale o que quiser. – não havia terminado de encerar o piso, mas não o faria mais. – Eu não danço. – terminei nossa discussão, me retirando de perto dele o mais rápido que consegui. Por sorte, ele não me impediu de ir embora, tampouco pareceu se importar de eu estar fazendo hora extra.

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O caminho de volta para a universidade não foi das melhores. Entre odiá-lo por querer me arrastar para o mundo da dança e me sentir envergonhada por ter dançado, nenhuma das duas situações me faz sentir melhor.

- Você dançou. – ouvi Kendra retirar meus tampões de ouvido que comprei no primeiro mês de aula, porque ela tinha costume de ouvir música do celular alto o suficiente para até a vizinha de nossa vizinha conseguir escutar. Desviei meu olhar para si, que agora se sentava em sua cama para poder me enxergar de uma maneira confortável. Não respondi, porque não queria que as palavras "eu dancei" saísse de minha boca, mesmo sua afirmação sendo verdadeira. – Você sabe o quanto Ansel está me amolando para fazê-la dançar?

Garota S [degustação]Onde histórias criam vida. Descubra agora