Capítulo 9

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- Caramba, esse é o recorde. – Ace dizia enquanto eu terminava de beber meu copo d'água na cozinha.

Eram quase duas horas da manhã e todos estavam exaustos da viagem. Como o dia seguinte seria cheio a partir das dez horas para o tour que faremos pela cidade, quase todo mundo decidiu retornar para a comodidade de seus quartos e usufruir das belas camas que o hotel cinco estrelas oferecia para seus hóspedes. Contudo, assim que Ace, Kendra, Bob e Hans entraram no quarto, me flagraram na sala sentada lendo um livro e Ansel no quarto assistindo à TV.

- Nunca vi um casal novato se aborrecer tão rapidamente. – Ace continuou, olhando em minha direção, para Ansel dentro do quarto. – Isso quer dizer que...

- Hans dormirá com Ansel hoje. – falei, olhando para Kendra que abriu a boca para retrucar, mas pensou melhor.

- Pegue suas coisas. – empurrou Hans, que a olhou transtornado.

- E nossa noite?

- Teremos muitas noites em Ibiza, Hans. Agora eu tenho uma amiga, preciso me dedicar à ela. Anda. Enquanto você troca, eu e Nathalia iremos até a loja de conveniências que há ali no térreo para comprar algumas guloseimas para comermos.

Sem dizer nada, apenas obedeci as ordens de Kendra. Eu não gostaria de dividir qualquer lugar com Ansel no momento. Ele acha que está certo, eu estou certa. Fim. Simplesmente não consigo acreditar na infantilidade dele achar que só porque aceitei ficar com ele que farei tudo o que ele quer. O que custa me respeitar um pouco? Por que as coisas sempre devem ser da maneira dele?

- Porque ele sempre mandou em tudo, oras. – Kendra falou, sentada na cama de casal que dividiria comigo essa noite. Acabei me expressando para ela, que foi completamente compreensível com minha posição. Se ouvir sem interromper e prestar atenção no problema para depois dar a opinião é ser amiga, acho que não terei problemas em ser uma boa melhor amiga para ela e Gillian. – Nat, veja só: Ansel é um cara que sempre teve tudo o que quis, não porque ele é um almofadinha, mas porque ele sempre deu um jeito. Ele tem essa maneira cativante que ninguém sabe da onde vem, mas ele é assim. Cativante. E ele cativa mesmo. Seja pela dança ou pelo papo. Desde quando o conheci, você é a primeira pessoa que diz verdades que ele nunca ouviria se não te conhecesse. De verdade, te admirei ao ouvi-lo chamar de idiota.

- Qual o problema dele com a palavra? – a lembrança de sua reação quando o chamei assim pela primeira vez me chamou a atenção. Ninguém fica tão nervoso como ele ao ser chamado de 'idiota'.

- Você não sabe? – Kendra perguntou e tive de lhe mandar o meu melhor olhar para que entendesse que era claro que eu não sei. Se ela não me contar, não saberei de nada sobre ele. – Bem, o pai de Ansel faleceu fazem alguns anos. Deixou algumas dívidas, o que o fez ser um garoto rebelde quando mais jovem. Foi quando ele fez amizade com a turma da zona onde está localizado o estúdio. A mãe de Ansel sempre foi namoradeira e como queria arranjar um novo marido, acabava tratando Ansel como se fosse um estorvo e o chamava de 'idiota'. Não sei bem sobre os detalhes da relação com a mãe dele atualmente, apenas sei que ele não pode ser chamado de 'idiota'. Aparentemente, você é a única pessoa que o chamou assim que não saiu com qualquer parte do corpo roxa ou quebrada.

Fechei meus olhos, pensando no transtorno que lhe causei ao desenterrar memórias indesejáveis. Não gosto de machucar as pessoas inconsciente da dor que estou causando. Olho para a parede que divide o quarto que estou com Kendra, do quarto que Hans e Ansel estão. Continuo firme achando que estou correta quando ele deveria ter me perguntado antes se eu gostaria de participar da apresentação de final de ano, contudo, também sinto o peso de tê-lo feito relembrar os momentos de aflição que passou com sua mãe. Olhei para Kendra, que me encarava com o olhar "você sabe o que fazer, não sabe?"

Garota S [degustação]Onde histórias criam vida. Descubra agora