No dia seguinte, acordei mais cedo para ir à sala de aula ler o material uma última vez, mais com a intenção de me distrair, do que de estudar. Noite passada não dormi cem por cento, principalmente depois que Kendra voltou e tentou falar comigo sobre algo que não consegui entender devido o excesso do choro que saía de dentro de mim. As pessoas costumam dizer que quando temos uma péssima noite, a tendência é que o dia seguinte seja pior. Não posso me dar ao luxo de pertencer a este grupo, porque tenho a prova de avaliação para realizar. Não posso perder meu quarto lugar senão para uma das três colocações acima de mim; assim, acordei três horas mais cedo para dar tempo de, caso haja qualquer resquício de dor da noite passada, acabar com todo o vestígio até o horário da prova.
A prova estava mais fácil do que imaginava. Dizem que a mente carregada de preocupações faz com que o dever tenha menos espaço na cabeça, contudo, as questões me pareciam muito mais fáceis de serem respondidas do que jamais esteve. Ao contrário das provas anteriores, terminei com duas horas de antecedência e, mais feliz, me dirigi em direção aos dormitórios para planejar meu domingo de folga para repassar o conteúdo dos três últimos dias de aula, além de praticar com mais afinco, meus argumentos para a aula prática da próxima semana; fazer dentro do transporte público me fez perceber que as pessoas têm uma opinião diferente de mim, como se fosse alguém com uma sanidade falha falando sozinha.
- Nathalia. – Gillian sempre foi conhecida por possuir uma presença única nos lugares. Mesmo com a voz baixa, qualquer um facilmente conseguia ouvi-la. Olhei para trás, onde ela, que havia terminado a prova antes de mim, estava parada com sua pasta de estudos em mãos. Parei de caminhar, esperando ela se aproximar e, quando o feliz, olhou para os lados, sem saber exatamente o que fazer em seguida. – O que você achou?
- Estranhei como achei fácil responder.
- Foi o que imaginei. – ela concordou. – Talvez tenham modificado o método de avaliação para que os outros alunos tenham mais mobilidade entre as salas. Professor Ollenz havia mencionado que a reitoria gostou quando Una Parker ingressou em nossa sala. Disse que sentiu que os alunos das salas abaixo se sentiram mais motivados a estudar, elevando ainda mais o método de ensino dos professores com relação às outras universidades, causando quase um abismo entre as comparações.
- Pode ser. – concordo facilmente em um linguajar moderno demais ao que estamos acostumadas; percebi logo que as palavras saíram de minha boca. Gillian arregalou os olhos por eu ter usado um termo geralmente dito pelas pessoas para demonstrar desimportância no assunto. Limpo minha garganta, sem graça: – Talvez tenham facilitado a prova para darem mais uma razão de motivação para os alunos.
O silêncio voltou a reinar entre nós duas. Vi Gillian colocar os cabelos louros para trás da orelha e me encarar, como se eu fosse a responsável por dar o próximo passo em nosso diálogo. Limpei minha garganta e olhei para os lados, vendo algumas pessoas encararem a nós duas com surpresa, mesmo já não sendo um milagre trocarmos palavras em público.
- Você tem planos para o almoço? – pergunto, vendo sua expressão suavizar.
- Não. Não costumo estudar aos domingos. – abre um pequeno sorriso, me deixando sem graça. A melhor aluna do terceiro ano de Harvard não estuda aos domingos, enquanto eu pratico repetidamente em todas as minhas horas livres. Surpreendentemente, seu comentário foi bem melhor aceito por mim do que o rápido estresse que tive com meu pai ao telefone na noite passada.
Acompanhei Gillian até seu dormitório e vi que sua colega de quarto era como Kendra, só que mais... Caseira. Gillian havia me dito em uma das nossas rápidas conversas que sua roomate era da sala H e não gostava de sair do quarto nem para comer. Ela quem tinha de levar os alimentos para a garota, se quisesse paz durante as horas de estudo. Me senti um pouco melhor por ter Kendra como colega de quarto, mesmo tendo de cuidar dela quando volta bêbada das festas. Ela dificilmente ficava mais de uma hora livre – enquanto acordada – dentro do quarto, por isso, tenho liberdade de fazer o que eu quiser, pois o espaço todo é meu.
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Garota S [degustação]
Literatura FemininaNathalia Germini nasceu em berço de ouro. Pelo menos eram o que seus amigos de escola diziam. Filha de pais advogados importantes em São Paulo, tudo o que ela sentia era o sufoco das regras que eles impunham para ser a "filha perfeita". Decidida a s...