8 - ENFIM ACONTECEU

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Acordo no dia seguinte sem ter certeza que o dia de ontem foi real. Levanto da cama e entro de baixo da água gelada do chuveiro, refrescando as minhas ideias, tentando acalmar a minha ansiedade. Mas não é o suficiente, então coloco uma roupa qualquer, conecto meus fones ao meu MP3 e saio para correr na floresta.

Quero poder falar com o James, mas não sei o que dizer, o que eu fiz ontem não tem explicação. Espera, aquele beijo tem explicação. No dia em que revi o James, senti algo florescer dentro de mim, a princípio achei ser só a nossa amizade de infância crescendo de novo. Mas eu sabia que tinha algo a mais, pois o meu coração acelerava em cada momento em que estava com ele, sentia uma coisa estranha, uma vontade de sempre está com ele.

Admito que me apaixonei pelo James, porém tentei esconder isso de mim mesmo, porque não queria estragar a nossa amizade, nem confundir as coisas. Não chegamos à conversa sobre o assunto, mas ele deve ser hetero, não tenho chance com ele. Mas ontem, não deu, juro que não deu para controlar, a vontade do meu coração prevaleceu a vontade da minha razão, pelo menos por alguns segundos enquanto eu provava dos seus lábios. Agora não posso mais ficar longe dele, mesmo que isso signifique ser apenas o seu amigo.

Depois da corrida volto para casa, tomo mais um banho e vou ler um livro para distrair a mente. No meio da tarde, pego o meu carro e dirijo até a casa do James. Eu fico ali parado na frente da sua casa por alguns minutos, criando coragem para descer do carro e encara-lo, não demora tanto, respiro fundo e desço do carro. Caminho até a porta e bato duas vezes, então a Sra. Cameron abre a porta.

— Ah é você — ela diz com desgosto. — Eu fiquei sabendo o que você fez com o meu filho ontem — meu corpo gela nesse momento, James contou que eu o beijei, ele deve está com raiva de mim assim como a sua mãe está. — Como você pode levar o James a um cemitério? — sua voz é um pouco agressiva, mas fico aliviado por ela não saber sobre o beijo, pois se ela soubesse, estaria sendo massacrado nesse instante como achei que seria.

— Ahh... Eu... — tento encontrar uma resposta, mas ela continua.

— Você tem noção do quanto isso é perigoso pra ele? Não. É evidente que não. Não sei se você lembra, mas o James é cego! Você não pode pegar ele e arrastar para onde quiser como...

— Para mãe — James a interrompe, descendo as escadas. — Fui eu que pedi pro Joe me levar ao cemitério ontem. Eu sou cego, mas ainda sou capaz de tomar decisões por conta própria — ele termina próximo à porta, sua voz é firme, mas sem passar agressividade.

— Desculpa James, mas o Joe tem que saber que você não é mais o mesmo menino de antes. Ele tem que entender que agora você tem dificuldades, que...

— Mãe para, por favor. Eu que decidi ir para o cemitério, assunto encerrado. Agora você pode me deixar falar com o Joe?

Ela não fala nada, só me fuzila com os olhos e sai em direção à cozinha.

— Oi — a voz do James agora está diferente, mais suave.

— Oi — respondo envergonhado.

— Desculpa pela minha mãe.

— Não, tudo bem, a minha mãe também reclamou por eu não ter avisado e tal.

— A gente pode conversar em outro lugar?

— Eu vim com o meu carro, é só você escolher o lugar.

— Ok, mas hoje você decide para onde ir. Vou avisar a minha mãe e já te encontro no carro.




Dirijo até um morro ali perto, mais ao norte, ele é praticamente um mirante da cidade. Mas não foi por isso que eu escolhi esse lugar e sim, porque e tranquilo e silencioso, as pessoas já não veem aqui há um bom tempo.

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