Chego mais perto da escrivaninha e observo os incríveis desenhos em cima dela. São desenhos de objetos, pessoas e até algumas paisagens. Eles são bonitos, com certeza feitos por alguém com muito talento.
— Joe está tudo bem? — James pergunta, preocupado com o silêncio repentino.
— Ah Sim, é que eu fiquei admirado com os desenhos que estão em cima da escrivaninha.
— E o que você achou?
— Eles são encantadores, tem um traço diferente, feitos por um verdadeiro artista.
— A maioria das pessoas fala isso, sempre acho que é só pra me bajular, mas em você eu acredito.
— Foi você que fez esses desenhos? — pergunto sem acreditar.
— Foi. Eu já desenhava antes de perder a visão, isso facilita. Depois eu aprendi algumas técnicas e continuei desenhando mesmo assim. Claro que não é a mesma coisa, não tem tantos detalhes como eu gostaria.
— Você é muito bom.
— Obrigado — ele diz um pouco envergonhado.
— Você gosta de ler? — pergunto espontaneamente ao observar melhor as suas prateleiras, então percebo a besteira que perguntei e logo me corrijo. — Me desculpe eu não...
— Está tudo bem — ele levanta e segura a minha mão, fazendo meu coração voltar a pular. — Eu amo ler, aprendi a ler em braille e ouço audiobook também então...
Volto a observar uma das prateleiras e encontro uma das minhas histórias favoritas.
— Você tem Tristão e Isolda — comento, soltando a sua mão da minha e pegando o exemplar do livro. — Eu sempre quis ler essa edição — digo feliz ao folhear as páginas.
É uma linda edição, a capa tem o desenho do Tristão pensando na Isolda, que tem o seu rosto desenhado bem fraquinho no fundo da capa, o texto tem uma boa diagramação e durante a história tem várias ilustrações coloridas.
— Eu comprei esse exemplar quando ainda enxergava, mas não tive tempo suficiente para ler. Mas o que você acha de ler para mim? — ele pergunta.
— Vai ser muito bom, eu estou louco para ler esse livro — fico entusiasmado.
Sentamos na cama, um de frente para o outro, e começo a ler o livro em voz alta, explicando todas as ilustrações que aparecem na medida em que avanço a leitura. Ele fica ali, intacto, ouvindo a minha voz com muita atenção, dando algumas risadas de vez em quando. Estou adorando esse momento, a história, a companhia. Quando estamos praticamente na metade do livro o meu celular toca.
— Alô — atendo.
— Onde você está filho? Já escureceu e você ainda não chegou, nem me ligou — minha mãe responde do outro lado da linha.
— Desculpa mãe, é que eu reencontrei o James — digo tentando conter a alegria na voz.
— O James Cameron?
— Ele mesmo.
— E como ele está?
— Mãe eu falo com você quando chegar em casa, já estou indo. Tchau — desligo o celular. — Ou eu desligava, ou ela iria me perguntar todo o seu histórico durante esse tempo.
— Eu gosto da sua mãe. Ela está muito irritada com a gente? — James pergunta.
— Não, ela é de boa, mas é melhor não abusar da sorte — a minha voz sai desanimada. — Podemos continuar a história outro dia?
— Claro, você não pode me deixar sem saber o restante da história.
— Então eu já vou... — digo me levantando da cama.
— Acompanho você até a porta — ele se oferece.
Ele anda seguro de cada lugar que pisa. Chegando ao hall ele abre a porta para mim.
— Foi muito bom encontrar você novamente — ele diz passando a mão na nuca.
— O sentimento é recíproco.
— Posso te pedir uma coisa?
— Sim.
— Você pode ser a minha "bengala" amanhã na escola? — Nós dois rimos.
— Com muito prazer, amanhã passo aqui para buscar você. Então... Tchau.
— Até amanhã.
Viro as minhas costas e caminho de volta para casa, feliz como não me sentia há muito tempo.
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Além dos seus olhos
Roman d'amourJoe não vê o seu melhor amigo James a sete anos. E quando eles se reencontram, Joe descobri que James ficou cego. Os dois amigos se reaproximam e descobrem o amor de um pelo outro. Mas esse amor será forte o suficiente para enfrentar todas as dificu...