13 - CORRIDA

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Abraço a caixa com meu braço direito e saio correndo de volta pro carro. Chegando nele percebo melhor o estrago da batida, não foi muito grande. Entro no carro, rodo a chave e ele funciona. Dou ré sem dificuldade e dirijo em direção ao aeroporto mais próximo.

Vejo a hora no relógio, segundo as minhas contas eu tenho menos de uma hora para chegar ao aeroporto. A estrada a princípio está livre, o que facilita a minha locomoção. Aumento a velocidade e ligo o rádio na tentativa de me acalmar um pouco, mas não sinto muito efeito.

Me aproximando do aeroporto, o trânsito fica mais congestionado, completamente parado em alguns momentos. Olho o relógio mais uma vez, falta uns trinta minutos, ou eu vou andando, ou não vou conseguir chegar a tempo.

Com sorte, consigo colocar o carro no acostamento. Deixo a caixa no carro para conseguir correr com mais facilidade, fecho a porta de qualquer jeito e começo a correr freneticamente, como eu nunca corri antes.

Alcanço o aeroporto em dez minutos, extremamente cansado, ofegando, mas pelo James eu aguento mais. Assim que entro no aeroporto, vejo a tabela de embarque e desembarque em uma tela grande. O único voo com destino a Londres sai em quinze minutos, o portão de embarque é o 14. Já estive aqui uma vez e sei onde fica esse portão, é pra lá que eu vou.

Ignoro o conforto da escada rolante e a subo como uma escada normal. Corro mais um bocado entre as lojas e companhias aéreas. As pessoas me olham correndo e deve pensar "Quem é esse garoto de blusa vermelha, suado e todo arranhado? Por que ele esta correndo assim? Ele louco?", mal sabem eles que estou louco de amor.

Para ter acesso aos portões de embarque todos devem apresentar as passagens e passar pelo detector de metais, mas isso demora um tempo, uma coisa que não tenho no momento, assim como a passagem. Só me resta uma alternativa.

Respiro fundo e saio correndo o mais rápido que ainda consigo, empurrando todos que aparecem na minha frente. Consigo passar pelo detector, mas um guarda corre logo atrás de mim. Outro guarda aparece na minha frente pedindo para eu parar, não penso, simplesmente escorrego por debaixo das pernas dele como em um filme de ação, eu mesmo fico impressionado com o que acabei de fazer, mas não paro de correr.

Já consigo reconhecer o James de costas, na fila do embarque.

— JAMES! — berro sem parar de correr. — JAMES!

Ele se vira em minha direção, reconhecendo a minha voz. Eu me jogo em cima dele.

— Joe? — ele me abraça rindo.

É tão bom poder senti o seu corpo novamente, o perfume da sua nuca e os seus braços em volta da minha cintura. Não tenho certeza, mas ele perece feliz por me ter em seus braços outra vez. Mas quando me afasto para ver o seu rosto, ele tenta disfarçar com seriedade. Mesmo assim faço o que vim fazer.

— James eu atravessei uma cidade no carro batido da minha mãe, corri quilômetros até aqui por causa do trânsito, desvie de dois guardas que vão aparecer aqui a qualquer momento. Tudo isso pra te dizer que eu te amo mais do que eu achei que poderia amar alguém. Eu vim pra dizer que você não pode me deixar aqui de novo, porque dessa vez eu não sei se vou aguentar.

Seus olhos enchem de lágrimas, mas ele se esforça para que elas não escorram.

— Joe, aceite o fato de que eu não te amo tá bom? — ele não me convence.

— Para de menti pra mim James. Seus braços ainda estão envolta da minha cintura, seus olhos estão emocionados, e a Diana me contou sobre o beijo que ela roubou de você; você falou que a única boca que podia tocar a sua era a minha.

— É mentira, não amo você — ele fala com a voz embargada, deixando as lágrimas fugirem dos seus olhos.

Os guardas do aeroporto se aproximam de mim, mas a Sra. Cameron faz um sinal com a mão para eles esperarem.

— Por que você está fazendo isso comigo? Com a gente?

— Eu não mereço você Joe — ele solta seus braços da minha cintura, dando dois passos para trás. — Por causa da minha incompetência, por causa desses olhos que não enxergam — com raiva, ele aponta dois dedos na direção dos seus olhos. — Por causa disso você quase morreu, eu quase perdi você para sempre.

— Nada daquilo foi culpa sua James.

— Será que você não entende Joe? EU SOU CEGO! — ele grita alto, sem vergonha de demonstra a sua dor.

— FODA-SE — grito, aproximando com as minhas mãos, a sua cabeça da minha; encostando as nossas testas uma na outra. — Você é muito além de dois olhos James! Eu não me apaixonei por eles, eu me apaixonei pelo que você é, pelo coração que bate aqui — coloco a mão no seu peito esquerdo. — E se acontecer alguma coisa comigo amanhã e eu ficar cego também? Ou paraplégico? Seja o que for. Você vai deixa de me amar? Acho que não, porque estamos presos em um corpo, mas não somos um corpo, somos mais. Eu sou um guia, um narrador, um aventureiro. Você é um cinéfilo, um artista, um romântico. Nós somos tudo isso e muito mais. Portanto, eu não permito que você me deixe outra vez, só por um detalhe.

— Mas, sem a visão eu não consigo te proteger Joe.

— E a vez que você brigou na escola me defendendo do Kevin?

— Isso não foi o bastante na sexta-feira — ele se refere ao dia do tiro.

— E porque só você pode me proteger? Eu só estava retribuindo.

— As situações foram bem diferentes — ele debate.

— E se eu falar que proteger você foi uma autodefesa? Porque, sem você tudo é mais triste, difícil.

— E como você acha que eu me sentiria se perdesse você?

— Mas você não me perdeu, eu estou aqui. Então não se apegue a um detalhe justificando me defender, porque eu só vou está seguro sabendo que tenho você ao meu lado. O que aconteceu foi uma coisa atípica e por mais que outros desafios possam aparecer, nenhum deles pode ser maior que o nosso amor.

— Você, sempre com a razão — ele sorri, se dando por vencido. — Me desculpa por tudo que te fiz passa.

— Só com uma condição — digo, sorrindo.

Ele puxa meu corpo pra mais perto do dele, o envolvendo em seus braços outra vez, e me beija. Um beijo lento, com desejo, saudade. Algumas pessoas ao nosso redor aplaudem e só então lembro que ainda estamos no aeroporto.

— Senhor? — o guarda do aeroporto chama a minha atenção. — O senhor precisa se retirar da área de embarque agora mesmo.

— Você vem comigo? — pergunto ao James.

— Pra qualquer lugar — ele sorri, pegando na minha mão.

— Esperem! — A Sra. Cameron pedi, se aproximando de nós, secando as lágrimas com a mão. — Eu fui muito injusta com você Joe e quero humildemente, pedir mil desculpas. Tudo que você fez pelo meu filho foi uma prova de amor incontestável, que eu nunca vou consegui retribuir.

— Vamos recomeçar — estendo minha mão pra ela na melhor das intenções, e ela aperta, selando um acordo de paz.

Do lado de fora do aeroporto a Sra. Cameron pega um táxi para voltar para casa, e peço para ela avisar a minha mãe que está tudo bem e que vou demora pra chegar em casa. Eu peço para o James vim comigo a um lugar, para que possamos ficar sozinhos.

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