10 - ACABOU

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Momentos inesquecíveis marcaram minha história e em todos eles James estava lá, do meu lado, ou no meu coração.

Nunca vou esquecer o seu cheiro amadeirado, o seu toque delicado, seu sorriso sedutor.

Eu nunca serei capaz de esquecer os seus lindos olhos azuis, que apesar de não enxergarem a luz, eram a luz que me conduzia, que me mantinha em pé.

Sinto que posso partir agora, ao mesmo tempo em que não estou pronto para deixá-lo, não posso e não vou fazer isso com ele.




Meus olhos vão se abrindo aos poucos e a figura da minha mãe vai ficando nítida.

— Mãe? Cadê o James? — pergunto, tentando me levantar da cama.

— Ei! Vai com calma, você saiu de uma cirurgia faz pouco tempo — ela me deita novamente. — O James está bem, graças a você.

— O que aconteceu? — pergunto, querendo obter o máximo de detalhes.

— O Kevin disse à polícia que era secretamente apaixonado por você — fico surpreso com essa informação. — Ele não suportava mais ver você e o James juntos. Então parece que ele encheu a cara, pegou escondido a arma do pai, descobriu que vocês foram ao cinema no cemitério e foi até lá. Pelo que fiquei sabendo o objetivo dele era se vingar do James por alguma briga que eles tiveram na escola. Ele também achou que matando o James ele poderia ter alguma chance com você. Mas depois de atira ele entrou em estado de choque, algumas pessoas que estavam lá o seguraram até polícia chegar.

— Meu Deus!

— Eu sei. Mas fica tranquilo que ele não vai chega perto de vocês. Ele vai aguardar o julgamento preso, e sendo condenado ele vai ser transferido pra um presídio bem longe daqui — ela parece aliviada com a possibilidade.

— E o que aconteceu comigo?

— O tiro quase acertou o seu coração — ela se emociona. — Mas por sorte o tiro pegou um pouco mais acima e os médicos conseguiram tirar a bala sem nenhum problema — Sinto um curativo nas minhas costas e observo rapidamente outro curativo um pouco acima do meu peito, indicando que a bala quase atravessou o meu corpo. — Agora você só precisa se recuperar — ela sorri, nitidamente cansada.

— E onde o James está? Eu quero vê ele.

— Ele ficou muito abalado com tudo isso. Passou a noite toda aqui no hospital sem dormir, então mandei ele ir agora a tarde descansa um pouco em casa e volta depois.

— Fez bem.

Posso imaginar o pânico dele naquela situação, sem saber o que fazer, ou sequer entender direito o que estava acontecendo. Ele deve está mentalmente cansado.

— Você também precisa descansar querido, vou chamar a enfermeira pra ela te dar algo pra dormi mais um pouco.



Acordo com o James em pé ao lado da minha cama.

— Oi — digo feliz por vê-lo, por verificar com meus próprios olhos que ele está bem.

— Oi Joe — a voz dele está diferente, ele está diferente. A impressão que tenho é que ele está frio e distante.

— Como você está com tudo que aconteceu? — pergunto, tentando decifra sua postura rígida.

— Melhor que você com certeza — ele responde seco, sem nenhum sorriso. Esse não é o James que eu conheço.

— Você está estranho James. Você não é assim. O que está acontecendo?

— Bem, você salvou a minha vida Joe, e em troca, eu serei sincero com você, é o mínimo que posso fazer para retribuir. Eu não consigo mentir mais. Joe eu não te amo, eu nunca te amei de verdade — sua voz sai neutra. — Eu só estava brincando com você, tirando uma com a sua cara. Eu nunca te amei e nunca irei te amar — isso dói mais que qualquer tiro que eu poderia levar.

— Por que você está fazendo isso comigo James? — pergunto, enquanto as primeiras lágrimas escorrem pelo meu rosto.

— Desculpa Joe, isso não é pessoal. Eu queria me divertir um pouco nessa cidade sem graça e vi você como um jogo interessante de se jogar. Eu só passei aqui pra deixar claro que a gente não tem mais nada. Agora eu estou em um relacionamento de verdade, com alguém que eu amo de verdade e espero que você não me atrapalhe. Eu espero de coração que você nunca mais apareça na minha frente. Acabou. — a sua frieza estraçalha o meu coração.

Ele se aproxima de mim e encosta seus lábios lentamente na minha testa. Ele se distancia novamente, abre sua bengala dobrável e sai do quarto o mais rápido que consegue, sem olhar pra trás.

Nada disso faz sentido, nada disso pode ser real. Fico sem reação vendo ele me abandonar desse jeito. Não me conformo com essas palavras. Ignoro todos os parelhos conectados a mim, a dor no ombro esquerdo e me levanto da cama.

— JAMES — grito o nome dele. Tonto vou cambaleando até a porta — JAMES! — Clamo ainda mais forte, mas ele não está mais ali, ele se foi e a dor desse pesadelo cai sobre mim, me destruindo de dentro pra fora enquanto minha mãe e as enfermeiras correm para me acudir.

Além dos seus olhosOnde histórias criam vida. Descubra agora