14 - A CAIXA

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Estaciono o carro batido da minha mãe no acostamento da floresta, pego a caixa sem dizer nada ao James, e o ajudo a descer.

Caminhamos pela floresta escura, iluminada somente pela lua, as estrelas e uma lanterna fraca, até chegar ao "nosso carvalho" no topo da colina ao oeste. James reconhece o lugar só pelo cheiro, ele senta no chão, apoiando as costas na árvore e eu me sento entre suas pernas, deitando minha cabeça no seu peito, deixando seus braços me aquecerem.

— É muito bom está aqui com você de novo — comento, olhando as estrelas no horizonte.

— É verdade — ele concorda, me abraçando ainda mais forte. — Mas sabe, acho que além das minhas desculpas, eu também preciso explicar melhor porque agi de forma tão fria com você. Naquele dia eu já tinha ficado mal, me sentindo culpado pela briga entre você e a minha mãe, depois isso piorou quando acertei a minha bengala na mão daquele idiota no cemitério, então fiquei destroçado quando aquele tiro atingiu você. E nada tirava da cabeça que a culpa de tudo aquilo era por eu ser cego.

— Mas, você sabe que não foi.

— Agora eu entendo melhor, mas você não tem noção do quão horrível foi aquele momento pra mim. Ouvir todas aquelas pessoas gritando e correndo. Sentir o seu corpo sobre o meu sem que você se mexesse. Chama por você e não ter resposta. Sentir o cheiro de sangue em você e não saber exatamente o que estava acontecendo — A voz dele embarga com a lembrança. — Gritar por ajuda e ser ignorado. Não conseguir fazer nada para te ajudar. Nunca me senti tão impotente.

— Sinto muito que você tenha passado por isso — comento baixinho, acariciando seu braço.

— No hospital — ele continua. — Quando o médico informou que você estava fora de perigo, mas que tinha sido por pouco e logo depois fiquei sabendo que o alvo do Kevin era eu. Cheguei à conclusão de que se eu não fosse cego, eu teria visto ele e talvez tudo tivesse sido diferente e você não estaria naquele estado.

— Eu teria te defendido do mesmo jeito, então tudo teria sido igual ao que foi.

— Talvez. Mas aquela sensação de impotência, de culpa, estava muito forte dentro de mim. Eu estava sentindo ódio de mim mesmo. Quando fui pra casa descansar um pouco a pedido da sua mãe, recebi um convite por email de uma escola de artes em Londres que tinha visto alguns dos meus desenhos e tinha gostado. Foi aí que percebi que aquilo podia ser um sinal para eu sair da sua vida de uma vez por todas, e assim deixa você seguro outra vez. Sabia que eu não podia simplesmente sumir, você precisaria me odiar para não querer vir atrás de mim. Então me concentrei em toda raiva que estava sentido de mim, e pensando apenas na sua segurança e bem estar, fiz toda aquela cena no hospital. Não foi nada fácil falar aquelas coisas. Confesso que além da raiva que estava de mim mesmo, o fato de não ter enxergado você naquele momento, me ajudou a não desistir.

— Você estava tentando me proteger, mas não sabe o quanto me machucou. As suas palavras me doeram mais do que o tiro que levei. Fiquei maluco sem saber o porquê de você fazer aquilo, sem conseguir aceitar aquela justificativa. Quando recebi alta, fugi da minha mãe e fui até a escola na esperança de esclarecer tudo com você. Mas cheguei lá no exato instante que a Diana beijava você. Sai correndo de baixo da chuva, acreditando nas palavras que você tinha me dito. Mais tarde, quando tinha voltado pra casa, a Diana me explicou o que realmente tinha acontecido. Eu fui até a sua casa pra falar com você e o seu pai me contou sobre a viagem e eu fiquei transtornado, achando que tinha perdido você pra sempre.

— Me desculpa mais uma vez, por ter feito você passar por todo esse sofrimento. Eu só estava tentando fazer o que achava ser o melhor pra você — ele beija minha bochecha.

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