V. Deixe A Onda Me Levar

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Eu chorei como se toda a tristeza que eu sentia fosse sair junto com as minhas lágrimas. Eu desabei. Estivera tentando me manter forte durante muito tempo, mas finalmente, agora eu poderia chorar tudo o que vinha guardando a tanto tempo.
- Malu, se ela não quer nada com você, então siga em frente. Eu sei que é difícil, mas é necessário. Você teve uma vida antes dela, e precisa continuar tendo uma depois. - Nicolas dizia enquanto me abraçava. Era sempre isso que me diziam: você precisa seguir em frente. A realidade é que eu não conseguia. E nunca por falta de tentativa, mas nenhuma das outras eram como ela. Caroline tinha algo inexplicavelmente apaixonante.

Haviam se passado dois dias desde minha crise com a Caroline, e eu não a vi mais. Ela não apareceu na escola, e não havia me mandado mensagens, e também não havia me procurado. Eu iria à praia ao invés de ir para a aula. Não que estivesse um tempo bom, ultimamente o tempo tem andado chuvoso, mas era um bom lugar para pensar. Saí mais cedo aquele dia. A chuva havia cessado, mas o frio era cortante, o vento parecia que iria derrubar as árvores a qualquer momento. Havia deixado o celular no modo silencioso, mas quando fui olhar as horas antes de sair - eram 7:28 - um número estava me ligando.
- Oi - atendi rapidamente, e não sei ao certo o porquê.
- Oi, é a Caroline - a voz dela parecia um pouco triste, desanimada. Não importava quantas crises eu tivesse com Caroline, eu ainda amava a voz dela - você vai para a aula hoje?
- Na verdade não.
- Ah, aconteceu alguma coisa? Você nunca falta aula. - disse Caroline.
- Não, só vou à praia. - Eu não sabia se o interesse dela era verdadeiro, e de qualquer forma, eu queria encurtar o assunto para não acabar falando mais do que devia, como havia feito alguns dias atrás.
- Posso ir com você? - Caroline estava sussurrando, e eu fiquei tentada a perguntar qual era o motivo daquilo tudo.
- Se você quiser, eu estou saindo de casa agora. - Talvez fosse bom ficar em algum lugar sozinha com a Caroline, e eu seria idiota se perdesse a chance de poder conversar com ela, sem ninguém por perto.
- Tudo bem, espere um pouco, estou perto da sua casa. - Ela disse, e eu desliguei.
Saí para fora e fiquei encolhida no chão úmido. Fazia muito frio, e parecia que todo o meu corpo iria congelar - o fato de eu ser muito magra sempre colaborava para que eu sentisse mais frio que uma pessoa normal. A Caroline apareceu na frente da minha casa exatos cinco minutos depois. Ela estava particularmente bonita, ainda mais do que nos outros dias. Eu me levantei e depois de sair tranquei o portão.
- Oi - ela me cumprimentou com um beijo no rosto.
- Oi - retribui com um sorriso. Como morávamos no litoral, parecia que qualquer rua dava em um local da praia, e a entrada mais próxima da minha casa ficava há dez minutos. Caroline caminhou boa parte do tempo ao meu lado, em silêncio. Vez ou outra comentava o quanto estava fazendo frio. Quando chegamos, ajudei Caroline a andar nas pedras até chegarmos em baixo de uma casa de veraneio. As ondas batiam levemente nas pedras. O mar estava agitado - acho que tanto quanto eu estava - e estava num tom de cinza. A minha surpresa foi quando Caroline encostou a cabeça em meu ombro. Eu a envolvi com os braços, e ficamos ali, em silêncio, ouvindo o barulho do mar. Vez ou outra me corria um pensamento, junto com a vontade, de pular do alto das pedras, e deixar que a onda me levasse.
- Você sumiu. - Eu disse, olhando para ela.
- Eu sei, desculpa - ela parecia triste, e seus olhos estavam se enchendo de lágrimas. - É que aconteceu muita coisa lá em casa. Mas eu não quero falar sobre isso.
Eu não disse mais nada. Os cachos do cabelo dela estavam esvoaçantes. Ela ergueu o rosto em minha direção, e repousou uma das mãos em meu rosto. Eu não tive outra reação a não ser puxá-la para mais perto de mim. Foi então que sua boca, tocou a minha. Intenso, profundo. Como havia sido toda a nossa relação até então. Mil lembranças estavam passando por minha mente. Então ela se afastou de repente.
- Não, eu não posso. - Ela sussurava, e eu conseguia ver a culpa em seus olhos.
- Caroline... - Eu não sabia o que dizer, e era assim que eu costumava ficar quando sentia raiva de alguma coisa - Qual o seu problema?!
- O meu problema é que meus pais vão me mandar pra um internato no ano que vem! E falta um mês pra acabarem as aulas. Um mês! É tudo o que eu tenho pra ficar com você, Maria Luiza! Eu não quero ter que sofrer de novo por te deixar. Eu já te deixei uma vez e não quero passar por isso de novo! - Ela chorava. E eu engoli aquilo em seco. Eu estava perdendo ela de novo. Eu me tornaria apenas uma lembrança para ela. Acho que talvez, por mais que você insista em algo, algumas coisas simplesmente não são feitas para darem certo. Era o caso meu e da Caroline. Vai doer, eu sei que vai. Quando ela falar de outras pessoas que conheceu, e eu fingir que não me importo, e aceitar meu próprio silêncio descendo seco, e parando em meu peito como uma pedra pesada. Dói quando penso que o futuro dela não é comigo, e que não há mais ''nós'', é só ela, e só eu. E talvez não fomos feitas para dar certo, ela foi a pessoa certa mas, na hora errada. Vai sempre ter aquela ponta de saudade quando a distância estiver entre nós, vai ser triste, melancólico.
Vai doer, e eu não sei por quanto tempo. Talvez essa dor que vai ficar seja a única lembrança de que foi real, mas a realidade também é um sonho, e nós tivemos que acordar dele. Eu abracei a Caroline, como se fosse pela última vez. Dali em diante o nosso futuro seria incerto. A única certeza que eu conseguia ter no momento, era que eu jamais a esqueceria.
- Mas fique, Caroline. Mesmo que a despedida seja dolorosa. Fique. Por uma semana, ou um mês. Não importa. Só não me deixe antes do tempo. - Eu queria dizer mais, mas não havia mais palavras em meu vocabulário que pudesse dizer a ela o que eu sentia. Gostaria de ser poética o tempo todo, para que as palavras bonitas pudessem disfarçar a dor que eu sentia. Mas a vida, ela meus caros, é real. E não há nada de poético quando se fala de perca. Eu estava perdendo o amor da minha vida, sem nem ao menos ter a chance de fazer algo para que ela pudesse ficar.
- Por uma semana, ou um mês. Por quanto tempo ainda tivermos. - Ela disse.
Eu não sabia quanto tempo teria com Caroline, mas queria que aquele momento ficasse para sempre guardado dentro de mim. Só ela, eu, e o barulho das ondas do mar.

Algo Sobre Ela, e EuOnde histórias criam vida. Descubra agora