IX. Se Despedir e Recomeçar

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A segunda-feira se passara monótona, melancólica e triste. Estava tão perto. Era a vida empurrando Maria Luiza para frente enquanto a vontade da garota era de ficar lá atrás, de concertar tudo e reviver sua história com Caroline de novo.

A terça-feira amanheceu ensolarada. Maria Luiza sentia um aperto no peito, uma angústia, mas ela sabia que chegara a hora. Ela faria o melhor enquanto Caroline estivesse distante. O melhor em tudo. Para que quando Caroline pudesse voltar, sua vida estivesse ajeitada, e assim elas poderiam viver felizes. Teria que recomeçar, mas sem nunca esquecer de Caroline.
- Você vai se despedir de Caroline? - perguntou Nicolas.
Maria Luiza apenas assentiu com a cabeça. Havia sido intenso, e profundo. Mas chegara a hora de acabar, e com isso, trazendo transtornos para a vida das duas. Teoria do caos, efeito borboleta ou destino. Não se sabe ao certo mas talvez não fosse possível ficarem juntas - ao menos, não naquele momento. Maria Luiza não sentia a mínima vontade de estar na companhia de quem fosse. Nicolas deixou a garota sozinha, e era tudo o que ela queria. Eram 15hrs52, ela se arrumou e pegou um envelope branco que estivera em sua escrivaninha nos últimos dias. Maria Luiza saiu para fora de casa sem dar explicações de para onde iria. Por um momento durante o caminho ela teve a certeza de que mais cedo ou mais tarde, ela iria se encontrar com Caroline. Então ela se lembrou de tudo o que haviam vivido até ali. Ela conheceu Caroline num dia de sol, quando estava indo com Nicolas para um treino de futebol. Nesse caminho eles encontraram uma prima de Maria Luiza, e com ela estava a garota que viria a ser o grande amor da vida de Maria Luiza. Da parte dela havia sido amor desde aquele momento, mas teve que conquistar Caroline aos poucos. Um dia quente em Outubro, mais de um ano depois de terem se visto pela primeira vez, Caroline a beijou. E uma semana depois Maria Luiza a pediu em namoro. A cada momento que passavam juntas, cada risada, cada beijo, Maria Luiza tinha mais certeza de que queria passar a sua vida inteira ao lado de Caroline. Até que um dia a mãe de Caroline pôs um ponto final na história delas. E então, tudo mudou. Desde então, o amor de Maria Luiza por Caroline havia sido posto à prova várias vezes, em diferentes situações. Mas ele nunca diminuiu, sempre esteve ali, lembrando à Maria Luiza de que ela tinha um porquê para lutar e se manter em pé.
Maria Luiza iria à livraria comprar o livro favorito de Caroline depois que se despedisse. Algo que a lembrasse ela. A garota subiu alguns degraus que davam acesso ao interior do aeroporto, e avistou Caroline de costas, segurando uma grande mala, com seu violão lado e uma mochila nas costas. Maria Luiza correu em sua direção.
- Caroline - chamou Maria Luiza, ofegante.
- Eu sabia que você viria - disse Caroline, abrindo um grande sorriso. - quanto tempo nós temos?
- Vinte minutos. - respondeu Maria Luiza, abraçando a garota.
- Malu, me escute - pediu Caroline, o seu sorriso sendo substituído por lágrimas que rolavam descontroladamente de seus olhos. - enquanto não pudermos ficar juntas, eu quero que você tenha uma vida. E me prometa que vai viver normalmente, e eu te prometo que eu vou voltar.
- Eu não quero ter uma vida sem você! - As lágrimas corriam dos olhos de Maria Luiza também.
- Malu, eu vou voltar mas eu não sei quando, e você tem que me prometer que vai ter uma vida sem mim.
- N-não! - Maria Luiza estava chorando, como nunca havia chorado em toda a sua vida.
- Prometa. - disse Caroline, e puxou Maria Luiza num beijo que misturava as lágrimas com todo o amor que tinham uma pela outra. Maria Luiza se lembrou de seu primeiro beijo com Caroline, e ela a amava tanto quanto naquela tarde quente de outubro. Elas ouviram a chamada do embarque de Caroline: o avião que a levaria para Florianópolis.
- Eu sempre vou te amar. Sempre. - disse Caroline, entregando um pequeno pacote azul para Maria Luiza. - Fique com isto, e nunca se esqueça de mim. Eu vou voltar.
- E você fique com isso, eu sempre te amei, e sempre vou amar. - disse Maria Luiza. Caroline pegou o envelope branco e deu mais um abraço em Maria Luiza, que olhou o máximo que pode para a garota, para nunca se esquecer de seus olhos verdes, e das sardas em seu rosto.
- Tenha uma boa vida. Eu te amo, e até algum dia. - falou Caroline, se afastando e dando um sorriso misturado com as lágrimas.
- Até. Eu também te amo. - respondeu Maria Luiza. Ela observou Caroline na entrada do portão de embarque. A garota olhou para trás uma última vez e deu tchau com a mão. Maria Luiza fez o mesmo. Então Caroline desapareceu para dentro.

Narração de Caroline

Eu olhei para o rosto cheio de lágrimas de Maria Luiza uma última vez. Só quando me acomodei dentro do avião, abri o envelope que ela havia me entregado. E comecei a ler a carta que havia dentro.
"Haverá sempre um amanhã, para que se possa concertar o ontem. Haverá muitos dias que eu sei que vai doer muito, como está doendo agora. Mas você poderá me encontrar nas pequenas coisas. Quando ouvir aquela música que tocou no baile, ou naquela minha série de livros favorita. Isso vai servir para te lembrar que eu nunca fui embora. Se algum dia você quiser me ter por perto, volte aqui e leia estas palavras. Quero que elas sirvam para nos aproximar enquanto a distância estiver entre nós. Quando ouvir falar de mim, lembre-se que eu ainda penso em você. Quando alguém disser que te ama, eu quero que saiba que ninguém nunca vai te amar como eu te amei. Quando ouvir falar em amor, lembre-se que era assim que eu te chamava, e que eu te dei todo o amor que eu poderia dar. Se ouvir aquela música que te trouxer lembranças, pense em mim. Aonde quer que eu esteja eu estarei pensando em você também. Eu se algum dia quiser voltar, eu estarei aqui, sempre te esperando. E sempre vai haver algo de você dentro de mim. Sempre vai haver aquela sensação de querer você de volta. Sempre vai haver a saudade, que vai bater. Eu sempre sentirei a sua falta.
Há algo de triste nas despedidas e complacente porque sempre tem que haver um recomeço. É a nossa vida que se mostra maior e mais forte do que os nossos planos extraviados e expectativas falidas. É o mundo provando que cada ganho e cada perda, é uma lição. Para sermos melhores para os outros, e para nós. Quero que você deixe os seus erros e falhas no passado, pois seria impossível carregar tanta coisa nova misturada aos pretéritos. Como Nicolas um dia me disse: se despedir e recomeçar é a lei do fim das coisas. Recolha suas saudades da maneira mais tolerável possível, e aceite seguir as escolhas do seu Deus - a sua fé é invejável - ou do meu acaso, tanto faz. Apenas siga em frente e recomece. Quem sabe algum dia você possa voltar para escrevermos juntas mais um capítulo de nossa história. Caroline, eu te dei todo o meu amor, espero que sirva para manter nossas memórias sempre vivas. Eu vou estar sempre te esperando.
Eu te amo.
- Maria Luiza"

As minhas lágrimas molharam a carta. Eu olhei a foto que ela havia colocado junto. Uma que tiramos no primeiro dia de nosso namoro. Eu guardei tudo no envelope e o coloquei dentro da mochila.
O avião levantou vôo, e mais do que nunca eu tive a certeza de que eu iria voltar. Algum dia.

Narração de Maria Luiza

Eu sentei num banco da praça que havia em frente ao aeroporto, em baixo de uma árvore, e abri o pequeno pacote azul. Retirei primeiro a carta que havia dentro.
"Meu amor, se está lendo isso é porque já não temos mais tempo. Eu vou ficar longe durante alguns anos, e nesse tempo eu quero que você conheça novas pesoas, beije outras bocas, escute outras músicas e faça novos amigos. E eu prometo que se você fizer isso eu vou voltar, e quando eu voltar serei inteiramente sua. Não veja isso como um adeus, mas como um até logo. Eu nem sei explicar o que eu sinto por você, nunca ninguém conseguiu mexer tanto comigo. Eu simplesmente te amo e isso aconteceu num piscar de olhos. Um dia você era quase uma estranha e no outro eu só pensava em você. Eu já disse que amo seu sorriso? Amo ainda mais quando você sorri para mim. Amo seu cabelo, sua voz e tudo que vem de você. Eu estou escrevendo isso para que você nunca se esqueça de tudo o que a gente já viveu, e também para que cada vez que você tiver dúvida se tudo foi real, você ter a certeza de que sim, foi real. Cada beijo, cada respiração ofegante e cada eu te amo. Sempre que sentir minha falta ouça aquela nossa música.
Bom, eu queria saber escrever como você, mas eu não sei, eu não tenho muito a te oferecer além do meu sincero amor. Espero que seja suficiente. Não importa quem esteja do meu lado, não importa o tempo ou a distância, eu sempre estarei pensando em você.
E por último, seja feliz. É tudo o que eu quero de você, a sua felicidade. O nosso futuro é incerto, então viva o agora. O passado também não volta, então tire da cabeça todos os "e se eu tivesse feito diferente?". As coisas aconteceram exatamente como tinham que acontecer.
Você é tudo para mim. Tudo o que fiz foi para que você seguisse em frente. Quero que você fique bem. Eu posso não ter demonstrado sempre, mas eu te amo. Muito.
- Caroline"

Eu mal conseguia enxergar por causa das lágrimas. Eu olhei dentro do pacote e havia uma pulseira dentro, e junto um pequeno bilhete com os dizeres: pelo nosso aniversário de namoro. E no verso: era pra ter sido.
Eu coloquei a pulseira, coloquei a carta no pacote de novo e me levantei. Ainda haveria muitas vezes em que eu choraria pela falta de Caroline. Mas, naquele momento, sequei as lágrimas e fui para comprar o livro anteriormente citado. Enquanto eu não estivesse com Caroline, precisava ter um recomeço. Ela sempre faria parte de mim. Mas afnal, a vida é sempre sobre recomeçar.

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