IV. Ela Não Vai Voltar

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Era a Caroline. Ela estava totalmente molhada, os olhos vermelhos de tanto chorar. Eu a vi naquela situação e tive vontade de abraça-la e dizer que as coisas ficariam boas, mesmo sem saber o que havia acontecido.
Eu emprestei roupas para a Caroline. Deixei ela sozinha um pouco em meu quarto para que ficasse mais calma. Nicolas e eu ficamos em silêncio na sala, terminando o jogo de xadrez. Caroline apareceu na sala dez minutos depois.
- Eu sei que pareço louca por aparecer aqui com esse tempo. Eu terminei com meu namorado. - Ela falou enquanto se sentava em volta da mesa de centro, se juntando ao Nicolas e eu.
- Você quer falar sobre isso? - Nicolas resolveu falar, já que eu me mantive em silêncio.
- Não sei. A única coisa que eu tenho certeza no momento é que eu não vou mais namorar ninguém, por uns bons anos. Ninguém mesmo. - Disse Caroline enquanto olhava para mim. Eu me manti o tempo todo com olhos no tabuleiro. Para mim as palavras dela soaram como: eu terminei com meu namorado mas não vou voltar com você, Maria Luiza.
Eu falo e penso tanto em Caroline que às vezes esqueço de mim. Então, eu sou Maria Luiza, tenho dezesseis anos e curso o segundo grau do ensino médio. Eu gosto de escrever, mais precisamente gosto de escrever sobre ela. Mas de todas as informações que eu poderia contar sobre mim, a única de que eu realmente tenho certeza é que sou completamente apaixonada por Caroline, e isso me trás um sofrimento que eu ainda não consegui colocar em palavras.
- O que faz por aqui? - Eu resolvi falar. Tirei os olhos do tabuleiro e olhei fixamente para ela.
- Você é minha melhor amiga, Maria Luiza. Eu estou triste e queria conversar. - Disse Caroline.
Eu não respondi nada porque era óbvio que eu queria dizer que não me importava com o término do namoro dela. Mas também seria mentira se eu dissesse que não gostei da notícia. Mas namorando ou não ela nunca seria minha de volta, e ao pensar nisso uma vontade incontrolável de chorar tomou conta de mim.
- Parou de chover, eu vou indo embora. - Nicolas disse se pondo de pé.
- Eu vou indo também. - Caroline disse.
Nicolas me deu abraço e disse um ''vai ficar tudo bem''. Era tudo o que eu queria ouvir, mesmo eu sabendo que nada ficaria bem. Eu passei o resto da tarde com os olhos cheios de lágrimas. Mas não importava o que fosse feito, Caroline era um capítulo passado da minha história, e que por mais que eu tentasse repeti-lo, jamais voltaria.

Eram 22:35 quando Caroline começou a conversar comigo por mensagens.
Caroline
Oi, você ta bem?

Maria Luiza
Sim, e você?

Caroline
To bem. Você tava muito estranha hoje.

Maria Luiza
Caroline, eu te amo e sei que nunca vou te ter de volta. E já não bastasse tudo o que eu passo por ti, tu ainda resolve dizer que não vai namorar com ninguém. O que tu quis dizer na verdade é que não vai voltar comigo. Por favor, eu só te peço que pare de me fazer sofrer.

Caroline
Eu gosto de você, mas eu já sofri demais com relacionamentos e não quero mais isso. Não agora. Você vai achar alguém que te ame na mesma intensidade, mas nós somos só amigas, e isso não vai mudar. Você sabe que não podemos ficar juntas.

Eu não queria que alguém me amasse na mesma intensidade, eu queria que a Caroline me amasse na mesma intensidade. Mas isso era quase impossível. O fim do amor é doloroso. Muito mais do que o próprio fim de duas pessoas. Eu acho que é isso, acho que é o nosso fim definitivo. E está doendo demais. O que era para ser eterno acabou em um piscar de olhos - e meus olhos ainda mal acreditam. Ela havia sido o meu apoio por tanto tempo, que eu estranhava andar com as minhas próprias pernas. Sobrava amor, tinha vezes que transbordava, e ela deve lembrar. Queria saber como um sentimento desaparece assim, sem deixar rastros. Nós éramos felizes, era pra ser. Até que chegou a hora de não ser mais. Triste. O tudo vira nada, e a vida está me empurrando pra frente, enquanto a minha vontade é de ficar lá atrás, de me agarrar em um poste qualquer e reviver nosso amor de novo, de novo, e de novo. Quantas vezes fossem preciso.

Eu estava novamente atrasada para a aula. Eu pensei muito durante a noite, e agora estava morrendo de sono.
Quando cheguei na aula - vinte minutos atrasada - a Caroline estava sentada do lado de fora da sala, e como eu já estava muito atrasada me sentei ao lado dela.
- Você não me respondeu ontem. - Ela disse.
- Eu não sabia o que dizer. Tu sabe que eu não consigo entender. Não me conformo talvez.
- Maria Luiza, eu só não quero me magoar de novo. - Só então ela olhou para mim.
- Caroline tu sabe que eu não vou te magoar, e que as vezes que fiz isso eu me arrependi. Eu só não entendo o motivo que nos impede de ficarmos juntas. Tu fala tanto que não pode, mas se tu realmente gostasse de mim como tu diz, faria de tudo por nós, como eu faria! - Eu já estava chorando de novo, e falando mais alto do que deveria - Eu estou cansada de sofrer por ti, de chorar e sempre correr atrás, e em troca tu apenas me dizer que somos amigas! Tu não entende Caroline! Não entende porque nunca gostou de mim como eu gosto de você! - Eu disse tudo isso, e ela apenas permaneceu em silêncio. Nicolas estava vindo de um outro corredor em direção à sala e provavelmente deve ter visto a cena toda. Alguns alunos que também estavam fora começaram a olhar para nós. Eu me levantei, e não conseguia controlar minhas lágrimas. Nicolas apareceu e me fez ir com ele.
Não importava quantas vezes eu dissesse te amo para a Caroline. Não importava quantas provas de amor eu pudesse dar à ela, nada do que eu fizesse importava, o silêncio era a resposta dela. É horrível a sensação de quando você quer muito alguma coisa, luta por isso, mas não obtém sucesso. É inútil quando você tem o que precisa, mas nunca o que realmente quer. Quando você tenta tirar alguém do pensamento, mas esse alguém te tira o sono. Eu estava cansada de perder o sono por alguém que não perdia sequer um segundo por mim. Lágrimas, caíam de meus olhos. Eu, me sentia inútil. E ela, ainda continuava sendo o motivo pelo qual eu perdia o sono. É ela que eu amo, tem sido ela, e vai continuar sendo. E eu ainda não sei por quanto tempo.

Algo Sobre Ela, e EuOnde histórias criam vida. Descubra agora