Capitulo 20

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Cambaleei para trás em pavor, minha boca estava aberta em um circulo ovalado. Allana estava parada na minha frente sorrindo de orelha a orelha. Mais atrás dela estavam vindo os outros e mais atrás um mundo de adolescentes, gritando e esperneando. Separados dos meus ex amigos por vários homens de ternos pretos e do tamanho de armários. Seguranças.

Eles me rodearam, me trancando em um circulo perfeito. Queria fugir, correr, gritar e principalmente chorar. Não aguentaria isso, já tive que presenciar meu suposto namorado me traindo na frente de todos. Com amargura percebi que nem a irmã dele se importou comigo, uma risada histérica queria sair pela minha boca. Trinquei mais os dentes até doerem. Se antes eu estava pesado por causa de tantos problemas, agora eu estava andando sobre uma gravidade completamente nova pra mim, me puxando para baixo.

Não sei como conseguiria suportar outro ataque sentimental. Emoções como Alegria, medo, ressentimento, vergonha estavam me dominando. Estava sufocando com tudo aquilo, aquele enorme aeroporto cheio de gente estava claustrofóbico para mim, minha respiração estava rasa e superficial.

Allana ainda estava sorrindo na minha direção, como se eu fosse um animal ferido acuado em um canto, mas mesmo aquele sorriso calmo estava me assustando. Olhei para trás de Allana e Li estava esmagando o outro garoto de olhos puxados em um abraço apertado, arquejei e dessa vez nem os dentes trincados ajudaram. Allana seguiu o meu olhar e franziu a testa, cambaleei para trás. Aquele simples gesto de Li era como se estivessem me furando de dentro para fora, doía demais.

- Tiam você esta bem? - Julius falou, sua voz chegou até mim. Virei a minha cabeça para ele. Sua pele morena estava maravilhosa naquela camisa branca com gola v e bermuda de cós baixo cinza e branca - Seu rosto estar verde.

Não respondi, ondas e mais ondas de dor e tristezas estavam me afogando, me levando mais para baixo, até o fundo. Rodeei minha cintura com meus braços, tentando me fazer sentir melhor. Mas foi o completo oposto, meus braços magros e doloridos pareciam pedras de gelos. Tremi, e sentia lagrimas descerem pelo meu rosto.

- Tiam? - Ouvi a preocupação na voz de Anderson, o mais novo do grupo pegou caminho até mim - O que esta acontecendo com você?

Não estava olhando para ele, meu olhar estava fixo nos dois caras de olhos puxados. Mesmo a aquela distancia conseguia ouvi a risada de Li, não sabia se era real ou apenas uma brincadeira que meu cérebro estava pregando em mim. Ele virou o rosto e seus olhos encontraram o meu.

Toda a cor de seu rosto se esvaiu rapidamente, seu sorriso quebrou em milhões de pedaços, conseguia saber mesmo estando longe que seus músculos estavam todos travados. O japonesinho em seus braços também deve ter notado que Li estava diferente e seguiu o seu olhar. Ele não fez nada de mais, apenas olhou para mim. Leah e Shaou também seguiram o olhar do irmão.

Leah arfou apavorada e Shaou desviou rapidamente o olhar. Isso apenas fez a dor que eu estava sentindo aumentar vários graus. Com um grito estridente soube que Marvin também tinha me visto, ele se desvencilhou dos braços da avó e saiu correndo.

- Christin - Gritou o pequeno, mas ele não deu dez passos pequenos antes de Li se esticar e pegar o sobrinho nos braços, isso foi o máximo. Um ultimo golpe em mim, cada grama de esperança, felicidade e amor foi substituída por dor e tristeza - Titio Li, o Christin tá ali.

Todos os meus ex amigos olharam para mim com as testas franzidas. Todas as pessoas da nossa sala e os adolescentes também. Deixei meu corpo arquear para frente e tentei respirar direito novamente. Senti mãos em minha costa e me contorci desconfortável, se alguém me tocasse agora eu iria quebrar em pedaços podres de mim mesmo. Levantei meu corpo destruído, e vi Li vindo em minha direção, seu rosto contorcido em dor e agonia, mas eu sabia que era mentira. Tudo a minha volta girava a partir da mentira.

Quando ele já estava perto de cerco de segurança dos meus ex amigos eu corri. Corri como nunca tinha corrido na minha vida, corri do mesmo jeito que gritei no dia da morte dos meus pais, queria ficar ferido, igual ferir minhas cordas vocais. Passei por baixo de um braço três vezes do tamanho do meu, abri caminho entre as pessoas a cotoveladas, ainda chorando.

Deixei como rastro gritos de variações de meu nome.

Chris, Christin, Tiam.

Mas nenhum desses era o Christian que estava correndo agora.

****

Não sei como cheguei na academia de Heitor, eu apenas cheguei. Bati com os punhos no portão de ferro até sentir meus punhos arderem e ver sangue no metal. Apoiei minha cabeça no metal e chorei mais ainda. Meu celular vibrou no bolso traseiro, coloquei minha mão ensanguentada no bolso e tirei ele de lá. Varias ligações e mensagens. Li, Leah, Caio, Larissa, Pedro.

Explodi em uma risada histérica que foi se transformando em um choro horrível. Meus irmão preocupados comigo? Depois de anos de negligencia? Estava destruído, nem sabia quem eu era mais. Não era o Christian pré morte e também não era o Christian pós morte. Eu era um eco vazio de dor em um templo destruído. Desbloqueei meu celular e vi as mensagens.

"CHRIS, CADE VOCE? PRESCISAMOS CONVERSAR"

Essa era uma das milhares de mensagens que Li me mandou. Mentiroso, letras mentirosas em frases mentirosas.

"CHRIS! O QUE ACONTECEU? LI VEIO AQUI IGUAL A UM FURACÃO PERGUNTANDO CADE VOCE. ME RESPONDE CHRIS."

Essa era uma dos meus irmãos.

Joguei o celular com o máximo de força que consegui, ouvi quando ele se quebrou, quebrando com ele a minha ponte de comunicação com os outros. abracei meus joelhos e coloquei minha cabeça ali. Chorei mais ainda.

Não vi quando o dia se transformou em tarde e a tarde em noite. Depois de toda aquela dor eu fiquei dormente, anestesiado. A dor era tão forte que nem sentia mais nada. Minhas lagrimas caiam pelo meu rosto mais espaçadas. Uma luz forte entrou no meu campo de visão, mas não levantei a minha cabeça. Escutei os pneus triturando a sujeira por debaixo deles, depois o som de breque. Porta abrindo e fechando e depois um cutucão forte na perna.

- Ô vagabundo pode procurar outro lugar para passar a noite - Heitor disse, levantei a cabeça e ele deu um pulo pra trás assustado, segundos depois andou até mim e me ergueu do chão em apenas um puxão - Crhisty-Ann? O que foi que aconteceu com você?

- Tudo - Minha voz estava muito mais rouca e dolorida, ele me apertou mais forte o meu corpo quebrado e eu retribui, já estava machucado, não importava me senti mais miserável - Tudo e mais um pouco.

- Christy-Ann, suas mãos estão em carne viva.

- Você não estava em casa - Tentei forçar a minha voz a sair engraçada e leve, mas não mudou nada - Bati na porta e ninguém veio atender.

- Fui na casa de minha mãe, Christy-Ann - Respondeu.

- Meu nome é Christian -Falei prontamente, fui outra pessoa por muito tempo - Christian.

Ele não falou nada, me abraçou mais forte e abriu as pesadas portas de metal da academia.

Abrindo assim as portas para novas ideias.

Fechando a do meu coração.

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