- O que!? - Isso não podia ser verdade, não podia, simplesmente não podia. Li ainda continuava na mesma posição degradante de antes - cabeça nas mãos e orgulho no chão - ele não se mexeu quando eu avancei rapidamente na direção de Chin e peguei na gola da camisa dele e sacodi. A cena seria engraçada, por que eu tinha a altura e o peso exato de Chin, mas eu estava com raiva. Muita raiva que se misturava com uma tristeza enorme e traição amarga - Ela é sua irmã? Como? Por que sua família deu ela para a família de Li?
- Me põem no chão e eu te digo - Não tinha percebido, mas os pés de Chin flutuavam centímetros acima do chão. Quando a crise de consciência me varreu, toda aquela força que eu estava sentindo me abandonou, meus braços adquiriram consistência de concreto e deixei Chin cair no chão, ele cambaleou para longe de mim e desamassou o local onde eu torci o tecido - Obrigado, Christian.
- Conta, Chin! - Gritei e avancei para cima dele, mas dessa vez não na intenção de apenas ameaçar, eu estava a ponto de explodir e precisava extravasar. Dei apenas cinco passos para frente quando senti braços grandes e musculosos em minha cintura, meus pés saíram do chão e depois a voz de Heitor penetrou o nevoeiro de confusão que rodeava meu cérebro.
- Nada se resolve com violência, Christy-Ann - Seu hálito quente fez contato com a minha pele gelada e sem vida, minhas emoções eram iguais a ondas no mar, tão rápido quanto elas vinham elas iam. Agora a culpa e a vergonha me assolavam - Se acalme e depois converse com o garoto ali.
- Eu não quero briga, Christian - Eu vi como Chin estava tremendo de medo, e com uma dose extra de culpa percebi que o medo dele era eu que estava causando - Eu vou chegar nessa parte.
- Agora eu que quero saber o que aconteceu lá - Pedro que falou, não precisei virar a cabeça para saber que ele estava do lado de Heitor quando falou - Li não nos contou nada sobre essa parte da historia. Irmã com câncer?
- Leah é mais velha que eu um ano - Ele começou - Quando nossos pais souberam que estariam esperando mais um filho eles se desesperaram, afinal eles já tinham outros três filhos. E como vocês sabem na Ásia a taxa de natalidade é tratada com severidade. Meus pais já estavam pagando muito, só se pode ter um filho, eles já tinham três - Ele estava rodeando muito, a raiva me tomou novamente e eu me contorci nos braços de Heitor. Chin tomou esse gesto como um aviso para que ele se apressasse - Tudo bem, tudo bem. Eita, mas que pessoa agoniada! Meus pais não queriam mais um filho, mas também não queriam se desfazer desse filho, então minha mãe deixou a gravidez ir a diante. Foi no dia do parto que meus pais conheceram os pais de Li.
"Minha mãe teve o parto normal, uma garota saudável e sadia, mas a Senhora Wang, não. - Meus olhos rapidamente foram parar em Li, seu corpo estava sofrendo com grandes soluços e eu poderia jurar que tinha ouvido um gemido da mais pura dor. Aquele gemido foi pior do que acido em meus ouvidos, com o acido eu lidaria apenas com a dor física, o gemido me destruiu de dentro para fora - Minha mãe dividiu o mesmo quarto com a Senhora Wang e foi quando ela teve uma ideia. Elas rapidamente ficaram amigas e um determinado dia a mãe de Li sugeriu para minha mãe se ela não queria dar a menininha para ela, afinal, a Senhora Wang tinha se afeiçoado muito com Leah"
" Como minha mãe já estava super apertada e não teria como cuidar de mais um filho, ela concordou com a Senhora Wang. Meu pai não foi o homem que registrou Leah, meu pai não foi o homem que colocou Leah como nome de sua filha. O Senhor Wang que fez isso tudo - Chin se encostou na parede e foi descendo até o chão - Depois de toda a papelada estar feita, mas com os pais erados, Leah foi parar nos braços da Senhora Wang definitivamente."
Ele parou de falar e enterrou a cabeça nas mãos também, mas só que ele não chorou como Li, que alias, ainda continuava chorando. Eu ainda estava nos braços de Heitor e ele não tinha reclamado nenhum minuto a respeito do meu peso, Pedro ainda continuava do lado de Heitor e eu não sabia onde meus outros irmãos estavam. Cutuquei Heitor e pedi para descer, hesitantemente ele me colocou no chão. Caminhei a passos pequenos até estar na frente do japonesinho, seguindo o exemplo dele eu me sentei no chão a sua frente.
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Abrigo
RomanceEssa história foi postada originalmente na Casa dos Contos pelo perfil: Blind/Dealf/Mude.... E eu decidi postar aqui para facilitar o acesso a essa incrível história. Todos os direitos reservados ao autor citado acima. Link do perfil: http://www.cas...