4| dance academy

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"Tell me, why I want you so badly?!"

- Samantha? - me chama a tia Cecília. Eu estava um pouco absorta em meus pensamentos, ainda tentava desvendar sobre essa tal de Morgana porém eu não tenho tanto tempo de convivência com o Cameron o suficiente para saber de algo.

- Sim? - digo virando-me em sua direção. Estávamos sentadas na sala tomando chocolate quente. Ela disse que havia tirado uma semana de férias da empresa até que eu me acostumasse com tudo aqui.

- Eu estava dizendo que achei uma academia de dança à dois quarteirões daqui - ela diz com um sorrisinho no rosto. Eu já estava gostando do rumo da nossa conversa. - Fique sabendo que eu já te inscrevi e você começa ainda hoje.

- Sério? - pergunto exasperada, levantando-me do sofá. Essa minha tia é uma caixinha de surpresas ambulante. Ela balança a cabeça positivamente. - Mas eu não estou preparada, eu... - respiro fundo contando até três mentalmente. Eu estava nervosa atoa.

- Se seu sonho é entrar pra Juilliard, você precisa praticar e se dedicar inteiramente. Tem que comer, viver e respirar a dança porém nunca se esqueça de se divertir - ela diz.

Ela tem razão. Eu não posso perder um segundo sequer se eu quiser estar preparada para as audições. Preciso praticar e me entregar de corpo e alma. Respiro fundo outra vez e me sento terminando de tomar meu chocolate.

- Que horas começa? - eu pergunto sorrindo e vendo seu rosto se iluminar logo em seguida.

Depois que ela me deu todas as informações, nós terminamos de conversar e eu subo para o meu quarto. Ainda tinha muita coisa pra pôr no lugar, a maioria das minhas roupas ainda se encontravam nas malas, mas eu já podia chamar tudo isso de quarto.
Pego a minha única bagagem cor de rosa e a abro, deparando-me com todas as minhas sapatilhas, faixas e os uniformes de dança. A maioria não cabia mais em mim porém eu trouxe como uma recordação.

Pego a sapatilha que ganhei quando tinha cinco anos e retiro da mala. Minha primeira sapatilha. Ela estava bem gasta, e pequena também, mas eu amarro as tiras bem forte uma na outra e penduro na parede. Seria uma boa motivação, eu lembraria de toda a minha jornada até aqui. Do meu quarto até um estúdio de dança, do Brasil até Nova York, das danças amadoras até Juilliard.

Eu vou conseguir.

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Quando os ponteiros do relógio marcaram quatro horas em ponto, eu desligo o computador e corro na direção do banheiro. Tomo um banho e escovo os dentes, prendendo meu cabelo em um rabo de cavalo impecável logo em seguida.

Ponho minha meia-calça, uma blusinha de alças preta bem apertada e uma saia de pano também preta. Coloco minhas sapatilhas rosa dentro da bolsa de ginástica junto com todos os meus pertences. Desço as escadas e encontro minha tia sentada em sua escrivaninha e a sua atenção estava totalmente voltada para o notebook.

- Estou pronta - digo cantarolando fazendo com que a mesma olhe para mim. Eu dou uma voltinha exibindo o meu melhor sorriso.

- Nossa, - ela arfa enquanto se levanta. - Você está maravilhosa, querida! - diz dando-me um abraço.

- Obrigada, obrigada, mas deixa eu ir se não me atraso - me viro na direção da saída porém a mesma me chama novamente fazendo com que eu volte.

- Isso é pra você - ela retira a mão esquerda de trás das costas e exibe um molho de chaves. Chaves de carro.

- Um carro?! - eu exclamo surpresa e ela começa a gargalhar. - Não tia, isso é demais, eu não posso aceitar.

- Verdade, não pode... - ela diz caminhando em minha direção e pondo as chaves na minha mão. - Deve.

Eu abro a boca para contradizer porém ela faz uma cara feia e eu prefiro fechá-la novamente e ficar quieta. Ando até a garagem e aperto o botão da chave fazendo com que os faróis de uma Ranger preta se acendam.

Se isso é um sonho, penso. Eu não quero acordar!

Assim que chego na academia, seguindo as instruções de caminho da minha tia, eu estaciono o carro na vaga mais próxima e desço. A aula parecia já ter começado, ou seja, eu estava atrasada. Acelero meus passos tentando chegar o mais rápido possível por causa do frio e quando abro a porta, suspiro de alívio com o ar quentinho.

- Está atrasada - diz uma senhora elegante que estava no centro do salão. Nem preciso de tanto esforço mental para constatar que ela é a professora.

- Mil desculpas, senhora - eu digo rapidamente sentindo o ardor subindo para as minhas bochechas. - Eu sou nova na cidade, não sei andar muito bem por aqui - Ela me avalia da cabeça aos pés.

- É de onde? - ela pergunta com seu ar superior. Respiro fundo e faço uma contagem mental, o que faço toda vez que estou nervosa.

- Brasil - murmuro. Ela dá por terminado o seu irrelevante questionário e pede para me juntar com as outras dançarinas.

Tudo ocorreu maravilhosamente bem. Depois de um tempo tentando, eu consigo aprender a coreografia e então começo a dançar pra valer. Mais ninguém me olhava torto, agora era de igual pra igual. A academia tinha um enorme espelho onde nós observávamos enquanto a senhora Blastwood nos passava os passos e do lado contrário, havia um vidro em quase toda a parede, onde todos que estivessem lá fora poderiam nos ver. Era um pouco vergonhoso, até porque muitos garotos paravam lá na frente apenas para isso.

Enquanto fazíamos a parte do giro eu olho de relance para o espelho e o vejo. Paro bruscamente e acabo embolando os pés fazendo com que eu caia no chão, assustada. Algumas garotas começaram a rir porém eu não ligava, eu mantinha meu olhar preso no dele através do espelho. Usava uma calça jeans preta e um casaco de moletom com capuz. Parecia até um perseguidor.

Será que ele sabe que eu estive em seu ateliê?

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