Prologo

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Hoje está um dia lindo, o céu sem nuvens, na grama um verde vibrante, o clima está maravilhoso, os campos de rosas coloridos, como se o universo pedisse para que eu saísse  da cozinha, largasse tudo e desse um passeio. Infelizmente, existem coisas mais importantes que caprichos, como por exemplo, me esconder da família real e andar de cabeça baixa entre os outros criados, enquanto tento fazer algo de útil.

Apesar de muitos me conhecerem, não desconfiam que sou da família Bragança, na verdade, desde muito nova sou criada por uma das antigas damas de companhia da minha falecida mãe, Antonieta. Quando a loucura tomou conta do palácio e minha família foi traída, foi ela quem me salvou, eu tinha apenas 8 anos, mas me lembro bem quando ela me vestiu com roupas comuns e me arrastou para longe da minha mãe, Amélia. Eu chorei, berrei, implorei para que não me abandonasse, e entre lágrimas ela disse que me amava e tudo era para o meu bem, que eu iria crescer e me tornar uma grande rainha, e por isso deveria ser forte e sempre lembrar que as melhores decisões são tomadas com o coração.

Antonieta me levou para o convento, as irmãs me esconderiam por 3 longos anos. Eu mal via o céu e minha única companheira era irmã Faustina que me amou como filha. Ela sempre me contava notícias do palácio, desde o coroamento do novo rei, Guilherme Cavalcante, o seu casamento com a rainha das Terras Baixas, Anne Nunes, a junção de duas famílias poderosas do país, e o nascimento do herdeiro. Ela me educou, brincou comigo e também morreu por mim.

Faz exatamente 6 anos em que uma pequena frota real chegou ao convento, procurando por Sofia Bragança, eu. E apesar da Madre negar diversas vezes e jurar por Deus, eles revistaram cada quarto e ao chegarem na porta do meu a irmã me deu dois beijinhos, a sua benção e disse que me amava muito e agradecia todos os dias a Deus por ter me colocado na vida dela, pois eu a dei um grande amor e grandes lições, e proferiu aquela frase que todos que a diziam acabavam morrendo, "você será uma grande rainha". É assim aconteceu, ela saiu correndo do quarto blasfemando contra o rei e agredindo o guarda. A última coisa que escutei, já escondida, foi seu grito de dor. Sua morte foi o suficiente para distraí-lo, esquecendo de revistar o quarto. Desde esse dia, eu rezei todas as noites, pedindo para que Deus me tirasse dali e me levasse a algum lugar onde eu realmente pudesse viver.
Não demorou muito para Antonieta saber da ira do Rei ao escutar os boatos de que ainda restou alguém da família Bragança, ainda mais uma jovem com sangue puro e direito de reivindicação ao trono. Ela temeu por minha vida, os conventos não fôramos primeiros a serem revistados e com certeza não tardaria para serem novamente.

Foi tudo muito rápido, Antonieta logo providenciou minha saída do convento. Cavalgamos em um inverno rigoroso, durante dois dias, dormindo em tabernas e comendo sobras e apesar de eu perguntar várias vezes para onde estávamos indo, tudo que eu recebia como resposta era: "Logo irá saber". Para minha surpresa, usamos como caminho a Estrada do Rei, que levaria direto ao palácio e aos chegamos mais perto percebia que iríamos para uma pequena entrada, ao lado dos campos de café, a mesma dos servos.

- O que estamos fazendo aqui? Não deveríamos nem estar perto do palácio, é perigo! - eu disse, enfurecida, começando a dar a volta no cavalo - Nós não deveríamos estar aqui, a não ser que queira ter a cabeça cravada em um espeto!

- Querida, se tem algo que aprendi em anos convivendo em palácios e que os servos são invisíveis para a realeza, eles não sabem seu nome, muito menos seus rostos. - Antonieta desmontou do cavalo - E com toda sujeira política que já vi, aprendi um ditado, que você também deve guarda-lo para o futuro: "Mantenha seus amigos próximos, e os inimigos mais ainda", a realeza nunca irá desconfiar que você está debaixo dos seus narizes, ou melhor dizendo, preparando a comida deles - ela segurou as rédeas do cavalo e ofereceu sua mão como apoio - Terá que confiar em mim, querida Sofia.


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