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"Deu certo!"

Na mesma hora, Antônio para de me beijar e eu agradeço aos céus por isso. Me abaixo e pego meu vestido.

- O que pensa que está fazendo Antônio ?

- Vossa Graça! - ele faz uma reverência.

- Me poupe da sua farsa! - seu rosto estava vermelhos de raiva, mas ela nem olhava para mim, seu olhar assassino se direcionava para ele.

Se pudesse, daria pulos as alegria agora. Tudo saiu como planejado! O penteado perfeito nos cabelos loiros da rainha e seu vestido de veludo não combinavam nada com os gritos e xingamentos que proferia.

- Como ousa trazer uma prostituta aos meus aposentos ? - ela segurou o vaso mais próximo e jogou nele.

Por reflexo, me abaixei. Olhei para o lado e vi que Antônio havia segurado o vaso. E no instante seguinte, outro vaso o atingiu a sua cabeça. Eu ri. Ele mereceu, estava desmaiado.

Olhei para a Rainha e ela ajeitava o vestido olhando diretamente para mim. Droga! Eu não tinha pensado no que fazer depois de me livrar dele.

- Minha Rainha! - fiz uma reverência, ela se sentou na penteadeira, tirou a coroa, e pediu para que eu me aproximasse.

- Antônio é extremamente burro. Uma anta completa. O último lugar que eu traria meus homens seria o quarto da Rainha ou do Rei, agora sou obrigada a cortar sua cabeça fora. - ela sorriu , como se matá-lo fosse divertido -Ajude-me com as forquilhas. - puxei delicadamente cada uma de seu cabelo e colocava em cima da penteadeira - Mas, não podemos esquecer que eu sou a Rainha das Terras Baixas e Planície das Rosas, posso trazer para a minha cama quem eu bem entender. É por isso que Antônio já se deixou dela, eu o escolhi como amante. Isso é um privilégio.

- Majestade, eu posso explicar - disse com a voz firme - Não estou aqui porque quero! Fui obriga...

Ela me interrompeu bruscamente.

- Ainda não concedi a palavra a você, continue seu trabalho. - falou severa - como eu estava dizendo, minha cama, minhas regras. E como pode perceber, Antônio ia me trair, NA MINHA CAMA! - ela berrou - e isso me deixa com um pouco de raiva. - ela se levantou rápido, fazendo a cadeira arrastar e machucar meus joelhos, e ficou de frente para mim. Seus olhos estavam escuros, cheios de vingança.

- Sei a algum tempo que ele me traia com as criadas da cozinha, mas nunca me importei. Como já deve saber, tenho fama de cruel, porque já pratiquei alguns castigos um pouco severos por aí, e por conta disso, tenho que manter minha fama. Afinal, é melhor ser temida do que amada -ela deu de ombros, como se não se importasse com cada do que já fez -Como ele ultrapassou os limites, deve ser castigado, assim como você.

!!!

Eu gritei, um dor corria por todo o meu braço, queimava. Arrisquei olhar, e vi que Anne tinha enfiado uma das forquilhas em meu braço e ainda tinha sua mão lá, o sangue quente descia da ferida e pingava pela minha mão.

- Eu poderia matá-la - disse com uma voz mansa - acusa-lá de traição, jogar na masmorra. Mas não, estou misericordiosa hoje. A deixarei com um aviso: não traia sua rainha. - ela girou a forquilha ainda em meu braço. Minha visão ficou preta e minha pernas tremeram, segurei um grito com todas as minhas forças. - Deixarei a forquilha aqui, como uma lembrança, nunca se esqueça de que eu passei pela sua vida, criada. - ela tirou a mão de cima, mas o objeto continuava lá, meu braço ardia e latejava. - Agora suma da minha frente!

••••

Estou na cozinha. Tirei a forquilha do meu braço, o que doeu como o diabo, a ferida estava aberta, mas o sangue estancou. Tinha que voltar para o quarto e tratar de Daianne, mas eu já estava exausta fisicamente e psicologicamente. Eu tento pensar em algo, mas o latejar do meu braço não me permite nenhuma concentração! Deus me ajude! Eu nunca estive tão perto da Rainha até hoje e ela nem desconfiou de quem sou, poderia ter morrido como uma criada da cozinha e não como a princesa perdida, Sofia Bragança. Me arrepiei ao lembrar do cargo que ela ocupa e o poder que emana da sua coroa. Um dia, essa coroa será minha, as mortes das pessoas que amo não serão em vão.

Andei devagar até o quarto, todas as tochas dos quartos estavam apagadas, até do meu. Cruzei a porta e para minha surpresa todos os moveis já estavam no lugar novamente, o chão está limpo e até cheirava a eucalipto. E única coisa que não mudou foi o corpo morto em cima da minha cama, coberto com o lençol branco, que já estava com manchas de sangue seco aqui e ali.

- Querida, que bom que chegou. - Antonieta levantou da sua cama e veio em minha direção - você está bem? O plano deu certo?

- Tia, a rainha me viu e não me reconheceu - disse, ainda olhando para Daianne - ela poderia ter me matado, e a senhora teria que cavar duas covas hoje. Sozinha. Você acha que estou bem ?

Ela ficou na minha frente, obrigando-me a olhar em seu rosto.

- Você está viva, é isso que importa. - me abraçou - Tive tanto medo de te perder.

Eu não conseguir tirar os olhos do corpo de Dai, um sentimento horrível subia pela minha garganta.

- Você me ensinou que temos que agir com a razão e não com o coração em situações difíceis - me desprendi do seu abraço e me dirigi a minha cama, sentei no chão e segurei a mão de Daí. Me arrepiei. Sua mão estava gelada, só agora me dei conta que nenhuma vida havia mais aqui, era só mais um corpo. - Mas lembro que minha mãe me disse que as decisões tomadas com o coração, são melhores. É por isso que vamos enterrar Daianne, ainda hoje, em respeito por sua vida.

- O que ? - sua voz era incrédula - Seria muito mais fácil, forjar um suicido no quarto dela. Ela não tinha família, e teoricamente, nem amigos.

- Tia, ela morreu por minha culpa! Não deixarei pensarem que ela era covarde! - eu segurei a voz para não gritar - Ela é minha amiga, eu devo isso a ela.

Apesar dela não ter concordado comigo, não deixou que eu fizesse tudo sozinha. Daianne era menor que eu e bem mais magra, mas ainda era pesada. Meu braço doía, mas tentei ignorar ao máximo, porque tinha que arrastar o corpo até o bosque. Parecia que havia se passado horas até chegamos ao bosque, meu corpo estava exausto e Antonieta suava como uma porca. Demoramos para conseguir cavar uma cova rasa, não tinha sete palmos, mas deveria servir. Rolamos o corpo dela para dentro do buraco junto com os lençóis melados de sangue e cobrimos com terra. Fiz uma cruz improvisada e preguei no chão.

- Vamos Sofia, temos pouco tempo até começar a amanhecer.

- Só um segundo, por favor. - colhi flores do campo que estavam próximas e coloquei em cima da cova, ajoelhando-me. - Você me fazia esquecer de quem eu era, me fazia feliz, foi a melhor amiga que já tive e já sinto sua falta. Me perdoa Dai, nunca quis que sofresse por minha culpa. Te amo, amiga.

Voltamos antes do sol aparecer, mas já havia pessoas saindo dos seus quartos e se dirigindo aos serviços. Entrei no quarto, mas não conseguir olhar para minha cama e por isso sentei no chão e fechei os olhos. Estou exausta.

- Sofia, acorde. Precisamos conversar -levantei rápido.

- Não precisamos não! O meu dia foi um inferno! A última coisa que preciso agora é saber quem escreveu a porcaria dessa carta! Estou exausta, Tia! - sai correndo do quarto.

••••

Afundei mais na água da banheira. Agora posso retirar minha armadura, não preciso ser tão forte. As lágrimas escorriam pelas minhas bochechas, e as lembranças de Antônio e a Rainha me fazia ficar enjoada, nunca pensei que poderia fazer o que fiz com ele, nem de encarar Anne tão de perto. Mas a pior coisa que fiz, foi enterrar Dai.

A Princesa PerdidaOnde histórias criam vida. Descubra agora