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Minhas costas doem todas as sextas, apesar de ter cortado legumes toda a manhã e ajudado na limpeza da cozinha à tarde, ao chegar a noite, Antonieta me obriga a aprender etiqueta. Moro no palácio desde os 11 anos, e apesar de já ter 17, as lições ainda continuam rigorosas. Ao chegar no quarto, os poucos móveis que nós tínhamos eram arrastados para o canto, abrindo um pequeno espaço para a lição de hoje: aprender a dançar valsa.

- Vejo que está animada - Antonieta me recebeu com um sorriso gigante.

Respondi com uma careta.

- Por favor, você sabe que é importante! Nunca vai conseguir um pretendente a altura desse jeito. - Ela me abraçou e sussurrou no meu ouvido - Você será uma rainha um dia!

- Só hoje, por favor. - implorei.

- Você disse isso ontem - e deixou escapar um risadinha.

- Esta bem, mas vamos terminar logo, certo?

Ela segurou meu rosto com ambas as mãos e beijou minha testa.

- Não se pode apressar a arte - disse já se posicionando como meu cavalheiro.

No fim, além das costas meus pés também reclamavam, e tudo que eu queria era um banho quente. Infelizmente já era muito tarde para um criado zanzar pelo palácio e eu já tinha tomado o único banho que tenho direito por dia.

Deitei na cama, mas não conseguir dormir. Eram tantas coisas na minha cabeça, a respiração pesada, o peso no peito. Eu desejo, todos os dias, sair desse castelo, poder respirar sem medo, cozinhar sem me sentir culpada ou pensar que estou traindo minha família morta por alimentar meus traidores! Rei Guilherme e rainha Anne eram amigos da família, íntimos! E mesmo assim, apunhalaram-nos pelas costas. Só de pensar em cada história que Antonieta me contou sobre como nossas famílias eram amigas, sinto um gosto amargo na garganta. Me sinto tão culpada por não conseguir me vingar! Não tenho posses nem dinheiro, muito menos pessoas dispostas a trair a família real, alias, ninguém aqui sabe quem eu sou. Eu queria tanto poder fazer alguma coisa! Sinto falta da minha mãe, mesmo que eu tenha se separado dela nova, ainda lembro das nossas conversas infantis, dos mimos e carinhos. Ela costumava contar histórias para mim antes de dormir, deitava comigo na cama, me aninhava em seus braços, rezava comigo e então me contava a histórias de um reino distante. Sinto tanto sua falta. Passei a mão no rosto e senti minhas bochechas molhadas.

Para de chorar Sofia, isso é ridículo!

••••

Estou com a visão turva, minha cabeça está sacolejando e só escuto algo bem longe chamar o meu nome, "Sofia, por favor, você já está atrasada!". Eu tentei abrir os olhos, mas minhas pálpebras pesavam mais de uma tonelada. "Eu não vou ficar o dia sem comer por causa do seu atraso! De novo!"

Por Deus! Já é de manhã! Eu preciso trabalhar!

Pulei da cama e ainda tonta encontrei meu avental, e passei pela cabeça. Não daria tempo de colocar um vestido por cima do pijama.

- Daianne! Obrigada por lembrar de mim, não consegui dormir bem essa noite. - Mal comecei a falar e ela já me arrastava para a cozinha.

- Tá, tá, tá! Para de falar e corre!

Agradeço aos céus pelo dormitório ser perto da cozinha. Quando chegamos lá, todos já estavam esperando as ordens do dia e o carrasco do Antônio estava entrando pela porta, ele mandava na cozinha e fazia a comunicação entre nós e a rainha Anne.

A Princesa PerdidaOnde histórias criam vida. Descubra agora