As paredes da escola Bixby High eram sempre terrivelmente brilhantes no primeiro dia daescola. Luzes fluorescentes zumbiam sobre as cabeças, suas brancas esquadrias de plásticolimpas das formas dos insetos mortos. Os novos pisos brilhantes ofuscavam, na forte luz desetembro que entrava pelas portas abertas da frente da escola.Rex Greene caminhou lentamente, se perguntando como os estudantes se acotovelandoem torno dele podiam se apressar neste lugar. Cada passo seu era um esforço, uma luta contra oirritante esplendor de Bixby High, contra estar preso aqui por mais um outro ano.Para Rex, férias de verão era um lugar para se esconder, e a cada ano este dia dava a eleo profundo sentimento de ter sido descoberto, preso, trancado como um prisioneiro fugitivo de umholofote. Rex apertou os olhos na claridade e empurrou seus óculos com um dedo, desejandoque ele pudesse usar tom escuro sobre sua armação grossa. Mais uma camada entre ele e aescola Bixby High.Os mesmos rostos estavam todos lá. Timmy Hudson, que tinha espancado ele cada umdos dias da quinta série passou, não dando a Rex uma segunda olhada. A multidão surgindoestava cheia dos velhos torturadores, colegas de sala e amigos de infância, mas nenhum pareceureconhecê-lo. Rex puxou seu longo casaco ao redor de si mesmo e se agarrou a fileira dearmários ao longo da parede, esperando que a multidão dissipasse, se perguntando exatamentequando ele tinha se tornado invisível. E por que. Talvez isso fosse porque o mundo na luz do diasignificava muito pouco para ele agora.Ele abaixou sua cabeça e avançou em direção a sala de aula.Então ele viu a nova garota.Ela era de sua idade, talvez um ano mais nova. Seu cabelo era ruivo escuro, e ela estavacarregando uma mochila verde sobre um ombro. Rex nunca tinha visto ela antes, e em umaescola tão pequena quanto Bixby High, aquilo era incomum o suficiente. Mas a novidade não eraa coisa mais estranha sobre ela.Ela estava fora de foco.Um fraco borrão aderido a seu rosto e mãos, como se ela estivesse ficando atrás de umvidro espesso. Os outros rostos no salão lotado eram claros na brilhante luz solar, mas o dela nãose firmava não importasse o quão forte ele encarasse. Ela parecia existir fora do alcance do foco,como música tocada da cópia de uma cópia de uma velha fita cassete.
Rex piscou, tentando limpar seus olhos, mas o borrão permanecia com a garota, aseguindo enquanto ela deslizava mais adiante para a multidão. Ele abandonou seu lugar junto àparede e empurrou seu caminho atrás dela.Isso foi um erro. Agora, aos dezesseis, ele era bem mais alto, seu cabelo preto tingidomais óbvio do que nunca, e sua invisibilidade o deixou, enquanto ele se empurrava propositadamente através da multidão.Um empurrão veio por detrás, e o equilíbrio de Rex se alterou sob ele. Mais mãos omantiveram cambaleando, quatro ou cinco garotos trabalhando juntos até que ele veio a uma súbita parada, seu ombro batendo na linha de armários revestindo a parede."Fora do caminho imbecil!"Rex sentiu um tapa contra o lado de seu rosto. Ele piscou enquanto o mundo ficavaembaçado, a parede se dissolvendo em um redemoinho de cores e pontos se movendo. Odoentio som de seus óculos escorregando pelo chão alcançou suas orelhas."Rex perdeu seus spex!", veio uma voz. Então Timmy Hudson lembrava de seu nome. Risadas se arrastaram pelo salão.Rex percebeu que suas mãos estavam em frente a ele, apalpando o ar como um homem cego. Ele podia também estar cego. Sem seus óculos, o mundo era um borrão cheio de coressem significado.O sino tocou.Rex desmoronou contra os armários, esperando o salão esvaziar. Ele nunca alcançaria anova garota agora. Talvez ele tivesse imaginado ela."Aqui", veio uma voz.Enquanto ele levantava seus olhos, a boca de Rex caiu. Sem óculos os fracos olhos deRex podiam vê-la perfeitamente. Atrás dela a parede ainda era uma bagunça de formas borradas,mas seu rosto se sobressaía, claro e detalhado. Ele percebia agora os olhos verdes dela,pontilhado de dourado à luz."Seus óculos", ela disse, os estendendo.Mesmo tão perto, o forte enquadramento ainda era nebuloso, mas ele podia ver a mãoestendida da garota com uma clareza cristalina. O foco se agarrava a ela.Finalmente disposto a se mover, Rex fechou sua boca e tomou seus óculos. Quando ele o pôs, o resto do mundo pulou para dentro do foco, e a garota embaçou novamente. Assim comoos outros sempre faziam."Obrigado," ele disse."Então, tudo bem." Ela sorriu, deu de ombros, e olhou em volta para o salão quase vazio."Eu acho que agora nós estamos atrasados. Eu nem mesmo sei onde eu estou indo."Seu sotaque soava do meio oeste, mais preciso do que o arrastado de Oklahoma de Rex."Não, esse foi o sinal de oito e quinze", ele explicou. "O último sinal é às oito e vinte. Aondevocê vai?" "Sala T-29." Ela segurava fortemente um cartão de horário em uma mão.Ele apontou para trás na entrada. "Essa é nas temporárias. Lá fora à direita. Aquelesbarracões que você viu na entrada."Ela olhou para fora com uma careta."Ok," ela disse hesitando, como se ela nunca tivesse tido aula em um prédio de tábuasantes. "Bem, é melhor eu ir."Ele acenou. Enquanto ela se afastava, Rex retirou seus óculos de novo, e de novo elasaltou para nitidez enquanto o resto do mundo se tornava um borrão.Rex finalmente se permitiu acreditar nisso e sorriu. Mais um outro, e de algum lugar alémde Bixby, Oklahoma. Talvez este ano fosse ser diferente.Rex viu a nova garota algumas vezes antes do almoço.Ela já estava fazendo amigos. Numa pequena escola como Bixby, havia algo de excitanteem um novo estudante - as pessoas esperavam descobrir sobre ela. As crianças mais popularesjá estavam reclamando o direito sobre ela, fofocando sobre o que eles descobriram dela, tirandoproveito da amizade dela.Rex sabia que as regras de popularidade não permitiriam que ele se aproximasse dela denovo, mas ele pairava nas proximidades, escutando, usando sua invisibilidade. Não invisível deverdade, é claro, mas tão bom quanto. Em sua camiseta preta e jeans, com seu cabelo pretotingido, ele podia desaparecer nas sombras e cantos. Não havia muitos estudantes como TimmyHudson em Bixby High. A maioria das pessoas estava feliz em ignorar Rex e seus amigos.Não demorou muito a Rex para descobrir algumas coisas sobre Jessica Day.Na cafeteria ele encontrou Melissa e Dess em seus lugares de sempre.Ele se sentou no outro lado de Melissa, dando a ela espaço. Como sempre, as mangasdela estavam puxadas para baixo, quase cobrindo suas mãos contra qualquer toque acidental, e ela usava fones de ouvido, o zumbido dos poderosos acordes de metal audível deles com uminsistente sussurro. Melissa não gostava de aglomerações, qualquer número considerável depessoas comuns, deixavam-na louca. Mesmo uma sala de aula cheia testava seus limites. Semos fones de ouvido ela encontrava o tamborilante caos rompendo no refeitório, insuportável.Dess não comeu nada, nem mesmo afastou sua comida, apenas dobrou suas mãos eespreitou o teto através dos óculos escuros."Lá vamos nós de novo aqui em outro ano", Dess disse. "O quanto é uma droga?"Rex automaticamente começou a concordar, mas parou. Todos os verões ele tinha temidooutro ano de almoços horríveis, escondendo-se das janelas resplandecentes aqui no canto maisobscurecido. Mas desta vez ele estava realmente excitado por estar no refeitório de Bixby High.A nova garota estava só a algumas mesas à distância, cercada por novos amigos."Talvez, talvez não", ele disse. "Vê aquela garota?""Mmm", Dess respondeu, seu rosto ainda levantado para o teto, provavelmente contandoas telhas lá em cima."Ela é nova. Seu nome é Jessica Day", Rex disse. "Ela vem de Chicago.""E eu estou interessada nisso por quê?" Dess perguntou."Ela acabou de se mudar a poucos dias atrás. Secundanista.""Ainda chata.""Ela não é chata."Dess suspirou e abaixou sua cabeça para espiar através de seus óculos escuros a novagarota. Ela bufou. "Primeiro dia em Bixby e ela já está bem no meio da turma da luz. Nada deinteressante sobre isso. Ela é exatamente o mesmo que as outras cento e oitenta e sete pessoasdaqui.Rex balançou sua cabeça, começando a discordar, mas parou. Se ele estava indo dizerisso alto, ele tinha que estar certo. Como ele fez uma dezena de vezes naquele dia, ele levantouseus grossos óculos um centímetro, olhando para Jessica Day apenas com seus olhos. Acafeteria se dissolveu em um brilhante borrão agitado, mas mesmo daquela distancia elapermanecia nítida e clara.
Era tarde, e o foco dela não tinha diminuído. Ele era permanente. Só havia uma explicação.Ele tomou um profundo fôlego. "Ela é uma de nós."Dess olhou para ele, finalmente permitindo uma expressão de interesse cruzar sua face.Melissa sentiu a mudança entre seus amigos e olhou acima inexpressivamente. Escutando, masnão com seus ouvidos."Ela? Uma de nós?" Dess disse. "Sem chance. Ela podia competir como a maioral dosnormais, Oklahoma. ""Me escuta, Dess." Rex insistiu. " Ela tem o foco."Dess apertou seus olhos, como se tentasse ver o que só Rex podia. "Talvez ela foi tocadanoite passada ou algo assim.""Não. É muito forte. Ela é uma de nós."Dess olhou de volta para o teto, sua expressão deslizando de novo para o totalaborrecimento com a facilidade de longa prática. Mas Rex sabia que ele tinha conseguido suaatenção."Tudo bem," ela se apiedou. "Se ela é uma secundanista, talvez ela esteja em uma deminhas aulas. Eu a checarei."Melissa acenou também, sacudindo ligeiramente sua cabeça para a música sussurrada.

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MIDNIGHTERS - A Hora Secreta
Novela JuvenilO dia não tem apenas 24 horas. Ao menos não em Bixby, uma cidadezinha no Oklahoma. Lá, à meia-noite, coisas muito estranhas acontecem: o tempo para, e ninguém se move... Ou quase ninguém...