Capítulo 12

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Não era surpresa que na segunda-feira eu não estivesse com muita vontade de falar sobre o assunto que todos pareciam interessados: o assassinato da Cecília. Este era o nome da garota que morreu dessa vez. Ela terminou a escola no ano passado, mas não lembro muito dela. Lembro que ela era popular e gostava de customizar o uniforme da escola. Como todas as notícias correm por aqui, não pude deixar de saber alguma coisa. O papo era que ela estava no carro com o namorado, que é um cara mais velho, eles discutiram e ele a deixou na rua, a pé — pra ver como o namorado é gentil —, e o assassino a encontrou sozinha no meio da noite - teoricamente, aliás, todo mundo sabia quem era o serial killer...

Não pude deixar também de notar como a quantidade de olhares sobre o Viny tinha aumentado. E agora não eram apenas garotas muito interessadas, agora também tinham muitos olhares acusadores.

O semblante dele demonstrava mais indiferença do que nunca. Ele parecia realmente distraído, mas eu sabia que ele estava totalmente ciente das coisas que andavam falando a seu respeito.

Outra coisa que eu reparei — e você pode até achar imbecil eu notar isso quando tem tantas coisas mais importantes acontecendo — é que o número de meninas dando em cima dele não diminuiu nadinha. Muito pelo contrário, o perigo parece atrair muitas meninas, embora ele não parecesse dar muita bola no início da semana. Uma semana que prometia ser bastante conturbada.

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Ok, eu não gosto desse tipo de fofoca mórbida sobre assassinatos e coisas assim, que lembram o programa do Datena. Mas admito que teria preferido que a morbidez tivesse continuado até o final do mês, se eu soubesse que o alvo da próxima fofoca seria eu.

Não, não tinha acontecido nada de mais comigo. Aliás, eu acho que o pessoal da escola estava fofocando sobre a coisa menos interessante que eu tinha feito nos últimos tempos.

Basicamente, o que aconteceu foi que o Henrique abriu aquela boca imensa dele para contar para todo mundo que tinha saído comigo. E não é que nunca tenha acontecido isso comigo antes, mas o Henrique, pelo visto, tinha contado todos os mínimos detalhes — acho que ele não percebeu que todos os detalhes foram ruins.

E o pior é que eu acho que as outras pessoas não têm mais nada para fazer ou falar, porque quando eu percebi, a fofoca tinha se espalhado e estava aumentando de tal forma que eu comecei a me preocupar com a dimensão a que isso poderia chegar.

Sério, no andar que ia a carruagem, nem te conto onde aquele papo ia acabar. Você até pode imaginar, né? Também pode imaginar como eu fiquei chateada com o Henrique. Tanto, tanto que o interceptei no intervalo — bem que a Drica e a Gaby tentaram me impedir de armar o barraco, mas não funcionou.

O puxei sem cerimônia de um grupo de garotos tão bobos quanto ele e o arrastei para um canto do pátio.

— Henrique, que história é essa de contar para todo mundo que a gente ficou? — Minha expressão deixava bem claro o quanto eu estava aborrecida.

— Eu não contei. — O tom de inocência não convenceria ninguém.

— Você vai mentir mesmo? — Estreitei os olhos.

— Ok, eu contei para uns amigos, mas não foi nada demais... — ele deu de ombros.

— Não mesmo. Mas não passou pela sua cabeça que esses amigos contariam a outros amigos, que contariam a outros amigos... E a cada vez que contam, aumentam um ponto? — Respirei fundo uma vez — Você ouviu o que andam falando sobre nós?

Incontrolável MenteOnde histórias criam vida. Descubra agora