Capítulo 1

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Então minha amiga estava com raiva de mim porque eu tinha ficado com o garoto que ela estava gostando.

Se quer saber, eu não me senti exatamente culpada quando a vi olhando furiosa para mim durante o intervalo. Principalmente, porque eu sei perfeitamente

que ela só quis ser minha amiga porque sou popular. E, pare ser sincera, eu nem gostava dele. Ele queria sair comigo, o achei bonito e pensei "por que não?". Nunca imaginei que a Carla fosse pirar por causa disso.

E, para ser ainda mais sincera, o cara nem beijava bem. Não mesmo. Não ficou nem entre os quinze melhores que eu já fiquei.

- Helena, você conseguiu fazer a garota te detestar! - A minha amiga, Adriana, falou.

Bem, a Drica é minha amiga desde a pré-escola. Ela, eu tenho certeza que é minha amiga de verdade, até porque a Drica é tão popular quanto eu - ou até mais.

- Eu não me importo. Não vou sentir falta da companhia dela.

Me sentei em um dos bancos do pátio, fingindo ignorar o olhar fulminante da Carla. A Drica se sentou ao meu lado e perguntou:

- Você ainda está saindo com o Ruan ou só foi mesmo para deixar a Carla irada?

- Meu objetivo não era deixá-la enciumada, irada, furiosa ou qualquer coisa assim. Mas não, não estou mais saindo com o Ruan, por quê?

- Porque eu soube que o Gabriel quer sair com você.

Ok, você pode estar se perguntando o que há de errado comigo. Eu também não sei. Mas o caso é que desde os doze anos comecei a ficar com garotos e nunca mais parei. Acho que virou um vício.

E eu não tenho grande dificuldade em manter meu vício, já que, modéstia à parte, nunca faltam candidatos. E pelo visto e escolhido da semana era o Gabriel, o artilheiro do time de futsal.

**********

Eu devo ser a garota de dezesseis anos mais confusa da face da Terra! Meu dever de casa está atrasado outra vez, estou esperando meu trabalho sobre o Romantismo se fazer sozinho, o Ruan - o garoto que minha ex-amiga estava a fim - não para de me ligar e eu não paro de não atender.

E você sabe o que eu estava fazendo? Experimentando meu novo esmalte craquelado.

Eis que a Drica chega na minha casa com a nova Capricho e fofocas.

- Helena, já sabe da novidade? - Ela estava esparramada no tapete do meu quarto, lendo o horóscopo na revista.

- Que novidade? Que vai ter show do Leonardo na cidade? Eu soube. O Caio me convidou para ir com ele. Que ideia...

- Não! Você sabe que vai voltar à cidade?

- Quem?

- O Viny.

Me distraía observando o esmalte formar as rachaduras, mas olhei para ela admirada quando ouvi o nome.

- Como você soube?

- A avó dele contou para minha mãe. Parece que ele chega amanhã.

- Coitado, ele deveria continuar onde estava.

A pior coisa de morar numa cidade tão minúscula quanto a minha é que todo mundo se conhece e praticamente todos têm uma fama. E o Viny foi a criança mais esquisita que já teve por aqui. E o mais zombado na escola também.

Ele é neto dos meus vizinhos da frente. Saiu da cidade cinco anos atrás porque a mãe dele cansou de vê-lo chegar da escola correndo porque os garotos maiores tiravam onda com a cara dele o caminho todo.

Então essa não era exatamente a novidade mais empolgante do ano. As únicas pessoas que deveriam ficar felizes com isso eram a dona Marli e o seu Geraldo, os avós dele.

- O que você achou? - Eu mostrei as unhas para ela.

- Ficou ótimo. Vai ficar incrível com o esmalte verde para o dia do desfile; para combinar com o uniforme.

Meu celular começou a tocar - meu toque, Bella's Lullaby ecoou. Não me mexi. A Drica olhou de mim para o celular e de volta para mim.

- Não vai atender?

- Não. O Ruan não para de me ligar.

- E como você sabe que é ele agora?

Lancei um olhar irônico na direção dela.

- Quer apostar? - Levantei e corri até a mesa de cabeceira. Peguei o celular que tocava loucamente.

No visor aparecia "Ruan". A Drica sorriu e perguntou:

- Até quando você vai evitá-lo?

- Aí é que está. Eu não o estou enrolando. Já falei que acho melhor parar por aqui, que nós não temos nada em comum... todas essas baboseiras... Mas ele não para de lingar!

- Ih, Helena, acho que ele gamou.

Ela agora ria abertamente. E aí é possível ver as desvantagens de preservar uma amizade por tanto tempo: a amiga passa a te conhecer bem demais.

- Que gamou nada! Não estou nem aí se ele estiver caindo de amores. Eu não vou namorar com ele!

- E ele quer namorar com você!? - Ela pareceu realmente surpresa com essa hipótese.

- Pelo empenho dele, acho que sim. Mas... - Franzi as sobrancelhas - por que seria tão improvável? Ele querer namorar comigo, quero dizer.

A Drica deu de ombros displicentemente.

- Ah, todos sabem que você não é para namorar. Você não quer um relacionamento sério; quer ficar com todos os garotos bonitos que aparecerem pela frente.

Olhei para ela muito séria. Em seguida, peguei a almofada da cama - tomando todo cuidado para não borrar o esmalte - e joguei nela. Ela riu e eu acabei rindo também.


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