Capítulo 3

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Bom, ainda que eu já tenha ficado com dezenas de garotos, modéstia à parte, eu ainda sou muito cobiçada. E, também não me importo de ser sincera. Então, eu sei que eu estava bonita com meu jeans preferido, um peep toe azul e o cabelo solto. Eu estava voltando da primeira prova de roupa para a festa da Daniela, quando vi o Viny parado no portão da casa dele, observando a rua com um olhar que posso chamar de nostálgico.

Tenho que dizer, vendo-o pela segunda vez só o achei ainda mais bonito. Quem diria que aquele garotinho magricelo, óculos fundo de garrafa, cabelo despenteado e ar assustado e distraído ia ficar tão... interessante?

Me aproximei pacificamente.

— Oi, Viny!

Ele olhou para mim com, digamos, um pouco mais que indiferença. Talvez desdém fosse a palavra correta - mas deu para ver que ele tem olhos azuis incríveis.

— Vinícius - ele corrigiu.

Ok, nada de apelidos. Acho que isso queria dizer que era muita intimidade. Tentei não demonstrar hesitação.

— Acho que você não lembra de mim. Eu morava... bem, na verdade, ainda moro...

Não terminei de falar porque ele não deixou, ele me interrompeu:

— Oi, Helena.

— Ah — me surpreendi e ergui as sobrancelhas — você lembra.

— Claro.

Eu nunca fui tímida. Não mesmo. Mas estava começando a sentir meu rosto ficando quente. Provavelmente, a causa disso ainda era a forma como ele me olhava.

Ele desviou os olhos para o céu, tirando o cabelo dos olhos. Caraca, a metamorfose era inacreditável! Praticamente de lagarta para borboleta.

— Você não usava aparelho? — Eu sei, eu sei... pergunta totalmente idiota, mas que praticamente saiu contra a minha vontade.

Ele sorriu, apático, ainda olhando para o céu.

— Eu tirei o aparelho há três anos.

— E os óculos? - Eu estava sentindo meu rosto esquentar cada vez mais, o que estava me deixando incomodada.

Desta vez, ele olhou para mim, talvez por tempo demais, como se quisesse ler minha expressão, antes de responder:

— Estou usando lentes de contato. O oftalmologista achou que corrigiria melhor minha miopia do que os óculos.

Mas não era apenas fisicamente que ele tinha mudado. Aquele ar de assustado que ele tinha, desaparecera completamente - aparentemente, havia sido substituído por um ar meio frio e arrogante.

— Por que você e sua mãe resolveram voltar? Achei que vocês fossem da capital agora. Por que voltaram para a "cidade de interior"?

Eu sei, isso parece um ataque. E era mesmo. Porque eu estava começando a me sentir ofendida com aquela arrogância que nunca recebi na vida.

— Isso não é importante.

— Você quer dizer que não é da minha conta? — Mordi o lábio inferior. Agora, além de constrangida, eu estava furiosa.

— Exatamente.

Fulminei-o com os olhos e ergui o queixo com altivez — mesmo eu estando de salto, ele ainda estava vários centímetros mais alto —, depois me voltei para ir para casa. Fiquei ainda mais furiosa porque, apesar de não estar sorrindo, o olhar dele demonstrava divertimento. Ele estava se divertindo às minhas custas!

Incontrolável MenteOnde histórias criam vida. Descubra agora