No dia seguinte, assim que cheguei à escola tive a impressão de que todos queriam falar comigo. No pátio, encontrei com o Gabriel. Ele estava lindo, mesmo com o uniforme da escola. O cabelo ainda meio úmido — gente, estou achando que tenho uma tara por cabelos — e um sorriso enorme estampado no rosto.
— Oi — ele falou. — Tudo bom?
— Oi.
— Você tem algum compromisso sábado? Porque eu pensei que a gente podia sair...
— Claro. Tudo bem - incrível como agora eu não me sentia nem um pouco insegura ou constrangida.
O sorriso dele se alargou ainda mais.
— A gente pode tomar um sorvete ou algo assim — ih, pelo visto, ele é do tipo que fala muito. — Ah, mas eu tenho treino de futsal até as duas e meia da tarde. Então a gente pode se encontrar depois dessa hora. Bem, você sabe, eu não posso dirigir e tal. Mas, se quiser, posso passar na sua casa para pegá-la; a pé, é claro.
Ele falava muito rápido, atropelando as palavras e os assuntos. Tentei sorrir para não deixar transparecer que essa característica me incomodou.
— Ok... Podemos nos encontrar às quatro. E, não, nada desse lance de passar na minha casa. Nada disso — percebi que automaticamente passei a falar mais devagar, vai ver que era meu subconsciente tentando passar uma mensagem a ele: fale mais devagar. — Pode ser na sorveteria mesmo.
— Ótimo! Então, na sorveteria, às quatro, no sábado. Perfeito. Eu tenho que ir. Tenho prova de História na primeira aula e ainda não fiz minha cola. A gente se fala mais tarde. Tchau!
— Tchau... — mas antes que eu terminasse de falar, ele já se afastava.
A Drica, que eu já tinha reparado, observava, ali perto, se aproximou.
— Vocês vão sair? — Ela perguntou, enquanto prendia o cabelo que chegava quase até a cintura
— É... — Eu sei que não demonstrei muita empolgação, o que a fez erguer uma sobrancelha.
Mas antes que a Drica pudesse falar qualquer coisa, a Daniela se aproximou, meio desajeitada, como sempre. Ela não é nada feia, na verdade; morena, com cabelo castanho-claro liso escorrido e baixinha — mas baixinha de um modo adorável que a faz parecer meiga e delicada. Acredito que é a timidez e o jeito como ela é tão quieta que a impede de fazer mais sucesso com os garotos.
— Ah, Helena... Até que enfim te achei! Oi — o "oi" foi dirigido à Drica, que apenas sorriu de volta, parecendo mais preocupada com os bordados enormes no jeans da garota - Eu só queria te avisar — ela falava comigo outra vez — que vai ter um ensaio sexta, você sabe, pra festa.
— Ensaio? — Eu me apavorei. — Com todos?
— É. Amanhã à noite. Vai ser no salão. Você pode ir, né?
— Claro. — Tentei não deixá-la ver meu pânico. — Vou estar lá.
Sim, vou estar. E poderei dançar sozinha, lançando uma nova modalidade à tradicional valsa. Seria uma inovação!
— Então, até amanhã. — Ela sorriu, animada. — Tchau, tchau.
Eu acenei, sem vontade. Assim que a Daniela se afastou, a Drica se voltou para mim, perplexa:
— Você vai dançar na festa dela?
— Vou, por quê?
— Você viu só os bordados da calça dela? Meu Deus!
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Incontrolável Mente
Teen FictionHelena é uma garota de dezesseis anos, popular, bonita e namoradeira. Exceto pelo seu problema de protelação quando se trata do seu dever de casa e os seus vícios em garotos e esmaltes, ela não costuma ter grandes dificuldades na sua rotina. Até que...