Capítulo 4

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No dia seguinte, assim que cheguei à escola tive a impressão de que todos queriam falar comigo. No pátio, encontrei com o Gabriel. Ele estava lindo, mesmo com o uniforme da escola. O cabelo ainda meio úmido — gente, estou achando que tenho uma tara por cabelos — e um sorriso enorme estampado no rosto.

— Oi — ele falou. — Tudo bom?

— Oi.

— Você tem algum compromisso sábado? Porque eu pensei que a gente podia sair...

— Claro. Tudo bem - incrível como agora eu não me sentia nem um pouco insegura ou constrangida.

O sorriso dele se alargou ainda mais.

— A gente pode tomar um sorvete ou algo assim — ih, pelo visto, ele é do tipo que fala muito. — Ah, mas eu tenho treino de futsal até as duas e meia da tarde. Então a gente pode se encontrar depois dessa hora. Bem, você sabe, eu não posso dirigir e tal. Mas, se quiser, posso passar na sua casa para pegá-la; a pé, é claro.

Ele falava muito rápido, atropelando as palavras e os assuntos. Tentei sorrir para não deixar transparecer que essa característica me incomodou.

— Ok... Podemos nos encontrar às quatro. E, não, nada desse lance de passar na minha casa. Nada disso — percebi que automaticamente passei a falar mais devagar, vai ver que era meu subconsciente tentando passar uma mensagem a ele: fale mais devagar. — Pode ser na sorveteria mesmo.

— Ótimo! Então, na sorveteria, às quatro, no sábado. Perfeito. Eu tenho que ir. Tenho prova de História na primeira aula e ainda não fiz minha cola. A gente se fala mais tarde. Tchau!

— Tchau... — mas antes que eu terminasse de falar, ele já se afastava.

A Drica, que eu já tinha reparado, observava, ali perto, se aproximou.

— Vocês vão sair? — Ela perguntou, enquanto prendia o cabelo que chegava quase até a cintura

— É... — Eu sei que não demonstrei muita empolgação, o que a fez erguer uma sobrancelha.

Mas antes que a Drica pudesse falar qualquer coisa, a Daniela se aproximou, meio desajeitada, como sempre. Ela não é nada feia, na verdade; morena, com cabelo castanho-claro liso escorrido e baixinha — mas baixinha de um modo adorável que a faz parecer meiga e delicada. Acredito que é a timidez e o jeito como ela é tão quieta que a impede de fazer mais sucesso com os garotos.

— Ah, Helena... Até que enfim te achei! Oi — o "oi" foi dirigido à Drica, que apenas sorriu de volta, parecendo mais preocupada com os bordados enormes no jeans da garota - Eu só queria te avisar — ela falava comigo outra vez — que vai ter um ensaio sexta, você sabe, pra festa.

— Ensaio? — Eu me apavorei. — Com todos?

— É. Amanhã à noite. Vai ser no salão. Você pode ir, né?

— Claro. — Tentei não deixá-la ver meu pânico. — Vou estar lá.

Sim, vou estar. E poderei dançar sozinha, lançando uma nova modalidade à tradicional valsa. Seria uma inovação!

— Então, até amanhã. — Ela sorriu, animada. — Tchau, tchau.

Eu acenei, sem vontade. Assim que a Daniela se afastou, a Drica se voltou para mim, perplexa:

— Você vai dançar na festa dela?

— Vou, por quê?

— Você viu só os bordados da calça dela? Meu Deus!

Incontrolável MenteOnde histórias criam vida. Descubra agora