Capítulo 19

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Não fui para a escola na segunda-feira. Fiquei ajudando meus pais com a vinda do Gabriel, meu irmão, para casa — ele era sem dúvidas, uma coisinha linda. Então, não acompanhei toda a repercussão que causou a prisão do Wesley. Mas levando-se em consideração que, quando a Drica e a Gaby vieram trazer a matéria do dia na minha casa, elas me contaram tudo como se eu não soubesse, acho que não foi divulgado nada sobre o Viny e eu estarmos lá. Bom, pelo menos não as nossas identidades. E não era eu que ia contar...

Elas também me contaram que o primo da Fernanda saiu dizendo que tinham roubado a moto dele, que ela tinha sumido. Chamou a polícia e tudo. De manhã, ele falou que achou a moto do outro lado da rua onde ele disse que tinha estacionado, intacta. Aparentemente, todos acham que ele bebeu demais e esqueceu onde a tinha deixado — o que me fez acreditar que o Viny voltou, ainda de madrugada para devolver a moto.

Falando em Viny, ele não me procurou na segunda-feira. Bem, eu nunca tinha tido um namorado antes, então, nunca esperei realmente ligação no dia seguinte. Daí eu não sabia se devia ligar ou se eu pareceria uma grudenta se fizesse isso.

De noite, quando eu já tinha desistido, recebi uma mensagem no WhatsApp. Me surpreendi ao ver o nome dele no visor:

Desculpa não te ligar. Estou de castigo, minha mãe confiscou meu celular. Eu peguei escondido para poder mandar esta mensagem. Enfim, espero que você consiga ir para a escola amanhã... Beijos.

Tudo na mensagem tinha a cara dele. Até o fato de não ter nenhuma palavra abreviada, nenhuma gíria... Sabe, a escola nunca pareceu um lugar melhor para ir.

Fiquei olhando meio boba para o celular. Pena que eu não podia responder, porque provavelmente ele havia devolvido o celular antes que a Lilian desse pela falta. Bem, ele podia saber a resposta simplesmente ouvindo meus pensamentos. Mas certamente não era a maneira mais confortável.

Definitivamente, eu precisava esclarecer algumas coisas com ele e esse lance da telepatia.

**********

Uma coisa que eu sempre achei chato nesse negócio de namorar é o lance de ter a necessidade de ficar justo o tempo todo. A coisa mais fácil de identificar é um casal na escola. Isso porque eles ficam juntos em todas as aulas, no intervalo, na saída... De preferência, se agarrando em todas as oportunidades.

Então, imagina só o perigo de namorar com o seu vizinho, que, ainda por cima, estuda na mesma classe... As chances de querer ficar colado o tempo todo são muito grandes.

E na terça-feira eu fui para a escola bem feliz com a perspectiva de revê-lo e bem pessimista com relação a ver demais. E se eu acabasse mesmo enjoando? Será que isto seria possível?

Mas, só para contrariar todas as minhas expectativas, foi bem normal, a princípio, a minha rotina. Fui para a escola com a Drica, não fui interpelada no pátio. O Viny chegou depois de mim na sala de aula e se sentou no canto da sala, em seu lugar habitual. Ele me deixou totalmente à vontade para ficar com as minhas amigas e fazer o que eu sempre fiz. E o melhor é que ele não alardeou nada. Ninguém desconfiava que eu o tivesse pedido em namoro no final de semana - nem mesmo minhas amigas, já que eu ainda não tinha descoberto um jeito de contar sem que elas tirassem uma onda com a minha cara.

Só no intervalo, quando eu acabava de sair da fila da cantina com um copo de vitamina, rindo com a Gaby — a Drica estava se agarrando com o Matheus no estacionamento de bicicletas, claro —, o Viny se aproximou sorrateiramente, perguntando educadamente à Gaby:

— Posso roubá-la um instante? — Ele fez um gesto na minha direção. — Juro que a devolvo logo.

Agora que todos já sabiam sobre o verdadeiro assassino, a Gaby não precisava mais se preocupar em me deixar conversar com um cara com a ficha escolar cheia de advertências, de modo que ela deu de ombros.

— À vontade.

O Viny me puxou pela mão até um canto mais afastado. Eu não sabia se ficava satisfeita ou decepcionada quando ele não me beijou — eu não gostava de beijar em público, não gostava de ter plateia, mas não me lembrava de ter contado isso a ele.

— Você está bem? — Ele me perguntou.

— Claro. Estou ótima — respondi, pega de surpresa. — Por que a pergunta?

— Bem, depois de tudo... Achei que talvez você pudesse estar chocada — ele me encarou, erguendo as sobrancelhas.

Sorri, mostrando que estava bem. Ele tinha um curativo discretíssimo na testa. Afastei um pouco cabelo dele da frente e analisei o curativo, que estava muito bem feito, por sinal. Vendo a direção do meu olhar, ela comentou:

— Minha mãe é enfermeira, lembra? Não se preocupe comigo em questão de curativos.

Mas eu sabia que o maior problema não era aquele cortezinho na testa. Ele tinha se engalfinhado com aquele cara. Segurei seu pulso e puxei para cima a manga de seu casaco. Ele fez uma careta de incômodo.

— Ainda está doendo?

— Sim — ele respondeu, meio que se esquivando. — E se você fizesse a gentileza de não apertar, eu agradeceria.

— Desculpa — falei, afrouxando o aperto. Enquanto analisava os hematomas que estavam roxos agora.

— Seus pais ficaram sabendo sobre a sua visita à delegacia? — Enquanto falava, ele levou um Halls de menta à boca.

— Não. Com toda a agitação com o bebê, ninguém deu atenção à hora e ao estado em que cheguei.

— Sorte a sua — ele riu, desgostoso. — Acho que minha mãe está pensando seriamente em me deixar de castigo para sempre.

— Que exagero... — sorri, divertida. Passando os dedos pelas marcas em seu braço esquerdo, disse: — Espero que agora você consiga se manter fora de brigas por algum tempo.

Ele deu um sorrisinho apático:

— Eu também espero não ter mais motivos para me meter em brigas — ele pegou uma mecha do meu cabelo e enrolou no dedo delicadamente. — Te falei que eu estou de castigo, não? Por tempo indeterminado.

— Eu acho que você mencionou isso... — respondi, ouvindo minha voz ficar pastosa. Ele não devia ter o poder de fazer isso com tão pouco esforço. — A gente pode aproveitar um pouco aqui na escola... Sabe, até você poder sair de novo.

Rapidamente, minha mente começou a buscar algum lugar mais discreto, com menos olhos curiosos. O Viny sorriu de um jeito maroto.

— Acho que não.

Dois segundos depois o sinal tocou, acabando comtodo o clima. Ele colocou a mecha de cabelo atrás da minha orelha, como adoravafazer, aparentemente e começou a se afastar, ainda sorrindo. Quantas pessoastinham visto aquele gesto e desconfiado de alguma coisa entre nós? Ah, dane-se!Na verdade, agora eu queria que as pessoas soubessem que estávamos juntos e queo Viny não estava mais disponível. E pensar que eu realmente acreditei quenunca sentiria ciúmes...

Incontrolável MenteOnde histórias criam vida. Descubra agora