Capítulo 5

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Esse falatório sobre o Viny — acho que agora todo mundo concordou em chamá-lo pelo nome de verdade, exceto eu — não durou muito tempo, porque um falatório ainda maior começou.

Um falatório meio mórbido para o meu gosto, aliás. Alguém tinha levado para a escola um jornal cuja principal notícia a morte de uma garota de dezessete anos.

Pelo que ouvi dizer, ela estudava na nossa escola, era do último ano. Eu não me lembro dela. Mas aparentemente todo mundo a conhecia.

Durante o intervalo, de alguma forma, o jornal chegou até mim.

— Ela foi asfixiada? Que horror! — A Drica comentou, num sussurro.

Com a visão periférica, acompanhei enquanto o Viny se aproximava por trás de mim. Ele estava lendo por cima do meu ombro — eu sei que, levando em conta que na sexta-feira nós dançamos valsa juntos, eu não deveria estar tão incomodada com a proximidade dele.

Ele se sentou à carteira em frente à minha, virado para o encosto da cadeira, girando o jornal para poder ler.

— Isso aconteceu na sexta? — A voz dele soou preocupada.

— Aham. O corpo foi encontrado ontem. Mas deve ter acontecido na sexta à noite, segundo a matéria - respondi, pois, a Drica parecia hipnotizada, olhando para o Viny.

Os olhos dele percorreram a página com atenção. Seu semblante demonstrava mais concentração do que eu já vira - principalmente porque ele tem tendência a de distrair com muita facilidade.

— Você a conhecia? — Ele não reagiu. Nem pareceu escutar. Toquei sua mão e a sacudi de leve. Ele levantou os olhos, confuso. — Você conhecia a garota?

Ele pensou durante alguns segundos. Meneou a cabeça.

— Não — delicadamente, deslizou o jornal de volta na minha direção. Levantou e saiu sem dar explicações, mas de alguma forma o gesto não foi rude.

Quando todos que a conheciam pareciam apenas curiosos com um tipo de crime que nunca acontece por aqui. Parecia uma multidão de repórteres sensacionalistas. De alguma forma, o Viny parecia o único sentido pela Jéssica, esse era o nome dela.

Bem, esses crimes violentos não são tão comuns por aqui. Claro que sempre existem assaltos e furtos, não moramos no paraíso, afinal. E também existem drogas ilegais e as pessoas que as usam e as pessoas que as vendem.

Mas ter um tipo de assassinato desses, deixou a população meio biruta ou sei lá o que. Todos, eu disse todos, estão falando sobre a Jéssica e levantando hipóteses mirabolantes. Desde um namorado vingativo até um maníaco pervertido.

Se quer saber minha opinião, o maníaco pervertido deve estar mais perto da verdade, já que fiquei sabendo que ela namorava com o Marcelo, o filho mais velho do dono da Cyber. E o vi na escola, na semana seguinte, e ele parecia o cara mais arrasado da Terra.

Mas ainda parecia,pelo menos para mim, que grande parte das pessoas apenas estava impressionadacom a "grandiosidade" do "crime de cidade grande". E quersaber? Isso é... decepcionante.    

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Sabe, eu cheguei de verdade à conclusão de que tenho alergia a dever de casa. Eu realmente, realmente odeio isso. E acho que o sentimento é recíproco.

Bem quando eu decido fazer o trabalho de Literatura em pleno domingo — que, coincidentemente, era para entregar no dia seguinte -, o meu computador resolveu dar um piti - e sabe aquela história de dar umas porradas no computador? Esqueça. Isso não o fará trazer de volta as duas páginas que você ainda não tinha salvado.

Incontrolável MenteOnde histórias criam vida. Descubra agora