Cap. 03 - Cadê a confiança?

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O ônibus faz uma curva brusca, eu bato minha cabeça no vidro e solto uma exclamação de dor.
Nós havíamos decido na rodoviária e pego outro ônibus, então depois de quase duas horas eu adormeci com a cabeça apoiada na janela e agora meu pescoço sofria os efeitos disso.
Eu conserto a postura, colocando-me ereta, e subo uma das mãos ao pescoço pressionando levemente o local dolorido.
Estávamos em um trecho de estrada onde os únicos sinais humanos eram o asfalto e as ocasionais placas de transito.

-Acho que vou trocar little bee por Aurora. -Zack diz num tom engraçado e sorrio ironicamente.

-E quem você seria? -indago arqueando a sobrancelha e mostrando-lhe um sorriso malicioso. -O príncipe? -sugiro e ele dá um sorriso conquistador.
Não me leve a mal, eu estava apenas brincando e não existe nada entre nós além de amizade, nem poderia. Eu vejo Zack como o irmão mais velho que não tive, do tipo implicante e idiota, desde o início, na minha segunda semana de aula em Winchester, quando por algum motivo desconhecido ele decidiu que sentar perto da bolsista estranha e deslocada seria uma boa ideia, era como se ele soubesse tudo sobre mim e pudesse me entender com apenas um olhar, como se fossemos amigos de longa data.

-Desculpe, mas você não faz meu tipo little bee.

-E qual é seu tipo bonitão? -eu cruzo os braços e olho-o inquisidora. A verdade é que eu nunca havia visto Zack de olho em uma garota e ele nunca me falara de namorada alguma... Talvez ele fosse gay?

-Eu prefiro as mais naturais. -ele responde e eu cerro os olhos, fuzilando-o com o olhar.

-Está dizendo que eu sou superficial?

-Não, não foi... -ele começa mas então vê o ônibus parar.

-Chegamos? -pergunto confusa vendo ele observar duas passageiras subirem.
Eram duas garotas que não podiam ser muito mais velhas que nós, mas elas eram magras como modelos e altas, a primeira tinha cabelo ruivo, liso e longo caindo sobre seu rosto pálido e dando destaque a seus olhos azuis, a segunda era loira e seu cabelo também era liso, mas tinha um corte curto e despojado, sua pele era igualmente pálida e seus olhos azuis e as duas vestiam minissaias e uma camiseta com amplo decote.

-Sim. Vamos rápido antes que o ônibus saia. -ele sussurra em resposta encarando as duas novas passageiras, então tira a jaqueta que está usando e joga em mim.

-Pra que isso?

-Está frio lá fora. Pode colocar. -ele diz ainda sussurrando e observando as garotas andarem pelo corredor olhando ao redor como que a procura de algo. Eu coloco a jaqueta e assim que o faço ele se levanta e praticamente corre entre os outros passageiros, eu sigo-o sem entender e quando as portas estão prestes a fechar ele alcança os degraus e salta comigo logo atrás.
O ônibus arranca e segue seu caminho, eu olho ao redor e me dou conta de que estamos no meio da rodovia. Logo atrás de nós encontra-se uma floresta, cheia de árvores, como carvalhos e salgueiros, onde a luz mal parece entrar e à alguns metros, do outro lado da pista, está um plantação de morangos.

-Vamos! Temos que ser rápidos. -Zack diz fazendo-me voltar sua atenção a ele que começa a atravessar a rodovia.

-Vamos pra onde? Não há nada aqui. E por quê temos que ser rápidos? O que está acontecendo Zack? -pergunto rapidamente seguindo-o.
Eu tinha certeza que havia algo de errado acontecendo, algo que ele, pelo tempo que havia passado desde que eu fizera a pergunta, não queria me dizer.

-Zack! -eu chamo mais uma vez quando acabamos de atravessar a pista e ele segue andando em linha reta ao lado da estrada. -Se você não vai me contar o que está havendo eu vou ficar aqui e esperar pelo próximo ônibus. -aviso parando e virando-me pra olhar a pista.

Ao longe, logo antes de uma curva, eu podia ver o ônibus do qual havíamos descido dar uma freada atrasada fazendo-o virar levemente, deixando o automóvel atravessado na pista.

-Eu vou te explicar tudo quando chegarmos lá little bee. Agora vamos. -ele diz olhando na mesma direção que eu e começando a me arrastar.

-Porque você age como se estivéssemos sendo perseguidos? -pergunto no exato momento em que as portas do ônibus se abrem e as duas garotas com cara de líderes de torcida descem, então eu lembro da reação dele quando elas entraram no ônibus e passo a andar também.

Talvez estivéssemos mesmo sendo seguidos.
Ele retira os sapatos jogando-os por sobre a cerca e começa a escalá-la com certa habilidade.
É quando me dou conta de que a palmilha de seus sapatos são na verdade moldes e que seus pés são... Espera. Aquilo são cascos?
Meus olhos se arregalam e eu fico confusa. Eu ainda estava sobre o efeito de uma misteriosa droga ou tudo o que eu pensara ser um sonho havia realmente ocorrido?
Mas isso não era possível, era? Os cascos explicariam o fato de ele andar de forma tão estranha, mas como era possível que ninguém tivesse notado? E ele me contaria se fosse em parte um animal de estábulo, certo? Eu era de confiança e acima de tudo sua melhor amiga, ele devia saber que poderia me contar qualquer coisa. Até mesmo isto.
Ele aterriza do outro lado e olha pra mim, como se esperando que eu fosse me arriscar a passar aquela armadilha de arame farpado e madeira.

-Rápido! -ele me apressa aproximando-se da cerca e minha expressão vai de confusão a incredulidade e raiva.

-O que te faz pensar que eu vou pular essa cerca? -indago pondo uma mão na cintura e outra no arame. Vai ver ele acha que eu sou uma louca.

Talvez ele esteja certo.

-Acha que pode nos despistar cria do mar? Nós conseguimos sentir o seu cheiro à quilometros. -Ouço uma voz feminina dizer e olho para trás para ver as duas garotas se aproximando.
Claro, tirando a parte que elas não pareciam de forma alguma com garotas agora.
As pernas antes perfeitas das duas parecia ter se transformado em outra coisa e agora uma de cada uma delas parecia ser de bronze e a outra e a outra como a de um cavalo ou burro. Os cabelos das duas mudaram de brilhantes e macios para chamas ardentes, como o Hades naquele desenho do Hércules e suas peles pareciam incrivelmente pálidas, enquanto seus olhos me encaravam com um aparente ódio.
-Você vai ser o nosso jantar, mas antes... Vai se arrepender por tentar fugir de nós! -a segunda ruge acompanhando-a.
Acho que isso já é motivação suficiente.
Eu viro-me para a cerca e escalo-a rápida e desajeitadamente apoiando as mãos na primeira fila de arames, então passo uma das pernas pro outro lado e depois a outra, entrando em pânico quando piso em falso e perco o equilibrio.
Eu espero que meu corpo atinja o chão e eu sinta partes do meu corpo se quebrarem, mas braços me apoiam e eu pego-me encarando Zack. Ele me põe no chão e puxa-me por entre os morangueiros, eu corro o mais rápido que posso porque tenho certeza de que ainda estamos sendo seguidos. Meus braços, minha mão esquerda e uma de minha pernas doem e eu estou totalmente consciente do sangue que escorre por elas e pra melhorar minha cabeça doia como se eu a tivesse batido contra uma parede.
Tudo o que eu via a minha frente eram mais e mais morangueiros e eu não tinha a menor ideia de pra qual direção deveriamos ir, mas pelo jeito Zack devia saber. Ou é o que parece.
Eu ouvia o som do fogo consumindo as plantas, então parecia que as nossas perseguidoras estavam nosso encalço e se não arranjassemos um jeito de para-las e encontrar um abrigo encontrariamos a morte mais cedo. De um jeito ou de outro.

ΩΩΩ
Amores!!! Como vão vocês?
Desculpem! Eu sei que esse capítulo demorou mais que o previsto, mas por favor não me matem!
O que acharam?
Como acham que isso vai acabar?
Como acham que essas duas vão ter seus caminhos de volta ao Tártaro?
Continuo em breve
Bjs com néctar!!!

A Herdeira PerdidaOnde histórias criam vida. Descubra agora