Cap. 06 - Intrusa

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Depois daquele anúncio Quíron fez com que os campistas se dispersassem e me levou até o chalé de número 3.

Ele era baixo e robusto, com paredes feitas de alguma pedra firme e cinzenta, com pedaços de conchas e corais incrustados, como se alí fosse o fundo do mar, e um tridente sobre a porta.

-Quando a trombeta soar siga os outros campistas para o jantar. -ele diz sob as minhas costas e ouço-o se afastando.

Assim que abro a porta o cheiro me atinge e eu quase dou um passo atrás, surpresa. A maresia era tão forte como seria se eu estivesse na praia e eu não lembrava de quão boa era essa sensação, mas eu sinto como se finalmente estivesse em casa.

As paredes aqui dentro são brilhantes como madrepérola e as janelas são voltadas na direção do mar. Seis beliches são distribuídos em iguais intervalos, mas apenas um parece já ter sido ocupado já que é o único com pertences. Há também uma fonte no fundo do chalé, feita de uma pedra cinzenta e com um peixe que sai água pela boca ao centro, água essa que pelo cheiro quando me aproxima, é salgada, ela também é decorada em diversos tons de coral e tem estranhas moedas douradas ao fundo.

Eu me inclino sobre a fonte e olho de perto. As moedas eram maiores que o normal, tendo o tamanho dos biscoitos especiais que a Sra. Montês fazia no Dia de Ação de Graças, eram douradas como se feitas de ouro puro e o rosto de alguém que devia ser importante e inscrições em grego.

-São dracmas. -Zack diz entrando no chalé e eu quase caio dentro da fonte.

Eu levantos e esfrego as mãos uma na outra antes de olhar pra ele.

-O que você está fazendo aqui? Eu ainda estou brava com você. -digo fazendo cara de brava e sentando-me no beliche mais proximo.

-Você vai me perdoar um dia. -ele diz aproximando-se e sorrindo pra mim antes de sentar no beliche da frente.

-Quem disse? Eu posso odiar você pra sempre se quiser.

-Não pode não. -ele diz parecendo completamente certo disso, o que me deixa ainda mais irritada.

-Quem garante?

-Você.

-Eu? - exclamo encarando-o confusa.

-Sim. Você disse ainda. -ele explica e eu reviro os olhos. -Eu vim pedir desculpas. -ele começa depois de um tempo e eu olho ao redor.

Plantas estranhas e corais haviam sido postos nas janelas e cavalos com a metade de baixo do corpo de um peixe, só que com algas no lugar de barbatanas e também no lugar da crina e dos cascos dianteiros.

-O que é aquilo? -pergunto e indico os cavalos-algas.

-Hipocampos. -ele responde depois de olhar por um tempo e eu apoio meu peso sobre os braços com as mãos espalmadas na cama e inclino a cabeça de lado encarando.

-Pelo que exatamente?

-Por ter mentido pra você. Eu sei que fui um péssimo amigo por te esconder tudo isso, mas eu juro pelo Estige que foi apenas pra te proteger.

-Sei. Aquela história do cheiro, não é? -pergunto e ele assente. - Mas se tudo aquilo foi mentira... Você é realmente meu amigo? -pergunto depois de suspirar e fechar os olhos por um minuto. Eu tinha medo de que ele respondesse que até aquela parte era uma farsa.

-Claro que sim little bee! Eu não precisava ser seu amigo pra te proteger, eu fiz isso porque vi a pessoa maravilhosa que você é. -ele diz e em um minuto está ao meu lado, seus braços me trazendo pra mais perto e apertando-me. -Você me perdoa? -ele pede e eu sorrio retribuindo o abraço.

A Herdeira PerdidaOnde histórias criam vida. Descubra agora