Surpreendida

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— Isso é loucura - digo quando estamos entrando no campus.
— Não é sua primeira festa de faculdade - Jackie diz.
— Mas deve ser a primeira que tem uma gravida - digo.
— 50% das garotas em festas de faculdades estão grávidas - Jackie diz - A diferença é que elas não chegam até o fim.
— Que horror Jackie! - digo.
— Apenas a realidade minha cara - Jackie diz estacionando atrás de uma fila de carros - Prepare-se para se divertir - ela diz retocando o batom vermelho. Jackie desce do carro e eu a digo depois de respirar fundo.
Jackie usa calça de couro com uma regata, seus saltos meia pata lhe dão 15 centímetros, mas mesmo assim ela continua mais baixa do que eu.
Entramos numa das casas de fraternidade, garotos mais velhos viram garrafas de Vodka garganta a baixo, garotas se jogam em cima dos caras e outras observam o ambiente dentro de um grupo de amigas.
Sou logo reparada por todos na casa. As pessoas olham e apontam para minha barriga, tento ignorar mas não consigo. Os cochichos entram no fundo da minha mente e fazem minha cabeça doer.
— Eu não devia estar aqui - digo para Jackie.
— Relaxe, você não fez nada de anormal.
— Estou gravida numa festa de fraternidade, isso é anormal - digo em resposta.
— Rebecca, pare e curta, aproveite seu momento, não se importe com os outros - Jackie diz pegando um copo de cerveja.
— Vou procurar algo para beber na cozinha - digo indo rumo ao cômodo.
— Te espero na sala de TV - Jackie grita.
A cozinha fede, garotos enchem copos com cerveja de barris. Pego um copo e encho-o d'água.
Alguém vomita e o cheiro faz meu estômago embrulhar, tento segurar a respiração e sair dali antes que eu vomite também. Andando de olhos fechado tentando controlar meu estômago esbarro em alguém.
— Me perdoa - digo tentando limpar a camiseta suja de nacho do cara que esbarrei.
— Não foi nada, realmente - ele diz. Quando levanto a cabeça para olhar-lo não acredito em quem vejo.
— Dr. Philip? - digo indignada.
— Rebecca, o que faz aqui? - ele pergunta - Se bem que isso não me importa.
— Vim com uma amiga - digo - Pensei que já fosse formado.
— Sou, mas pertenci a essa fraternidade por 5 anos, meio que dediquei parte da minha vida a ela, tinha que conferir se a primeira festa desse ano seria altura do Alpha Epsilon.
— Não pensei que você fosse líder de alguma fraternidade - digo.
— Pareço certinho de mais para isso? - ele pergunta.
— Não! Só que pensei que você fosse mais sério - digo - Não que você não seja sério.
— Meio que me transformo quando estou com meu pai - ele diz.
— Sei como é - digo.
— Disse que está com uma amiga? - ele diz.
— Parece que ela está meio ocupada - digo vendo Jackie dar mole para um cara.
— Se quiser me acompanhar estou indo para o jardim - ele diz.
— Claro - digo. Sigo-o até a entrada da casa, há copos espalhados pelo jardim, dois casais se pegando em uma única cadeira de balanço.
Philip pega uma toalha de mesa e estende no chão. Faz uma mesura me mostrando que posso me sentar. Rindo sento no chão e ele senta ao meu lado.
— E então? - ele diz depois de uns segundos de silêncio.
— Sou péssima em puxar assunto - digo.
— Isso na verdade é um ótimo assunto, porque também tenho esse problema - ele diz entre os goles da sua cerveja - Como era quando você era pequena?
— Odiava quando tinha que mudar de escola - digo - O silencio sempre me incomodou.
— Em breve você não terá mais esse problema - ele diz.
— Não sei como será quando eles estiverem aqui, já tentei imaginar muitas vezes, mas não consigo - digo.
— Deve ser uma situação difícil - ele diz bebendo, encaro-o por um segundo - Quer um pouco?
— Estou gravida - digo.
— Um gole não vai matar seus filhos - ele diz.
— Não sei, acho melhor não - digo.
— Já ouviu falar que gravida não pode passar vontade? - ele pergunta.
— Já ouviu falar que gravida não pode ingerir álcool? - digo sarcasticamente.
— Não é recomendado você beber um copo de Vodka, mas um pouco de cerveja não vai lhe fazer mal - ele diz - Pode confiar em mim, quer ver minha licença?
Pego o copo da mão dele e apenas deixo o líquido amargo encostar na minha boca.
— Na ultima vez que bebi tomei 3 cervejas e uma garrafa de Vodka - digo.
— Sozinha? - ele pergunta e eu afirmo - Você é louca?
— Tinha acabado de concordar em ser a barriga de aluguel da minha madrasta, então sim, eu sou louca - digo.
— E quando ficou gravida do segundo? - ele pergunta.
— Quando achei que não estava gravida da Lizzie - digo encostando novamente a cerveja no meus lábios.
— Fez o teste logo depois da inseminação? - ele pergunta rindo.
— Achei que fosse instantâneo - digo.
— Nem se você tivesse feito logo após do sexo teria funcionado - ele diz - Um feto não se forma numa noite.
— Perdoe-me por ser leiga quando o assunto é gravidez - digo - Tudo o que eu sei é tomar anticoncepcional e ser feliz.
— Camisinha é um objeto estranho? - ele perguntando pegando o copo da minha mão.
— Devo ter usado uma ou duas vezes - digo.
— Não tem medo de uma DST? - ele pergunta entre goles.
— Só transei com um cara minha vida toda, e eu confiava extremamente nele - digo.
— Jamais confie extremamente em alguém - ele diz - Nem no seu namorado.
— Ex-namorado - digo pegando o copo de cerveja e dando um gole de verdade.
— Vá com calma - ele diz pegando o copo de mim - Não afogue suas mágoas no álcool.
— Não tenho mágoas - digo deitando na toalha.
— Não é isso que você aparenta - Philip diz.
— Eu terminei com ele - digo.
— E o que mais? - ele diz deitando-se ao meu lado - Prometo confidencia médico e paciente.
— Não é nada de mais - digo - Apenas queria que ele tivesse lutado por mim, foi basicamente como se ele aceitasse jogar no lixo anos de um relacionamento.
— Rebecca você terminou com ele, ele apenas aceitou - Philip diz - Foi sua escolha.
— Ele não quer nem o bebê - digo.
— Isso já é obrigação dele - Philip diz - Posso conseguir um bom advogado.
— Não vou obriga-lo a ser pai - digo.
— Você é mais forte do que parece - ele diz.
— Por que? - pergunto.
— Porque parece uma garota frágil por fora, mas é uma guerreira por dentro - ele diz - Você quer ser mãe solteira, você não se importa em fazer tudo sozinha.
— Claro que queria alguém para me ajudar - digo - Porém acho que consigo fazer sozinha.
— Já cuidou de um bebê? - ele pergunta.
— Fiquei de babá algumas vezes - digo.
— Então sua prática é baseada nas algumas vezes de babá? - ele pergunta.
— Não tenho irmão mais novo - digo - Então sim.
— Em breve terá um irmão mais novo - ele diz.
— Não vejo Théo como meu irmão - digo.
— Sabe as leis sobre barriga de aluguel, não é? - ele diz - Não pode ficar com a criança.
— Posso lutar no tribunal - digo - Ainda não decidi o que farei.
— Boa sorte - ele diz virando o copo de cerveja.
— Mudando de assunto ainda não acredito que pertencia a uma fraternidade - digo e ele ri.
— Aposto que sonha em entrar numa irmandade - ele diz.
— Já sonhei mais - digo - Duvido que exista uma para mães solteiras.
— Qual era sua irmandade dos sonhos? - ele pergunta.
— Pi Beta Phi - digo.
— Chutaria que você queria ir para Yale - ele diz.
— Sim, e a Pi Beta Phi foi uma das primeiras irmandades - digo - E foi a qual a minha mãe pertenceu.
— Não sabia que Elizabeth tinha cursado em Yale - ele diz.
— Não, minha mãe biológica - digo
— Sua mãe é americana? - ele pergunta.
— Brasileira - digo - Porém passou a maior parte da vida aqui.
— Deve sentir falta dela - ele diz.
— Não me lembro muito dela - digo - Ela entrou em coma eu tinha cerca de 2 anos.
— Coma? Imagino que não tenha sido fácil - ele diz.
— Não é fácil - digo - Parece que eles a mantêm congelada, esperando ela ressuscitar, não é atoa que odeio ir visita-la.
— Espera! Sua mãe está viva? - ele pergunta espantado.
— O coração continua a bater - digo - Mesmo que por máquinas.
— Ela teve morte cerebral? - ele pergunta.
— Não 100% - digo - Ela perdeu apenas uns 45% das atividades cerebral. E a tendência é de perder mais a cada ano.
— Acredita que ela vai acordar? - ele pergunta.
— Realmente, não - digo - Mas meus avós insistem com isso.
— E seu pai? - ele pergunta.
— Ele considera que ela se foi - digo - Por isso casou-se de novo.
— Acho que estou entrando de mais na sua vida - ele diz.
— Podemos resolver isso - digo sentando-me - Me conte sobre você. Quem realmente é Phillip Albers?
— Phillip Albers? Pois bem, Phillip é um cara que conheço um pouco, cada vez mostra um lado inusitado e cada vez faz besteiras mais inacreditáveis, principalmente quando quer impressionar o pai - ele diz.
— Apenas isso? - pergunto.
— Ele gosta de longos passeios na praia e...
— Phillip! - digo.
— Tudo bem! O que você quer saber? - ele diz.
— Por que médico? - pergunto.
— Cresci com a medicina, apenas 13 gerações de médicos - ele diz.
— E a 14ª era o que? - pergunto.
— Ele era sapateiro - Phillip diz - Ficou famoso por um estilo de remendo e conseguiu mandar o filho para Inglaterra para estudar medicina.
— Como sabe disso? - pergunto.
— Queria saber se era mesmo isso que queria antes de entrar na faculdade - ele diz - Porém não sei mexer com sapatos e muito menos sei ser barbeiro como o 15º.
— Seus pais apoiáramos cara sua escolha, não é? - digo.
— Eles não reclamaram - ele diz - Sei que não reclamariam se eu escolhesse outra coisa, mas sei que ficaram aliviados.
— Não teme ter um futuro igual ao deles por seguir os passos do seu pai? - pergunto.
— Não, porque sei que não tomarei certas decisões que ele tomou.
— Poderia saber quais? - pergunto e ele levanta a sobrancelha - Eu te contei da minha mãe em coma.
— Jamais me casaria por dinheiro - ele diz.
— Seu pai não parece o tipo de homem que casaria por dinheiro - digo.
— Isso porque não conhece meu avô - ele diz - Sr. Phillip é bem insistente, principalmente se visa o lucro.
— Tem o nome do seu avô? - pergunto.
— Phillip Frederick Albers IV - ele diz nada animado.
— Que coisa fofa - digo rindo.
— E por que Rebecca? - ele pergunta.
— Por causa de um livro - digo - Minha mãe era apaixonada por esse livro e basicamente fui concebida nas coxias do teatro onde estava sendo exibida a peça desse mesmo livro.
— Lembra-se do título? - ele pergunta.
— Não, a muito tempo não pergunto sobre isso - digo.
— Nas coxias? - ele pergunta.
— Meus pais mal tinham 22 anos - digo - faziam coisas estranhas.
— Reza a lenda que fui concebido num balneário no Caribe, porém baseado no relacionamento dos meus pais, fui concebido num laboratório - ele diz.
— Não me lembro bem dos meus pais juntos, mas lembro-me que eles sempre liam juntos, discutiam sobre peças e folheavam programas velhos - digo - Lembro do cheiro de j'adore da minha mãe, que de tanto carregá-los, deixou o cheiro nos seus livros favoritos. Hoje o cheiro é quase nulo, mas ainda consigo lembrar-me.
— Seus pais eram escritores? - ele pergunta.
— Minha mãe era, meu pai sempre foi professor - digo - Minha mãe na verdade era um pouco de tudo, ela amava fazer viagens arqueológicas, ela amava passar horas lendo livros de psicólogos, se bem que ela lia qualquer coisa.
— Ela sofreu um acidente? - ele pergunta.
— Ela tinha um tumor - digo - Cresceu ao ponto de colocar a vida dela em risco, meus avós pagaram o melhor neurocirurgião, mas não foi o bastante, ela nunca acordou da cirurgia.
— Queria ter boas lembranças como a sua da minha mãe - ele diz - Tudo o que me lembro dela é de quando voltava de viagem e trazia caixas e caixas de presentes, mas o que mais me alegrava era ela abrir todos comigo. Mas logo ela viajava de novo, Paris, Londres, Tokyo, ela nunca parava num lugar. E hoje em dia, cada vez que a vejo ela tem algo diferente no rosto, mal consigo reconhecer minha mãe.
— Eu nem imagino como minha mãe está, ela deve ter envelhecido - digo - Mas não gosto de pensar em como ela está, prefiro imaginar como ela era.
— Você trata Elizabeth como sua mãe? - ele pergunta.
— Não mais, aconteceram coisas que nos afastaram - digo - Mas sempre achei que podia fingir que ela era minha mãe, seria mais fácil de enfrentar isso.
— É uma realidade difícil - ele diz.
— Sempre me pergunto como seria se ela estivesse aqui - digo.
— Acho que você não estaria gravida - ele diz - E eu não estaria com a camisa suja de queijo.
— Talvez estivesse, mesmo que minha mãe estivesse consciente, Jackie seria minha amiga, e me arrastaria para festa, onde você estaria me esperando com uma bacia de nachos nos braços - digo.
— Que romântico - ele diz rindo - Mas sua mãe poderia não gostar da mãe da Jackie e fazer com que vocês não se vejam, o que a tiraria da festa e me deixaria sozinho com uma bacia de Nachos - ele diz.
— Nossas mães eram melhores amigas, duvido que minha mãe não gostasse dela - digo.
— Sua vida parece meio complicada - ele diz.
— E a sua parece um filme clichê - digo.
— Só falta eu encontrar a garota pobre e me apaixonar por ela - ele diz.
— E sua família proibir - digo apoiada nos braços.
— Talvez seja um cara - ele diz.
— Você é gay? - pergunto.
— Nunca tive a experiência - ele diz.
— Não precisa de experiência - digo - É só você olhar para um cara e sentir atração por ele.
— Isso nunca aconteceu - ele diz.
— Mas já aconteceu com garotas - digo.
— Algumas vezes - ele diz - Você precisou uma das vezes.
— Eu o que? - pergunto.
— Nada - ele diz - Idiotice minha.
— Você sentiu algo quanto me viu de lingerie no banheiro?
— Que hétero não sentiria? - ele diz.
— Você é meu médico e eu sou seu objeto de estudo, isso não é impróprio? - pergunto.
— Seria se houvesse algo realmente acontecendo entre nós, e não há - ele diz.
— Voce admitiu ficar excitado ao me ver seminua - digo - Isso não é nada?
— Não disse que fiquei excitado, estávamos falando sobre atração - ele diz - Posso provar que não há nada entre nós - ele me puxa violentamente e me beija, meus olhos arregalam-se coma surpresa e meu coração dispara pela adrenalina.
— O que é isso? - pergunto admirando quando sou solta.
— A prova de que não há nada entre nós - ele diz.
— Eu estava brincando - digo respirando fundo.
— E eu estava enganado - ele diz.
— Sobre o que? - pergunto.
— O que eu sinto por você não é mera atração.

...

Não revisei tão bem, estão relevem os erros ou me avisem.

O que acham do Phillip????
Me digam!!!

Até daqui duas semanas.
Bj Bj

Por AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora