Recomeço

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— Nos vemos logo? - pergunto.
— O quanto antes - ele diz despedindo-se.
Meus dedos ainda entrelaçados aos dele, são lentamente separados a medida que me afasto, rumo a sala de embarque.
Sammy volta a resmungar, enquanto lágrimas pingam de meu queixo.
— Até logo papai - sussurro para ele tendo meu último vislumbre de Phillip.

7 meses depois

— Vó, a senhora viu onde está o mordedor da Samantha? - grito sobre o choro da minha filha - Você ainda vai me deixar louca.
— Estava no balcão da cozinha - minha avó diz entregando-me o brinquedo - Vai sair?
— Preciso comprar body para Sammy - digo pegando minha bolsa e ajeitando-me na frente do espelho.
— E pelo menos algumas blusas para você - ela diz.
— Ela vomitou em tudo que eu tenho - digo.
— Temos máquina de lavar roupa no apartamento, sabia? - ela pergunta sentando-se no braço do sofá.
— Eu sei vó, e ela é muito útil - digo - Mas comprar é uma espécie de terapia para mim.
— A culpa é de Luiza, por te dar um cartão sem limite.
— Volto antes do almoço - digo beijando-lhe o rosto, abaixo-me sobre os saltos - Daqui a pouco mamãe estará aqui, comporte-se.
Pego um táxi até a Avenida Paulista, e compro mais do que planejava.
Volto para o apartamento e como costume, levo um tempo para achar minha chave dentro da bolsa.
Quando finalmente consigo abrir a porta, ouço o tilintar das chaves batendo no chão, quando solto minhas sacolas por ficar sem reação.
— Phillip? - a única palavra que sai da minha boca.
— Devo dizer que fiquei decepcionado por não estar aqui para me receber - ele diz enquanto balança Samantha no colo.
— Cuidado com o oxigênio - digo desenrolando o tubo da mão dele.
— Não foi essa recepção que eu esperava - ele diz.
— Phillip é sério - digo pegando Sammy do colo dele.
— Senti falta das suas neuras - ele diz.
— Não é neura - digo.
— Não acho que a oxigenoterapia seja necessária pra Samantha.
— Sammy tem displasia broncopulmonar - digo - Sabe que é importante que ela use o oxigênio agora.
— Eu sei - ele diz - Mas é estranho pegar meu bebê cercado de tubos.
— É só um tubo - digo entregando-a a ele - E você já tinha visto fotos.
— Era diferente.
— Só me dei conta agora - digo abraçando-o - Se você está aqui, então o processo terminou.
— Praticamente - ele diz - Ainda não saiu o veredicto, mas como você manda os laudos dela, e eles sabem que você é a melhor mãe para Sammy, é certo de que ninguém vai tirá-la de nós.
— Tinha me esquecido quão quente era sua pele - digo tocando seu rosto.
— Rebecca! Deixou tudo jogado na porta - minha vó diz ao entrar na sala.
— Minha culpa - Phillip diz.
— Vou guardar minhas sacolas, mas podemos ir almoçar, conheço um lugar incrível - digo.
— Prometi para sua avó que iria experimentar a lasanha dela - Phillip diz.
— Lasanha? - digo revirando os olhos - Ótimo.
— Hey pare com isso - ele diz pondo Sammy no tapete, e sem seguida colocando as mãos na minha cintura - Você está mais linda que nunca, e sei como ama massa.
— Acabei de chegar no meu peso - digo me desvencilhando das mãos dele - Não vou arriscar.
Antes que eu consiga sair, Sammy chora pedindo colo.
Pego-a e a coloco no colo de Phillip.
— Como senti sua falta - digo selando seus lábios.
Arrumo minhas coisas e quando volto, encontro todos a mesa.
Ao me ver Samantha chora, estendendo os braços para mim. Tiro-a da cadeira de alimentação, e sento á mesa com ela no meu colo.
Ela puxa minha blusa deixando bem claro o que quer.
Minha avó me entrega uma fralda, e consigo amamentar Sammy.
Todos comem, meus avós conversam, quando percebo o olhar fixo de Phillip.
— Está tudo bem? - pergunto fazendo-o perder a atenção do meu busto.
— Ela não vai sufocar com esse tubo? - Phillip pergunta.
— Não.
— Isso parece meio perigoso - ele insiste.
— Faço isso a meses Phillip - digo.
— É completamente seguro - minha avó diz.
— Eu não sei - Phillip diz me fazendo respirar fundo.
— Samantha tem os melhores médicos ao seu dispor - meu avô diz - Eles não recomendariam algo que não é seguro.
— Acho que...
— Eu não quero saber o que você acha - digo - Estou aqui, amamentando meu bebê, que por acaso já tem dois dentes. Não é uma situação confortável, mas Sammy precisa do meu leite para deixar de usar esse maldito tubo que tanto te incomoda, então faça o favor de ficar quieto e parar de reclamar.
Phillip suspira e abaixa os olhos para a comida.
Quando saímos da mesa, ainda carrego Samantha no meu colo.
— Precisamos conversar - Phillip diz tocando meu ombro.
— Escolha bem suas palavras acabei de sair do puerpério, e você percebeu como anda minha paciência.
— Não é sobre o tubo de oxigênio - ele diz - Vou ser honesto com você, eu não aguento mais.
— Seja mais específico - digo sentando-me.
— Quarenta dias se tornaram meses Rebecca - ele diz me fazendo rir.
— Então você veio de Boston até aqui porque precisa... - começo a dizer e ele tampa minha boca.
— Samantha está no seu colo, e seus avós a metros daqui.
— Você sabe o que é sexo meu amor? - pergunto para Sammy que apenas me olha sem reação - Acho que isso é um não.
— Não é algo que se diz para os ventos.
— Que você é o cara mais incrível do mundo e está me esperando por mais de 10 meses - digo - As pessoas deviam saber disso.
— Eu tentei dar um jeito, mas preciso do seu calor.
— Sozinho não está dando certo? - digo tocando seu rosto - Estou aqui agora, se bem que faz mais de um ano, acho que perdi a pratica.
— Será que sua avó poderia ficar com Sammy?
— Agora? - pergunto - Sem nem me pagar um jantar?
— Pensei que não fosse desse tipo - ele diz beijando meu pescoço.
— Sabe que estou amamentando - digo - Não vai ser tão fácil.
— Hey princesa, papai vai precisar de um tempinho com a mamãe - Phillip diz tirando Sammy do meu colo.
— Fique tranquila, vai ser rápido - digo e Phillip me encara - Você parece um adolescente, não estou esperando muito.
— Podemos ir pro quarto dela?
— Ousado - digo.
— Colocar-la para dormir - ele diz irritado.
— Dê-me ela - digo pegando-a de volta - Papai quer que você durma, vai contar para ele que você nunca dorme quando eu quero?
— Rebecca...
— Vou colocar ela no berço, e aviso minha vó que iremos tomar café - digo.
— Não demore.
— Quem aguentou até agora, aguenta mais uns minutos - digo saindo do cômodo.
Quando volto a sala encontro Phillip com a porta aberta. Ele praticamente agarra meu braço e me puxa para fora do apartamento.
— Devo chamar a polícia agora ou depois? - pergunto e então ele solta meu braço - Sei que está ansiando por isso, mas pode ir com calma? Vai ser minha primeira vez depois do parto.
— Desculpa, parece que estou te tratando como objeto.
— Estou tentando entender seu lado - digo.
— Desde que perdi a virgindade nunca fiquei mais de um mês nessa seca.
— Ok galã, também sinto falta, mas Sammy ocupa tanto meu tempo que quase não penso em sexo - digo.
— Vou respeitar seus limites - ele diz abraçando-me.
— Pelo menos meus pontos cicatrizaram - digo.
— Quero ver suas habilidades - Phillip diz.
— Não esperaria tanto de mim - digo.
Phillip chama um táxi e me leva até um hotel de luxo.
— Não sei o que pensam de um casal entrando num hotel, sem malas - digo.
— Não se importe com o que eles pensem - Phillip diz.
— E se me virem como um prostituta? Ou a outra?
— Quer um anel de diamante para provar algo para as pessoas?
— Está me tratando como fútil - digo.
— Você disse que queria ser exemplo para Samantha - ele diz - Acho que devemos ensiná-lo a não ligar para o que as pessoas dizem.
— É difícil fazer isso - digo.
— Eu gostaria da chave do 712 - Phillip diz virando-se para mim - Samantha vomitou em você?
— Onde? - pergunto encarando minha roupa.
— Poderia mandar toalhas e água com gás para o quarto, e se puder sais de banho? - Phillip pergunta para a recepcionista - Minha esposa foi assaltada no aeroporto, acabamos deixando nossa bebê com a avó dela, para ela conseguir se acalmar.
— O senhor já foi a uma delegacia? - ela pergunta.
— Já, resta esperar fazem algo - Phillip diz estendendo minha mão esquerda - Aliás onde tem uma joalheria nas redondezas, precisamos repor as alianças.
— Sinto muito pela senhora - a recepcionista diz - Vou enviar os endereços das melhores joalherias para o quarto do senhor.
— Poderia colocar o de alguma boutiques também? Não posso ficar sem roupas - digo.
— Claro - ela diz.
— Obrigada - digo.
— Venha meu amor você está cansada - Phillip diz me puxando.
— A moça estava sendo tão prestativa - digo - Quase consegui um vestido de luxo.
— Vestido e anel - ele diz - O que falta?
— A noite de núpcias - digo beijando-o.
— Ok, você merece um vestido.
— Não preciso receber nada em troca - digo - Mas aceito o vestido da Prada, que vi numa vitrine hoje.
Phillip apenas ri e passa seu braço pelo meu ombro. Ele me conduz até seu quarto, que está abarrotado de malas.
— Quanto tempo pretende ficar? - pergunto.
— Está me expulsado do país?
— Apenas curiosidade - digo - Phillip esqueci um detalhe.
— O que? - ele pergunta já me beijando - Não estou tomando anticoncepcional.
— Não tem problema, você está amamentando - ele diz.
— Eu mal aguento cuidar de um bebê - digo desvencilhando dele - Não posso arriscar ter outro.
— Existe tantas coisas que podemos fazer - Phillip diz.
— Agora, tipo camisinha - digo - Não vou tomar pílula, estou amamentando.
— Bebês dão trabalho - ele diz indo até as gavetas procurar por algo.
— Só percebeu agora? - digo.
— Não tem nada.
— Você veio na sede, e não trouxe uma camisinha?
— Você não é qualquer uma de balada - ele diz.
— Sou a mãe da sua filha de cinco meses - digo - Não quero injetar hormônio no corpo do meu bebê.
— Banheiro! - ele diz me deixando confusa - Achei.
— Não vou julgar - digo.
— Isso já aconteceu comigo na Europa - Phillip diz.
— Honestamente já ouvi demais das suas conquistas sexuais - digo.
— Já está na hora de te mostrar na pratica - ele diz beijando meu pescoço novamente.
— Não vai dar certo - digo afastando-o.
— O que foi agora?
— Estou super seca - digo - Vai doer, porque meu libido está no chão.
— O que você acha que vai ajudar? - ele pergunta e levanto meus ombros - Vaselina?
— Isso daqui não é um motel barato Phillip - digo.
— Aparentemente a recepcionista não engoliu a ideia do assalto, ou ela tem certas ideias no quesito relaxar depois de ser roubado.
— O mundo gira a seu favor - digo encarado a embalagem de lubrificante em suas mãos.
— Como quer começar?
— Já pensou em procurar um médico para essa ninfomania?
— Não sou sempre assim, estou sozinho, no meio de uma batalha judicial, a mulher mais linda do mundo está a quilômetros de distância.
— Mais linda do mundo? Eu a conheço? Devo sentir ciúmes? - pergunto.
— Você deve se sentir amada - ele diz beijando meu corpo em áreas específicas.
— Ok, você venceu - digo sendo levantada por ele e enrolando minhas pernas em seu quadril.
Tento dormir na maravilhosa cama, com travesseiro de penas de ganso.
— Está tudo bem? - Phillip pergunta.
— Não me toca - digo - Parece que pari de novo.
— Você nunca pariu, seu parto foi cesária - ele me corrige e coloco meu indicador em seus lábios.
— Eles saíram do meu corpo, então pari - digo.
— Estou ficando preocupado.
— Não fique é só falta de pratica - digo.
— Será que somos anatomicamente incompatíveis?
— Acho que você foi com muita sede num pote que enrijeceu um pouco - digo.
— Não queria te machucar.
— Não machucou - digo - Só estou dolorida.
— Quer uma aspirina?
— Não - digo - Vai passar.
— Posso olhar, estou preocupado - Phillip diz.
— Tudo que eu quero agora é um papanicolau - digo.
— Prometo não tocar, só ver.
— Tem visão raio x agora? - pergunto - Phillip deixa pra lá, se não parar de doer vou no hospital.
— Eu não entendo - ele diz se jogando no travesseiro ao meu lado - Sendo formado em medicina, não posso opinar nos tratamentos da minha filha, você prefere que um estranho te examine do que eu.
— Não é que eu prefira, mas pra mim você só é você, não um médico - digo - Ser só você é o suficiente.
— Eu quero ser útil para vocês - ele diz - Quero que confie em mim como profissional.
— Você pode ser meu ginecologista - digo - Mas Sammy precisa dos especialistas dela.
— Posso olhar?
— Não quero abrir minhas pernas - digo - Pode ser mais tarde?
— Você me avisa se a dor mudar? - ele pergunta.
— Aviso - digo virando-me para ficar de frente com ele.
— Sinto falta de dividir a cama com você - ele diz.
— Eu também - digo - Mas não tem como passar a noite sem Sammy.
— Podemos trazê-la para cá - ele diz.
— Mas não farei nada com ela aqui - digo.
— Não foi você quem disse que ela não sabia o que era sexo?
— Ela não sabe - digo - Mas não me sinto confortável com ela aqui.
— No momento você não se sente confortável nem sozinha.
— Você é o pior - digo.
— Tem sais de banho - ele diz - Será que um banho quente não vai te ajudar?
— E se doer mais ou arder?
— Acho difícil acontecer.
— Vou confiar em você - digo - Tanto nisso quanto para preparar meu banho.
— Você está abusando da minha boa vontade.
— Eu te amo - digo - E você ainda está me devendo um vestido.
— E uma aliança.
— Já conversamos sobre isso - digo - Vamos com calma.
— Sabe que vamos ficar juntos para sempre - ele diz.
— Quem pode provar? Casamentos acabam de formas terríveis - digo.
— Relacionamentos acabam de formas terríveis.
— Nem sempre - digo.
— Quando se tem uma criança no meio.
— Você está me propondo? - pergunto.
— Quando estiver, não vai precisar fazer essa pergunta.
— Tudo bem - digo - No momento a única coisa que aceito é um banho quente.
— O que acha que uma massagem?
— Nada que envolva minha região íntima - digo.
— Por hora ficarei longe dela - Phillip diz.
— Da próxima vez tente com mais calma.
— Meu corpo precisava desesperadamente do seu, agora estou controlado.
— Admito que foi um bom retorno - digo - As melhores festas terminam em ressaca, não é?
— Só queria que eu estivesse sentindo a dor, não você - ele diz do banheiro.
— Isso nem pode ser chamado de dor - digo - Dor foi o que eu senti na primeira infecção da Sammy. Eu não sabia o que fazer, achei que iria perdê-la, só queria estar no lugar dela.
— Sinto tanto por não estar aqui.
— A segunda vez foi mais fácil - digo - E ela se recuperou muito mais rápido. Só então eu percebi que uma gripe pode virar um inferno.
— Você passou por muita coisa - Phillip diz - Entendo seu consumismo.
— O que tem haver?
— Tempos difíceis trazem velhos hábitos.
Pego meu celular e vejo 5 chamadas perdidas.
— Vó? Está tudo bem? - pergunto ao retornar a ligação.
— Rebecca, onde você está? Samantha acordou a mais de quarenta minutos e está chorando desesperadamente desde então.
— Droga! Perdia noção do tempo. Chego aí o mais rápido possível - digo levantando-me e procurando as minhas roupas - Phillip chame um táxi para mim.
— Mas e o banho?
— Vai ter que ficar para outra hora - digo vestindo-me - Sammy precisa de mim.
— Vou com você - ele diz colocando a camiseta.
Desço o mais rápido possível, prendendo meu cabelo que provavelmente está uma bagunça no elevador.
O táxi nos esperava na porta do hotel.
— Estou me sentindo a pior mãe do mundo - digo - Nunca fiquei tanto tempo longe dela.
— Não foram nem três horas - Phillip diz.
— Sammy precisa de mim, três horas é uma eternidade para ela.
— Já podemos trazer tudo para cá - ele diz.
— O que quer dizer com tudo?
— As coisas de vocês, logo voltaremos para Boston.
— Não tem como eu trazer Sammy para um hotel - digo.
— Mas você disse...
— Eu estava brincando - digo - Ela precisa de suporte médico e de um lugar completamente higienizado.
— Ela não pode crescer numa bolha.
— Um simples vírus que te daria um resfriado, pode colocar minha filha na UTI - digo - Não vou arriscar.
— Eu acerto com ele - Phillip diz - Vá ver Sammy.
Saio do carro e entro no edifício, subo até o andar de minha avó e entro o mais rápido que consigo.
— Onde ela está? - pergunto achando-a no tapete e pegando-a no colo.
— Eu sei que como casal vocês têm suas necessidades - minha avó diz - Mas ela precisa de você.
— Eu sei - digo sentando-me para amamenta-la.
— Sabe que pego no seu pé, porque me importo com a menina - ela diz - Sei que você é responsável quando se trata dela, mas todo o cuidado é pouco.
— Esqueci de me limpar - digo.
— Acontece - ela diz pegando o lenço umedecido e passando no meu busto e braços.
— Não pode acontecer - digo.
— No fim sempre da certo - ela diz beijando minha cabeça.
A campainha toca e ela vai abrir a porta.
— Dona Lúcia, como passou? - Phillip pergunta.
— Bem, apesar dos gritos - ela diz e acabo rindo.
— E Samantha? - ele pergunta.
— Está esfomeada - digo olhando para os olhos que me encaram.
— Doí?
— Não mais - digo - Acostumei.
— E doí?
— Parei de pensar nisso - digo.
— Bom - ele diz - Por que está rindo?
— Porque você está agindo de forma mecânica - digo.
— Não estou acostumado - ele diz.
— Você sempre pergunta se está tudo bem - digo.
— É a melhor maneira de começar uma conversa por mensagem ou por FaceTime - Phillip diz.
— Eu sei - digo acariciando seu rosto - Vai se acostumar a estar presente.
Sammy estica o braço tentando toca-lo.
— Hey pequenininha - ele diz se abaixando para olhar-lá nos olhos - Não dei tanta atenção para você, mas estava morrendo de saudade do seu cheiro, dos seus não mais tão pequenos dedos, dos seus olhos que parecem mais azul que nunca.
— Aparentemente você é mais interessante que meu peito - digo.
— Acho que é a primeira vez que alguém me diz isso - Phillip diz me fazendo rir.
— Vá se limpar, para pegá-la.
Acaba que Phillip fica com Sammy no colo o resto da tarde, e sinto que ela o reconhece.
Ouço-a gargalhando sem parar.
— Quero levá-las para casa - Phillip diz, fazendo-me tirar a atenção do meu celular.
— Quando? - pergunto.
— O quanto antes - ele diz girando Sammy no ar.
— Ela vai vomitar - digo - E não tem como viajar com ela antes de completar um ano.
— Mas ainda faltam meses - Phillip contesta.
— Ela precisa tirar a canula - digo.
— Ou não - ele diz - Existe formas de adaptar o tubo de oxigênio. Poderíamos fazer mais escalas e dormimos no hotel dos aeroportos.
— Não é arriscado? - pergunto.
— Posso pesquisar mais - ele diz sentando ao meu lado.
— Podemos ver - digo.
— É melhor que um não - ele diz - Eu quero a minha filhinha do meu lado, eu quero você do meu lado.
— Você tem um pai babão - digo limpando a boca de Sammy.
— E uma avó também - ele diz levanto-a sobre a sua cabeça - Vovó Phoebe está com saudades de você.
Antes de eu consiga falar algo, Sammy gorfa no rosto de Phillip.
— Meu Deus! - digo tentando controlar a risada.
— Segure ela por favor - ele diz entregando-me-a.
— Pensei que gostasse de leite quente - digo limpando o rosto de Sammy.
— Nunca pensei que experimentaria coalhada desse jeito - ele diz pegando a fralda da minha mão.
— Disse para parar de chacoalha-la - digo ainda rindo e Sammy começa a gargalhar.
— Você está rindo de mim? - Phillip pergunta pegando-a de novo.
— Não mexe muito - digo - Se não o próximo alvo é sua camisa.
— Qual a graça? - ele pergunta para ela que continua a rir sem parar.
— Ela está feliz por estar com você - digo.
— Acha que ela se lembra de mim? - ele pergunta.
— Seu cheiro é inesquecível - digo.
— Só meu cheiro? - ele pergunta.
— Com uma semana ela só deve ter reparado nisso e na sua voz - digo - Provavelmente é a voz, você fala demais.
— Aprendi com você - ele diz.
— Antes de você quase nem falava - digo.
— Antes de você tudo parecia mais fácil - ele diz me fazendo arquear as sobrancelhas - Mas nem sempre o que é fácil é bom.
— Boa saída - digo.
— Sammy está com 7 meses - ele diz mudando de assunto - Ainda está no aleitamento exclusivo?
— Ela come algumas poucas vezes por dia - digo - Mas ela parece não gostar.
— Quero fazer algo fora daqui - ele diz.
— Já fizemos algo fora daqui.
— Não há um parque para levarmos Sammy?
— O ar em São Paulo é mais poluído que chaminé de indústria - digo - O pulmão dela não está pronto para isso.
— Ela fica trancada aqui o dia todo? - ele pergunta.
— Não o tempo todo - digo - Ás vezes vamos no shopping, ou levo-a numa piscina fechada, alguns finais de semana vamos para a fazenda dos meus avós.
— Quais dessas opções podemos fazer? - ele pergunta.
— Podemos nos programar - digo - Falando nisso ainda não me disse quanto tempo vai ficar.
— Algo para hoje - ele diz me fazendo rir.
— São quase 19h - digo.
— Não é possível que não tenha nada para fazer na cidade mais agitada do país - ele diz.
— Hoje foi um dia tão cansativo - digo.
— Precisamos fazer algo, parece que Sammy raramente sai daqui, ela não pode ser tratada como uma detenta.
— Quer sair com um bebê? - pergunto - Phillip sabe o trabalho que dá? Só faço isso em situações extremamente necessárias.
— Sammy fica encasulada aqui? - ele pergunta.
— Normalmente intercalamos, meus avós saem e eu fico, ou eles ficam e eu...
— Onde você vai? - ele pergunta interrompendo-o.
— Está falando um monte que Samantha com 7 meses e uma péssima oxigenação precisa sair mais - digo - Esperava que eu ficasse trancada aqui? Phillip eu preciso fazer coisas, preciso respirar fundo as vezes, não posso esperar que me desse a mão para fazer minhas coisas.
— E quanto a ela?
— Minha avó cuida dela - digo - Se não tivesse quem ficasse com Samantha, me anularia para ela, mas não há necessidade de fazer isso.
— Odeio pensar que enquanto estive longe te deixei sozinha - ele diz.
— Se esse sozinha significa falta de confiança com a minha parte do relacionamento - digo pegando Sammy - Devia ter ficado em Boston.
— Eu não disse que não confiava em você - ele diz seguindo-me até a sala de jantar.
— Precisa dizer? - pergunto - Se não confia em mim sozinha, se acha que cuido errado da minha filha vá embora.
— Nossa filha - ele corrige-me.
— Minha filha - grito - Eu sou a única que passou noites em claro num hospital, que levou em centenas de médicos, que estava aqui todas as vezes que ela precisava.
— Rebeca eu estava arrumando a bagunça que você fez - ele diz batendo sua mão na mesa, e consequentemente fazendo Sammy chorar.
— Phillip sai daqui - digo tentando acalma-la.
— Me dê ela - Phillip diz tomando-a dos meus braços fazendo-a chorar mais.
— Para com isso - digo - Você só está piorando a situação.
Samantha estende os braços em minha direção, seus gritos arrepiam meus pêlos, fazendo-me tirar-lá a força dos braços de Phillip.
— Deixe-me acalma-la - ele diz.
Ignoro-o sussurrando para Samantha e beijando sua cabeça, ela começa a se acalmar e segura meu pescoço.
Phillip puxa uma cadeira e senta-se com a cabeça entre as pernas.
Caminho com minha filha até ela pegar no sono.
Sinto meu rosto molhado e percebo que não são as lágrimas de Sammy.
— O que aconteceu conosco? - Phillip pergunta.
— Estou exausta - digo enxugando meu queixo para não molhar Samantha.
— A distância nos separou.
— Eu não sou mais a mesma de que deixou Boston - digo - Eu precisei crescer.
— Precisamos voltar Rebecca, suas aulas começam em semanas - Phillip diz.
— Não vou para a faculdade agora - digo - Sammy é minha prioridade.
— Não pode desistir de tudo - ele diz exaltando-se.
— Não estou desistindo - digo - Apenas adiando, não tem como deixar Sammy com uma babá, num berçário, só confio na minha vó com o oxigênio.
— Hora você quer fazer o que precisa sem impedimentos, hora você quer ser mãe.
— Eu sempre sou mãe - digo - Podemos conversar amanhã? Estou cansada de discussões.
— Vai ser melhor - ele diz levantando-se.
Acompanho-o até a porta e antes de sair ele acaricia a cabeça de Sammy. Sem despedidas ele sai e tranco a porta.
Subo até meu quarto e deito na minha cama, tentando acordar Sammy para mamar.
— Hey pessoinha - digo acariciando sua orelha, fazendo com que ela tire a minha mão - Você está zangada comigo? Não cumpri nossa rotina.
Ela abre um olho e resmunga, tateia minha blusa e a puxa se ajeitando no meio peito.
— Acabo esquecendo que é uma moça - digo - Talvez seja hora de te passar para a mamadeira, por mais que ame ter você comigo. Talvez facilite pra você com a canula. Parece que seu pai aqui só vai me trazer mais dúvidas.
Vejo que os grandes olhos dela me encaram. Acaricio a coxa exposta dela e anoto mentalmente que devo colocar uma calça nela antes de dormir. Sammy escorrega seus dedinhos pela minha pele.
— Não vou fazer isso - digo - Você é uma parte de mim, pode mamar até quando precisar, eu sou sua para sempre.

 — Não vou fazer isso - digo - Você é uma parte de mim, pode mamar até quando precisar, eu sou sua para sempre

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