Chamada

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Em algumas horas recebi minha alta e pude voltar para o apartamento dos meus avôs.
O clima não estava dos melhores, imagino que Lizzie não gostou muito da ideia de adiar a viagem de volta.
Passei o dia todo jogada no sofá, passando por todos os canais da TV, comendo canapés e tomando chás.
- Hey Beck - meu pai diz entrando na sala - Voltaremos para casa amanhã.
- Mas o medico falou que eu devia evitar vôos - digo.
- Dr. Albers autorizou seu embarque, e certificou-se que vai ficar tudo bem - ele diz.
- Mas o Dr. Barbosa falou... - digo.
- Já está decidido Rebecca, voltaremos para casa amanhã - ele diz e se retira.
As empregadas da minha avó, arrumam minha mala. Fico na sala até o jantar, quando me junto a meus avôs e meu pai na mesa.
Uma longa mesa de Madeira com umas 10 cadeiras. Meu avô senta-se na cabeceira e minha avó a sua direita, meu pai a sua esquerda e pelo prato a mais imagino que o lugar a direita do meu pai me pertença.
- Rebecca - meu avó diz quando me vê - Está adorável.
Meu pai me obrigou a por um vestido, já que seria nossa ultima noite, e minha avó fez questão de comprar o vestido, de quebra o mais caro da loja.
- Eu disse! - minha avó diz pondo um aspargo na boca.
Sento-me e observo a minha volta. Sinto uma fome imensa e acabo devorando a entrada sem pensar em etiquetas. Porém quando o jantar é colocado na minha frente sinto tudo que comi ao longo do dia voltar, corro para o banheiro mas não chego a tempo e vomito no chão da sala de jantar.
- Perdi a fome - minha avó diz se afastando do prato.
- Acho que todos perdemos - meu avô diz.
Sinto que mais coisas vem do meu estômago, mas não tenho mais força para 'por para fora' e acabo caindo, sujando o vestido caríssimo de vomito.
- Rebecca - meu pai diz correndo em minha direção e me levantando.
- Ela está branca como papel - meu avô diz.
- Otávio pode tentar o que quiser, mas não vai por essa menina naquele avião - minha avó diz.
- É apenas um enjôo - ele diz.
- Já estive grávida - minha avó diz - Pode parecer só um enjôo, mas tem muito por trás. Não vou por meus bisnetos a prova.
- Neto - meu avô a corrige.
- Que seja! - minha avó diz - Tina, limpe ela.
Logo um batalhão de empregadas me levam até meu quarto e praticamente me dão banho e me põe na cama.
- Espero que a senhorita fique bem - uma delas diz.
- Obrigada - digo dando-lhe um sorriso sincero.
Acordo com os raios de sol entrando no quarto. Mesmo acordada permaneço deitada até que minha bexiga me traí.
Sento-me na cama e observo minha barriga. Tento imaginar onde cada um está, e então ouço um barulho repentino, mas o reconheço, Skype.
Percebo que o MacBook continua no quarto, mesmo após as ameaças do meu pai. Pego o computador e vejo que a chamada é de Peter. Penso em rejeitar ou simplesmente ignorar, mas algo dentro de mim aperta o enter.
- Hey Becca - ele diz.
- O que foi? - digo diretamente.
- Fico feliz que queira saber como estou - ele diz.
- Você não se importou em relação a nós - digo - porque eu deveria?
- Becca eu pedi um tempo - ele diz.
- Tempo que eu não tive - digo - Acha que eu pensei em engravidar no ensino médio? Tinha um futuro planejado, isso muda tudo o que eu fiz.
- Elizabeth não sabe que o bebê é seu, finja que é dela.
- Tem razão! - digo e ele sorri - O bebê é meu, então não tente dar palpite.
- Becca eu só quero ajudar.
- Quer ajudar mesmo? Então não me atrapalhe - digo.
- O que é isso? - Peter pergunta.
- Está tão lerdo a ponto de não entender o que eu disse?
- Não é isso, - ele diz - mas sim na sua blusa.
Observo a minha imagem e percebo que o que o assustou tanto é só um chute localizado.
- É um pé - digo passando a mão sobre ele - ou talvez uma mão.
- Ele já está se mexendo? - ele pergunta.
- Há dias - digo sentindo o pequeno membro do meu bebê.
- Devem ser grandes - ele diz.
- São menores do que eu imaginei - digo ajeitando o computador.
- Sua barriga - ele diz - Está imensa.
- Obrigada pelo elogio - digo.
- Queria poder tocá-la - ele diz.
- Não, não queria - falo - Você se assustaria, não teria coragem.
- Becca é meu filho! - ele diz.
- A pouco você queria dá-lo para minha madrasta - digo.
- Mas como vamos criá-lo? - ele pergunta.
- Você, eu não sei, mas eu vou arranjar um emprego, seja qual for - digo - E sustentar meu filho!
- E a sua tão amada Yale?
- Percebi que amo mais esse serzinho que Yale, ou que a mim mesma - digo - Não preciso de Yale pra ser uma boa mãe.
- Quer que eu desista da faculdade?
- Peter faça o que você quiser - digo - Pode ir para Stanford, se formar, não estou lhe obrigando a ser pai.
- Becca como você vai criar um bebê sozinha?
- Sempre dei um jeito, não é - digo - Se divirta na faculdade Peter - meus olhos já estão marejados, mas então encerro a chamada.
Ponho o computador na penteadeira e me deito na cama, choro tudo o que quero chorar.
Vou até a cozinha e peço um copo d'água. Recebo um copo de suco e um pedaço de Brownie. As cozinheiras me dão atenção e insiste em saber o motivo da minha cara de choro. Mas consigo desvencilha-las. Permaneço na cozinha, o ambiente é quente e a companhia é boa.
- Rebecca - ouço minha avó me chamar - Rebecca, ai está você! - ela diz, está usando roupas de academia e parece ter chorado - Seu avô quer te ver.

Por AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora