Retorno

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Aquela semana foi a prova de que quando você está se divertindo não vê o tempo passar. Phillip e eu fomos ao cinema, ele me apresentou alguns de seus amigos da época da faculdade e conheceu Jackie.
Ouvir o despertador as 6:30 numa segunda-feira, me levou ao ano anterior quando eu ansiava meu último ano, mas agora não sinto essa mesma ansiedade, pelo contrário sinto repúdio por voltar para a escola.
Sento-me na cama e tomo coragem para levantar, como esperado meus enjôos praticamente sumiram então não tenho empecilhos para me arrumar. Tomo banho, seco meu cabelo, tento esconder as espinhas que nasceram no meu rosto e visto-me.
Já me acostumei com meu novo corpo, mas admito que seria muito mais fácil se eu pudesse esconder minha barriga nessa primeiras semanas, porém já faz algumas semanas que ela se tornou ainda mais evidente.
Desço as escadas e encontro meu pai sentado a mesa lendo jornal e tomando seu rotineiro café. Ouço Elizabeth na cozinha junto a Edith. Sento-me na frente do meu pai.
— Primeiro dia de aula, como se sente? - ele pergunta.
— Tudo o que eu queria era passar despercebida - digo.
— Se não queria ir, era só ficar em casa, eu é seu pai poderíamos te dar aulas - Elizabeth diz colocando ovos na mesa.
— Eu sonho com a experiência do ultimo ano há tanto tempo - digo - Eu vou me acostumar com isso.
— Com eles, não são coisas - Elizabeth diz saindo.
— Estava me referindo a situação - digo e meu pai olha-me como quem quer que eu cale a boca.
— Coma algo Rebecca - ele diz, mas entendo que ele só quer manter minha boca ocupada e Elizabeth longe.
Pego uma torrada e passo a geléia, coloco café na xícara esperando que Elizabeth não veja e me critique.
— Falou com Phillip hoje? - meu pai pergunta.
— Ainda não, mas tínhamos combinado de sair quando acabar minha última aula - digo - Mas ontem ele não estava muito certo se iria ter paciente esse horário.
— Acredito que ele arrumará tempo para você - ele diz levantando-se - Aliás quando ele vira jantar aqui?
— O que? - pergunto engasgada.
— Peter jantava em casa quase sempre, imaginei que em um momento Phillip fosse querer nos conhecer.
— Ele já conhece Elizabeth - digo.
— Eu sou seu pai Rebecca - ele diz me dando um beijo na testa - Podemos ir num restaurante, mas acho que preciso ao menos conhecer esse cara.
— Verei o que eu posso fazer - digo.
— Até mais tarde - ele diz saindo - Elizabeth, estou indo.
— Não é incrível a rapidez com que Harvard contratou seu pai? - Elizabeth diz sentando-se a minha frente.
— Ele dá aulas lá a mais de 15 anos - digo - Talvez eles tenham uma pequena razão.
— Tem razão - ela diz sorrindo e me assustando com isso - Escolhi os nomes para os bebês. Se forem dois meninos será William e Sebastian, e se forem duas meninas será Riley e Wyatt.
Apenas sorrio sem demostrar outra reação, sei que legalmente um dos bebês é dela, mas me incomoda ela nem me questionar sobre os nomes e quanto ao outro, ela pode nem desconfiar que é meu, mas sinto meu sangue ferver ao ela querer nomea-lo.
— Tenho que ir se não vou chegar atrasada - digo me levantando.
— Não vai levar nada para comer? - Elizabeth pergunta.
— Tenho dinheiro, compro alguma coisa, tchau - digo saindo sem esperar resposta. Entro no meu carro e respiro fundo. Tenho que contar a verdade o quanto antes isto está me matando.
Estaciono na escola e de dentro do carro posso ouvir o burburinho de diversas vozes falando ao mesmo tempo.
Caminho pela entrada do colégio e como costume vejo os jogadores de futebol e as líderes de torcida na porta, Peter me fuzila com os olhos, enquanto os outros parecem surpresos.
— B não vai acreditar no que eu achei - Jackei diz assim que me vê - O que foi?
— Todo mundo está me olhando - digo.
— Você sabia que isso ia acontecer - ela diz me puxando - Agora venha, está no meu armário.
— O que é de tão importante? - pergunto.
— Quando vi isso tive que comprar - ela diz tirando um pacote do armário. Pego o pequeno pedaço de tecido e dou risada a ler o que está escrito.
— Sério? - digo.
— Sabemos que é verdade - ela diz.
— Eu sei que sou incrível, aprendi com a minha madrinha - recito as palavras.
— A verdade suprema - ela diz.
— É fofo - digo - Espero que ele não ache você a legal e eu a chata.
— Você é a mãe, é óbvio que será a chata - ela diz.
— Você me anima tanto - digo.
— Rebecca, como está? - May pergunta andando na minha direção.
— Bem - respondo.
— Aqui está seu horário - ela me entrega a tabela.
— Obrigada - digo pegando o papel.
— Tenho que ir - ela diz - Tenham um ótimo dia meninas, e Rebecca me procure, para o que precisar.
— Ross falou com você? - Jackie pergunta.
— Não conversamos desde que ele descobriu sobre Phillip - digo.
— Eu sempre achei ele um idiota, agora tenho mais que certeza - ela diz - Ele joga uma responsabilidade aos céus, e quando outro a assume fica com birra.
— Primeiro, ninguém está assumindo responsabilidades de ninguém, já conversei com Phillip e concordamos que ele é apenas meu namorado, não o pai do meu bebê - digo - E outra, conhecendo Peter a birra dele não é por causa do bebê, é mais porque eu segui em frente.
— Não deixa de ser um idiota - ela diz - Quais são suas aulas?
— A minha primeira é inglês avançado - digo olhando a tabela.
— Ótimo, é a minha também - ela diz.
— Posso me sentir mais segura então - digo.
— Só tem um problema - ela diz - Peter está nessa aula.
— E por que isso seria um problema? - pergunto.
— Como eu amo essa Rebecca - ela diz.
— Aliás obrigado pelo body - digo.
— Ainda vou mimar muito meu afilhado - ela diz encaixando seu braço no meu e a acariciando minha barriga.
— Sr. Smith ainda odeia atrasos? - pergunto.
— Com a mesma intensidade que ama donut - ela diz.
— Acha que ele me perdoaria por estar grávida? - pergunto.
— Não, ele te daria uma lição de moral sobre horário de qualquer jeito - Jackie diz.
— Então é melhor irmos - digo.
— Não precisa guardar seus livros? - ela pergunta.
— Não, depois faço isso - digo.
O cheiro da sala do sr. Smith era inconfundível, café e cigarros, nunca me importei com isso, mas ,depois de dias, senti meu estômago dar voltas.
— Becca, esta tudo bem? - Jackie pergunta a me ver fechar os olhos para controlar o enjôo.
— Vou ficar - digo abrindo meus olhos lentamente e me deparando com a figura de Peter a algumas carteiras me encarando.
— May disse que poderia chamá-la caso... - Jackie começa a dizer.
— Estou bem - digo cortando-a. Percebo que Peter desvia o olhar, e faço o mesmo.
Sr. Smith começa a aula e faço minhas anotações costumeiras, me sinto quase normal até que sinto um pé empurrando minha costela.
— Parece que essa é sua posição favorita agora - sussurro para minha barriga.
— Está tendo uma reunião de família aí? - Jackie sussurra se virando.
— Phillip disse que eles se mexeriam cada vez mais - digo - Mas parece que certo indivíduo está tendo um caso de amor com a minha costela.
— Doí? - ela pergunta.
— Incomoda mas já me acostumei - digo.
— Srta. Monelise e Srta. Simons gostariam de compartilhar sua discussão? - Sr. Smith diz.
— Estávamos falando sobre o pé do meu afilhado - Jackie diz - Nada de mais.
— Jackie vai ser a madrinha? - Peter me pergunta.
— E daí? - digo - No que isso infere a você?
— Vai fazer drama agora? Só perguntei - ele diz - Acredito que seu namorado tenha decidido.
— Na verdade decidi isso antes de começarmos a sair, mas como um homem de verdade ele aceitou - digo.
— Agora não sou o homem de verdade - ele diz.
— Para outro se dispor a criar seu filho, não - digo.
— Agora é meu filho - ele diz rindo.
— Tem razão é meu filho, você só foi um doador insignificante de material genético - digo.
— Pensei que estivesse tudo bem com isso - ele diz.
— Estou maravilhosamente bem, desde que você não questione minhas escolhas - digo.
— Não está mais aqui quem falou - ele diz virando-se para frente. O sinal toca e quebra o silêncio que ficou no ar.
— Leiam da página 150 até a 176 - Sr. Smith diz antes de sairmos, sua voz ressoa o constrangimento com a situação.
Levanto-me e caminho furiosamente para fora da sala, arrependo-me de ter colocado botas baixas, imagino que as de salto alto valeriam mais a pena nesse momento, no entanto minhas pernas já estariam latejando até a tarde.
—Becca, está tudo bem? - Jackie pergunta.
— Nunca estive melhor - digo.
— Tem certeza?
— Jackie eu praticamente falei tudo que estava preso na minha garganta - digo.
— Praticamente? Sobrou algo? - ela pergunta.
— Há resquícios - respondo.
— E quando vai jogá-los? - ela pergunta.
— Quando Peter se intrometer de novo - digo.
— O que está acontecendo com você Rebecca Monelise?
— Hormônios - digo e ela ri.
— Qual sua próxima aula? - ela pergunta.
— Literatura inglesa - digo olhando a tabela.
— Tenho francês, vai ter que enfrentar sozinha essa - Jackie diz.
— Nunca estou sozinha - digo sorrindo de lado - tenho mais dois serzinhos me acompanhando.
— Becca, sabe do que eu digo - ela falar seria.
— Uma hora isso ia acontecer, e os olhares já não me incomodam tanto além do fato de que Peter vai ficar o resto do dia no campo por causa dos jogos estaduais - digo - Vou ficar bem.
— Prefere almoçar logo que a aula acabar? - ela pergunta.
— Sei que odeio comer 10:30 mas sinto enjôo só de imaginar o refeitório as 12h - digo.
— Então te vejo no almoço - ela diz se despendido.
— Até daqui a pouco - digo seguindo pra minha sala.
Ao entrar vejo que a carteira que ocupo desde o 9º ano está ocupada, e por ninguém mais ninguém menos que Wendy Carter.
— Rebecca, pensei que estivesse se mudado para aquelas escolas de grávidas ou algo do tipo - ela diz ao me ver.
— Como pode ver, estou aqui - digo.
— Não tem como não te ver - Wendy diz.
— Então não precisa mais deduzir sobre a minha vida - digo sentando-me numa outra cadeira.
— O que mais terão agora é deduções - ela diz - afinal, soube que traiu o pobre do Peter?
— Eu trai Peter - repito rindo.
— Todos já sabem do seu caso com um cara mais velho - ela diz.
— Sabem tanto que só estão falando merda - digo - Peter abandonou o barco e outro assumiu o mastro, não que isso lhe interesse.
— Mas admite que está com um cara mais velho?
— Porque eu negaria? Apenas pra aumentar a curiosidade de fofoqueiras como você?
— Você e Peter terminaram de vez? - ela pergunta.
— Aproveite! Ele é todo seu - digo.
— Porque acha que eu me interessaria por ele? - ela pergunta.
— Tenho muitas razões para acreditar nisso.
— Está enganada - ela diz.
— O fato de você ter passado os últimos 3 anos se esfregando nele, ou apenas porque sua língua estava na traquéia dele na semana passada, me dizem que não - digo.
— Ciúmes?
— Já passei dessa fase - digo - Vai ver como o mundo é diferente quando se tem maturidade.
— Agora você é a madura! - ela diz.
— Tive de ser, não por mim, mas pelo meu filho - digo - E foi a melhor coisa que me aconteceu.
— Realmente acha que ficar grávida aos 17 anos é algo incrível - ela diz rindo.
— Pelo menos tive coragem para assumir - digo - Não é segredo seu cartão fidelidade em clínica de aborto.
— Hipocrisia sua me julgar - ela diz.
— Justamente o contrário, não estou te julgado estou apenas falando que você não tem moral pra falar da minha gravidez.
— Se acha corajosa por ser mãe solteira? - ela diz rindo.
— Tive que enfrentar muitos medos pra chegar onde estou - digo - então sim.
— Desculpem o atraso - Srta. Fitzgerald diz entrando na sala - Abram na página 58 do "O velho e o Mar". Rebecca é um prazer tê-la de volta, senti falta dos seus comentários.
Apenas sorrio, para não atrapalhar a sua aula. Wendy permanece quieta o resto da aula, e eu também não abro a boca, o barulho do sinal tira minha concentração na análise do livro.
— Leiam da página 80 até a 114 e façam uma pesquisa sobre o cenário - Srta. Fitzgerald diz - A pesquisa é pra quinta, não esqueçam. Tenham um bom dia.
Levanto-me a arrumo minhas coisas, caminho até o refeitório e encontro Jackie. Mas ela não é a única que encontro, com a chegada das estaduais todos os atletas almoçam mais cedo, para terem mais tempo para treinar, portanto Peter também está no refeitório. Entro na fila com Jackie e pego um pouco de purê, salada e uma maçã.
— Isso vai te manter? - ela pergunta.
— Espero que sim - digo.
— Marcou de encontrar Phillip hoje? - Jackie pergunta.
— Depois do ultimo período - digo - Mas acho que vou passar na clínica.
— Rebecca está tudo bem? - ela pergunta de novo.
— Deve ser apenas Braxton Hicks - digo.
— Não são contrações de treinamento? - ela pergunta.
— São - digo - Mas estão ficando mais fortes. Não deve ser nada grave, mas já que tenho um obstetra 24h, porque não usá-lo.
— Achei que você se referisse a Phillip, o seu ginecologista 24h que você adia usá-lo - ela diz - Mas está apenas abusando do pai dele por causa do "acidente".
— Não chama meu filho de acidente - digo.
— Me referi a situação, e não a criança - ela diz.
— A situação é minha culpa, na verdade do Peter que esqueceu a camisinha, mas não importa, ele só está sendo um ótimo médico - digo.
— A culpa é de vocês dois - ela diz - e em relação ao médico, talvez ele só esteja sendo gentil com a nora.
— Nora? Já cheguei a esse nível? - pergunto.
— Pensei que você e o Phillip já tinham aceitado títulos - ela diz.
— Mal o conheço Jackie - digo - Não vou sair por aí chamando-o de sogrinho.
— No entanto ele te conhece intimamente - ela diz rindo - Afinal como é ter seu sogro como obstetra?
— Não tinha pensado nisso - digo - Eu e Phillip estamos saindo a pouco mais de 1 mês, não tive consultas nesse meio tempo, então obrigada por colocar esse pensamento quando eu tenho fazer uma ultra-som interna.
— Não vai fazer ultra-som tão cedo - ela diz
— Tenho consulta marcada para o final da semana que vem - digo.
— Situação difícil - ela diz.
— Você não imagina quanto - digo sentando na mesa.
— É a sua realidade então supere - ela diz e dou risada.
Sinto meu celular vibrar e olho as notificações.
— É o seu príncipe do conversível branco? - Jackie pergunta.
— Conversível não faz muito o estilo dele - digo.
— O que ele quer? - ela pergunta.
— Ele perguntou se preciso de carona - digo - A paciente desmarcou.
— Já se encaixa no horário - ela diz.
— Phillip não é meu médico, Jackie - digo - e pelo que parece o meu médico não está na cidade, maravilha!
— É o destino falando pra você e Phillip ficarem sozinhos numa sala, onde ele terá q fazer alguns exames...
— Cala a boca - digo lendo as mensagens de Phillip - Eu te odeio.
— Ele está se oferecendo pra te consultar, não é? - Jackie diz rindo - Pense pelo lado bom, duvido que ele vá comunicar essa consulta ao plano, aliás ele já vai sair ganhando de qualquer forma.
— Vai para o inferno - digo empurrando-a.
Já eram 12h quando tive que voltar para aula. Jackie e eu tivemos 2 das 3 aulas juntas. Apesar do receio o resto do dia foi calmo.
— Não sabe como amo esse barulho - ela diz se referindo ao sinal.
— Sentia falta da êxtase de voltar para casa - digo.
— Bem-vinda ao colegial - ela diz - de novo.
— Jackie, tenho que ir, Phillip está me esperando na clínica - digo.
— Não se esqueçam da camisinha, proteção em primeiro lugar - ela diz rindo.
— Já mandei você ir para o inferno hoje? - pergunto saindo.
— Também te amo - ela grita.
Entro no meu carro, e suspiro aliviada, passei pelo primeiro dia. Agora só restam 5 meses. Dou partida no carro e sigo pra clínica.

...

Olá olá pessoas que amo mesmo sem conhecer
Pessoas que me xingaram e que queria minha cabeça numa bandeja
Entendo se a reação foi essa, afinal fiquei 2 meses sem postar, oq aconteceu em relação a último capítulo? Levei apenas 3 meses pra escrevê-lo e ele não me satisfez no tamanho, mas espero que vocês não tenham levado esse detalhe mt a sério.
Dessa vez levei menos de 1 mês pra escrever, e ele ficou relativamente logo. Espero que seja o suficiente pra me redimir.
Não vou abandonar Por Amor saibam disso. Então quando eu demorar pra postar, lembrem-se que provavelmente estou tendo um bloqueio criativo ou que estou atolada num monte de prova, acontece.
Esperam que tenham gostado do capítulo, se gostaram 🌟 e um comentário pra eu saber, se não gostaram peço que me informem tbm, pq tudo pode ser melhorado.
Ainda to meio inexperiente nesse negócio de colocar foto no meio do capítulo, mas esse seria mais ou menos o body que a Jackie deu pra Becca:

 Ainda to meio inexperiente nesse negócio de colocar foto no meio do capítulo, mas esse seria mais ou menos o body que a Jackie deu pra Becca:

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(Foi o qual me inspirei, mas reformulei a frase)

Mt obg por ler, realmente amo todos vocês
Bj Bj
Ana

Por AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora