Puerpério

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— Já arrumou suas coisas? - minha avó pergunta.
— Acho que sim - digo fechando a bolsa - Não tinha muito o que guardar.
— Seu pai já levou sua coisas para o hotel - ela diz - Pronta para sair daqui?
— Parece que estou aqui a meses - digo.
— Você precisou amadurecer nesses três dias - ela diz.
— Não quero deixá-la - digo.
— Até o final da semana ela vai embora e seu apartamento vai estar pronto - ela diz.
— Dói vó, dói me separar dela - digo.
— Você ainda vai vir aqui - ela diz - Vai amamenta-la e ela vai ouvir seu dia.
— Mas ela não vai dormir comigo - digo me sentando na maca.
— Você pelo menos vai dormir - ela diz.
— Não vou conseguir.
— Ela vai ficar bem aqui Rebecca - ela insiste.
— Não tenho escolha - digo.
— Prefere amamentar aqui ou já conhecer sua cadeira de amamentação para os próximos dias? - Phillip pergunta entrando no quarto.
— Vocês me deprimem - digo me deitando, ao fazer isso sinto meus pontos puxarem - Eu odeio isso.
— Vai ter que se acostumar - ele diz - E o que vai querer?
— Levar Sammy comigo - digo - É isso que eu quero.
— Isso você não vai conseguir, pelo menos hoje - ele diz - e decida-se logo porque ela ta esgoelando a uns quinze minutos.
— Eu vou até ela - digo levantando e indo até eles - chega de adiar o inevitável.
— Boa menina - minha avó diz me abraçando e beijando minha cabeça.
— Vamos logo, não quero que ela pense que estou abandonando-a.
— Ela não pensa - Phillip diz.
— Claro que ela pensa - digo.
— Os pensamentos e sonhos dela são limitados a coisas que ela viu ou sentiu, em 3 dias ela não conhece muita coisa - ele diz - Não acredite que ela quer ir a Disneylândia, a única coisa que ela quer é o que ela sente necessidade, tipo de leite.
— Você é um estraga prazeres - digo.
— O que Disneylândia tem haver com isso? - minha avó pergunta - Ela provavelmente vai chorar ao ver o Mickey, além do fato de que ela mal pode ir num Shopping quem dirá num parque.
— Rebecca acha que ela quer ser a Tinker Bell no Halloween - Phillip diz.
— Por que você acha isso? - minha avó pergunta.
— Ela é praticamente loira, pequena e ontem ela aprendeu a piscar - digo.
— Não entendi a relação do ultimo - ela diz.
— Ignore - Phillip diz abraçando e tirando-me do quarto - Parou para pensar que ela vai ter 8 meses, e talvez não seja tão pequena, e também ela não é loira.
— Ela vai ficar linda - digo.
— Acredito que sim - ele diz parado e me segurando pelos ombros - Mas nosso objetivo agora é tirar ela daqui, depois podemos fazer uma festa com todas as princesas, fadas e o que você quiser.
— Eu só queria uma fantasia - digo - Mas bem que poderíamos fazer a festa de 1 ano dela na Disney.
— Cade a Rebecca que estava evitando gastos fúteis? - ele pergunta voltando a andar com meu braço enrolado ao dele.
— 1 ano é tipo um marco - digo - Ela precisa ter algo grande.
— Ela não vai nem se lembrar - ele diz - 18 anos é um marco tão importante quanto e o que você fez?
— Você tem que levar em consideração eu estava meio ocupada aumentando 6 números e fugindo do meu namorado - digo.
— Você não aumentou seis números - e diz.
— Foram quase 4 - digo.
— Há uma diferença imensa - ele fala.
— E o seu? - pergunto.
— Meu número de calça? - ele pergunta.
— Seu 18 anos - digo - Como foi?
— Marcante - ele diz - Só lembro das primeiras duas horas.
— Bebeu seu aniversário inteiro? - pergunto.
— Fui para Londres apenas com esse objetivo, comecei a partir da meia noite, quando já era maior e parei uns 3 ou 4 dias depois.
— Uma ressaca de 4 dias deve ser horrível - digo.
— Você se tranca num quarto de hotel e dorme - ele diz - por mais 4 dias.
— Será que farei algo assim no meu aniversário de 21?
— Faremos juntos - ele diz - Sammy vai ter quase 3 anos, ela pode ficar com meus pais por uma noite.
— Seus pais? - deixo escapar.
— Eles são os avós legais dela - ele diz.
— Seu pai mal trocou uma palavra comigo nos últimos 3 dias, além de que ele parecia irritado, e sua mãe não a vejo desde quando a conheci - digo.
— Talvez ainda não seja a situação ideal para eles - ele diz.
— E é a situação ideal para algum de nós? Eu estava com minha vida pronta, iria pra Yale no verão, realizaria todos os meus sonhos, conheceria o mundo - digo - Mas agora tudo mudou, tenho que cuidar da minha filha, mudar meus planos, adapta-los para ela.
— Eu sei Becca, mas você é a mãe, é natural você querer fazer isso - ele diz.
Fico quieta com meus pensamentos até chegar na ala neonatal, Sammy chora nos braços de uma enfermeira.
— Pronta? - ela pergunta para mim e apenas concordo com a cabeça. Sento na poltrona, pego Sammy em meus braços e a ajeito no meu colo.
— Eu não devia ter deixado você colocar seu nome naquele maldito papel - sussurro.
— Pensei que tivéssemos resolvido isso - ele diz.
— Isso só complica as coisas - falo mais alto.
— Como ela ter uma presença paterna complica as coisas?
— Não posso decidir por ela sozinha - digo.
— O que você quer fazer?
— Eu odeio princesas - digo - Nunca gostei desse tipo de coisas.
— Você pode escolher o que quiser para o tema de aniversário - ele diz.
— Eu nunca gostei de crianças - digo.
— Onde você quer chegar?
— Eu tenho 18 anos, mal sei o que quero pra mim, como vou cuidar de outra pessoa? Talvez seja melhor pra ela, achar alguém que a queira mesmo.
— Rebecca da onde tirou essas idéias? Até agora você estava planejando o futuro dela - ele diz.
— Não sei se sou capaz de concretizar tudo isso - digo - Não quero que falte nada para ela.
— Não vai faltar - ele diz - Eu estou aqui, sabe que pode contar com a minha renda.
— Mas eu não quero - digo - Não quero ser dependente de você.
— Pare de drama - ele diz.
— Demorou, mas minha cabeça finalmente clareou - digo em lágrimas - Vou colocar Sammy na adoção, e espero que você assine os papéis.
— Eu não vou assinar - ele diz.
— Você não entende? - praticamente grito fazendo outros bebês chorarem - Ela precisa de estabilidade, Phillip você é tão imaturo quanto eu.
— Você é a pessoa mais madura que conheço - ele diz abaixando e segurando no meu rosto.
— Está precisando conhecer mais pessoas - digo afastando as mãos dele.
— O que está acontecendo com você? - ele pergunta - Estava feliz até agora.
— Eu não estou feliz - digo - Não estou feliz desde aquele maldito dia em que me voluntariei para ser barriga de aluguel.
— Me dê Sammy - ele diz tentando tirá-la de mim delicadamente, sem lutar solto-a - Você está doente.
— Só porque eu vejo razão mas coisas? - grito em meio a lágrimas.
— Você estava bem Rebecca - ele diz - Isso acontece com mais freqüência do que você imagina.
— Vai bancar o médico comigo agora? - falo irônica - Por favor, Phillip.
— Acho que você está com depressão pós parto - ele diz - Consigo uma consulta num psiquiatra ainda hoje pra você.
— Eu não estou doida - digo.
— Não disse que você estava - ele diz - Prematuridade causa isso, não é sua culpa.
— Nunca falei que era - digo - Eu só estou cansada, não quero cuidar de um bebê.
— Eu não entendo, mas vou te ajudar - ele diz ajeitando Sammy em um só braço para pegar o celular no bolso da calça.
— Phillip eu estou bem - digo - Só quero o melhor para Sammy.
— E eu só quero o melhor para você - ele diz discando para algum número.
— Esqueça - digo me levantando.
— Rebecca espere - ele diz colocando o celular no ouvido - Ben, é o Phillip consegue uma consulta ainda pra hoje? Acho que minha namorada está com depressão pós parto.
— Phillip...
— Não estou em plantão - ele diz - Já estou levando ela.
— Não vou a lugar nenhum - digo.
— Você quer o bem de Sammy, não é?
— Já disse que sim
— Então façamos o seguinte - ele diz - Você vem comigo, e se ele falar que você não tem nada, que eu me enganei ou algo do tipo, assino os papéis da adoção.
— Como vou saber se você vai cumprir? - pergunto.
— Quem além de você sabe o que é melhor para Sammy? - ele diz - Você é a mãe dela, então a você estiver sã, você provavelmente tem razão.
— Não estou doente - digo.
— Deixe-o conferir - ele diz - Se você estiver é melhor sabermos agora do que mais para frente.
— Eu não estou - digo - Mas tudo bem, quando voltarmos você assina os papéis.
Ele coloca Sammy no pequeno berço de acrílico, onde ela mexe-se chutando as laterais desse.
— Olívia, pode dar uma mamadeira a ela? Acho que ela não mamou o suficiente - ele diz para a enfermeira antes de sairmos.
Caminhamos pelo corredor juntos, mas afastados. Phillip até tenta pegar na minha mão mas o afasto.
— Pensei que levaria mais tempo - minha avó diz ao nos ver.
— Rebecca não está se sentindo bem, e acho melhor levá-la a um especialista - Phillip diz.
— O que você tem? - ela pergunta.
— Deixo-a no hotel quando voltarmos - ele diz pegando no meu pulso e me tirando dali, Phillip assina uns papéis na portaria dos quais assino apenas o ultimo.
Quando saímos a grande luminosidade, diferente da que entrava pela janela, me faz sentir que estive em cárcere esse tempo todo. Acabo cobrindo meu rosto por causa disso, e o vento joga meus cabelos sobre minhas mãos.
O carro dele está do mesmo jeito da ultima vez que o vi. Sentar naquele banco me leva a memória daquele fatídico dia, onde a dor me consumia.
— Está tudo bem? - ele me pergunto.
— Com certeza não - digo - Você acha que estou ficando maluca.
— Depressão não é loucura - ele diz dando partida no carro.
— Você não passou nem por 1% do que eu passei - digo.
— Eu sei - ele diz.
— Então não me julgue - digo.
— Não estou te julgando - ele diz.
— Está me rotulando de depressiva - digo.
— Eu não sei o que há com você - ele diz - Não vou te classificar de nada.
— Ótimo - digo.
Ficamos em silêncio até ele estacionar em uma clínica, ele desce do carro e não consigo fazer o mesmo.
— Eu não estou maluca - digo quando ele abre a porta do carro.
— Você prometeu - ele diz estendendo a mão.
Desço e entro na clínica, Phillip fala algo com a secretaria e já entramos.
— Hey Phill - o médico diz - Não sabia que tinha se tornado pai, parabéns. Aos dois.
Mordo meu lábio para ficar quieta.
— Sammy nasceu um pouco antes do tempo, não teve como espalhar a notícia - Phillip diz me abraçando, me desvencilho dos braços dele.
—Você não parece muito feliz - ele diz para mim.
— Já tentou tirar duas crianças de você, não é algo que deixe feliz - digo.
— Você estava feliz até hoje de manhã - Phillip diz.
— Estou exausta - digo - Cansei de ficar feliz.
— Quando? - o homem sentando atrás da mesa pergunta - Quando você se cansou?
— Quando percebi que não posso fazê-la feliz - digo olhando para o chão.
— Já que está tão cansada, não prefere sentar? - ele pergunta. Phillip puxa a cadeira e sem excitar me jogo nela - Como sabe que não pode fazer-la feliz?
— Eu tenho 18 anos - praticamente grito - Como vou cuidar de uma criança?
— Você disse que tiraram duas crianças de você, o que aconteceu com a outra?
— Não importa - digo encarando um quadro na mesa.
— Você não é a primeira a perder um bebê - o médico diz.
— Ele não morreu - sussurro - Só não é meu.
— Ok - ele diz sem entender - Poderia ao menos saber seu nome?
— Rebecca - digo.
— Pode me chamar de Ben - ele diz - O que você quer fazer em relação aos bebês ou ao bebê.
— Só tenho poder sobre Sammy - digo - E acho que o mais certo é doá-la.
— É uma solução meio drástica - ele fala.
— É o melhor a fazer - digo.
— Já pensou se vai se arrepender daqui 5 anos? - ele pergunta - Vai ter terminado a faculdade, vai conseguir um emprego e vai se perguntar onde sua filha está, e o que você poderia fazer por ela, mas não vai poder.
— Não vou me arrepender - digo.
— E se você se arrepender? - ele pergunta.
— Eu não vou - grito.
— Acalme-se - ele diz.
— Então pare de me importunar - digo.
— Só quero saber o que você faria caso se arrependesse - ele diz.
— Eu não sei - digo.
— Nunca planejou ser mãe?
— Não - digo - Estava muito ocupada com as inscrições para a faculdade.
— Sabe que as coisas nem sempre saem como planejado - ele diz.
— E o que fazemos quando as coisas saem fora do plano? - pergunto.
— Nós adaptamos os planos - ele diz.
— Vocês tentam falar que estou doente - digo - Mas só quero o melhor para minha filha.
— Rebecca, os sinais variam de mulher para mulher, esses sinais são frequentes em muitas mães - ele diz - Mas você está sentindo por acaso alguns dessas sinais?
Ele me entrega um papel onde há vários tópicos e um quadrado em frente de cada para preencher.
Leio as frases e procuro as quais me associo.
Tristeza constante, especialmente na parte da manhã e/ou à noite ◻️
•Sensação de que nada de bom vem pela frente ◻️
•Sensação de culpa e de responsabilidade por tudo ◻️
•Irritabilidade e falta de paciência ◻️
•Vontade de chorar o tempo todo ◻️
•Exaustão permanente, mesmo quando consegue descansar um pouco ◻️
•Dificuldade de se divertir ◻️
•Perda do bom humor ◻️
•Sensação de não conseguir lidar com as circunstâncias da vida ◻️
•Enorme ansiedade em relação ao bebê e busca constante por garantias, por parte de profissionais de saúde, de que ele está bem◻️
•Preocupação com sua própria saúde, possivelmente acompanhada pelo temor de ter alguma doença grave ◻️
•Falta de concentração ◻️
•Sensação de que o bebê é um estranho e não seu filho ◻️
•Pensamentos negativos demais em relação a você ou ao bebê ◻️
•Vontade de fugir, de sumir ◻️
Não preencho nada, por mais que tenha sentido algumas dessas coisas entre ontem e hoje e por mais que eu tenha tentado mantê-los guardados, eles subiram a minha cabeça. Tenho medo de Phillip ter razão,
— Você está bem? - Phillip pergunta, olho para ele e ao invés de afirmar nego.
— Rebecca, você poderia adiar sua decisão por mais um tempo? - Dr. Ben pergunta. Somente afirmo com a cabeça - Phillip posso falar com você lá fora?
— Você vai ficar bem? - ele pergunta e ainda sem palavras afirmo, eles saem me deixando sozinha na sala. Observo os armários de mogno e todos os certificados nas paredes, embora ele não seja muito mais velho do que Phillip.
Quando eles retornam a sala estou com meus olhos fechados.
— Rebecca você está bem? - ele pergunta.
— Sammy não mamou o suficiente - digo entredentes tentando controlar a dor nos meus seios.
— Você está passando por algo comum - Dr. Ben diz sentando em sua cadeira - Toda mulher tem o Puerpério depois do parto, algumas sente mais outras conseguem controlar melhor.
— O que é isso? - pergunto.
— O puerpério, é quando o corpo da mulher passa por profundas modificações físicas e emocionais para voltar ao corpo "original" - Phillip diz - Todas estas mudanças podem ter um forte impacto no seu estado de humor e acaba te deixando mais sensível e vulnerável.
— Normalmente se recomenda que se você se sentir triste e exausta por muitos dias, procura um médico. Porque a depressão pós-parto é uma realidade mais comum do que se pensa, e acaba sendo ligada ao puerpério - Dr. Ben fala - Mas já que você está aqui, gostaria de começar um tratamento leve a base de terapia, controlar seus sentimentos agora e não deixar que isso se torne um monstro.
— Então eu não estou doida? - pergunto.
— Você só está passando por um turbilhão de hormônios, seus órgãos estão voltando para o lugar - Phillip diz segurando minha mão - Devia ter assimilado as coisas, me desculpe por ser drástico.
— Você pensou no bem da Samantha - digo.
— E no seu - ele diz - Quando você começou a mudar de humor, esqueci tudo o que aprendi na faculdade, eu só quero o melhor para vocês duas, eu sei que você quer Sammy mais que tudo, e que jamais a abandonaria, por isso supus a depressão.
— Eu estou cansada - digo.
— Prometi para sua avó que te deixava no hotel - ele diz - Você precisa dormir.
— Quando vou te ver de novo? - Dr. Ben pergunta.
— O que acha de segunda, não vou ter plantão - Phillip diz a mim.
— Sammy já vai ter saído até segunda - digo.
— Estou ansioso para conhecê-la - Dr. Ben diz.
— Segunda então? - Phillip pergunta.
— Pode ser - digo e o afasto antes dele me beijar.
— Você tem sorte por ter alguém lhe apoiando - Dr. Ben diz - Muitas mulheres não tem.
Movendo-me o menos possível estico minha não até a perna de Phillip, ao perceber meu toque ele coloca gentilmente a sua mão sobre a minha. Mesmo depois que levantamos ele não solta minha mão.
— Obrigado Ben por nos atender de ultima hora - Phillip diz.
— Não tem problema - ele diz - Eu te devia uma.
— Pronta para ir? - ele pergunta e afirmo.
Phillip e Ben se despedem e acabo afundando-me no meu mundo. Phillip marca o retorno com a secretaria enquanto brinco com o copo de água, catatônica.
Vamos até o carro e passo todo o caminho com a cabeça na janela, sentindo o cansaço pesar meu corpo e minha mente. Mal percebo quando chegamos no hotel.
O excesso de dourado e marfim no hall começa a girar sobre meus olhos.
— Rebecca - ouço a voz de Phillip parecer distante, sinto meu quadril latejar quando encontra o chão.
Acordo já numa imensa cama, há um tubo no meu braço.
— Ela finalmente acordou - ouço a voz da minha avó mas não consigo reconhece-la no meios dos borrões da minha visão.
— Consegue me ver? - Phillip pergunta, consigo ver seu formato bem na minha frente e aos poucos a imagem fica nítida.
— O que aconteceu? - pergunto.
— Sua pressão despencou - ele diz - Você não come nada desde o almoço de ontem, não é?
— Não senti fome - digo.
— Você está amamentando - ele diz - Já está dividindo suas energias, precisa repo-las.
— Onde conseguiu isso? - pergunto apontando para a agulha no meu braço.
— Na enfermaria do hotel, é apenas soro - ele diz - consegui convence-los a deixar você no quarto, imaginei que não quisesse encarar uma maca de novo.
— Estou exausta - digo.
— O que você quer comer? - minha avó pergunta.
— Nada - digo tentando me sentar - Só quero água.
— Um prato de sopa ou caldo pelo menos - Phillip diz ajustando meu soro.
— Não estou com fome - digo.
— Você não tem muita opção - Phillip diz me dando o cardápio do hotel - escolha se não terei que escolher por você.
— Não pode me obrigar a comer - digo.
— Posso aprender a fazer isso - ele diz - imagino que precise de prática para fazer sua filha comer.
— Pode ser um risoto - digo.
— Boa menina - Phillip diz me dando um beijo.
— E minha água? - pergunto.
— Vou pedir seu prato - minha avó diz saindo - Phillip tem água no frigobar.
Phillip pega uma garrafa d'água e abre-a antes de colocá-la em minha mão.
— Não vai ter que ir para a clínica hoje? - pergunto.
— Cancelei todos meus compromissos - ele diz - Você precisa de mim.
— Vai se tornar um péssimo médico - digo.
— Você me considera um péssimo médico? - ele pergunta.
— Não.
— Para mim é o bastante - ele diz se deitando ao meu lado na cama.
— Acha que eu sou uma péssima pessoa? - pergunto.
— Claro que não - ele diz colocando uma mecha de cabelo atrás da minha orelha.
— Eu quis dar minha filha - digo - minha responsabilidade.
— Você está passando por muitas coisas - ele diz - E não acho que a doação seja algo ruim. Caso não tivesse como criá-la, acho que o mais certo a fazer é achar alguém que possa, é o mais humano.
— Acha que podemos criá-la? - pergunto.
— Eu tenho certeza - ele diz beijando a ponta do meu nariz.
— Como pode gostar de mim nessa situação? - pergunto.
— Eu não simplesmente gosto de você - ele diz - Eu te amo Rebecca, não importa a situação.
— Eu não me amo - digo.
— Você é a mulher mais incrível que já conheci - ele diz - Tem diversas razões para se amar.
— Sou só uma estúpida garota - digo.
— Você é uma mulher maravilhosa - ele diz se ajoelhando na cama e vindo até meu braço - E eu sou o cara mais sortudo por te ter aqui - ele diz tirando a agulha com maestria. Ele coloca um pequeno esparadrapo no meu braço e passa uma das pernas para o outro lado do meu corpo para estancar o sangue. Meu quadril fica entre os joelhos dele, sinto um leve arrepio no meu corpo.
— O que teria acontecido se tivéssemos transado segunda? - pergunto.
— Provavelmente nada - Phillip diz - Não mudaria a situação de seu irmão e menos ainda a de Sammy.
— Teria mudado a nossa - digo.
— Nossa situação está incrível - ele diz colando seu peito no meu, mas sem depositar o peso sobre mim. Ele beija meu pescoço e sobe até chegar nos meus lábios.
— Sabe que não podemos fazer nada agora - digo quando ele volta ao meu pescoço.
— Eu conheço os limites - ele diz levantando-se e trancando a porta.
— Vai conseguir parar? - pergunto.
— Se você estiver disposta - ele diz.
— Eu realmente não sei porque - digo - Mas estou disposta.
— Acho que seria melhor você comer primeiro - ele diz.
— Contando vantagem? - pergunto.
— Não quero que você desmaie de novo - ele diz.
— Você é tão bom assim? - pergunto.
— Vai ter apenas uma degustação - ele diz - mas em menos de 2 meses, posso te provar o quão bom sou.
— 2 meses parecem muito tempo - digo.
— Seu útero está voltando ao normal, em dois meses você ainda vai sentir dor - ele diz - Eu seria o maior canalha do mundo se transasse com você agora, provavelmente a dor seria como se tivesse te rasgado ou algo do tipo, porque seu corpo ainda está se recuperando.
— Gosto de você ser médico - digo.
— Além do status? - ele diz sentando-se na cama.
— É útil - digo - Se precisar fazer um preventivo, ou algo assim, não preciso marcar 20 dias antes.
— Posso fazer quando você quiser - ele diz - Mas agora estou pensando em outros exames.
— Como o que? - pergunto.
— O que acha de um exame de mama? - ele diz chegando mais perto.
— Acho que se você tocar no meu peito vai ensopar esse quarto de leite - digo.
— Não tinha pensado nisso - ele diz.
— Não daria certo - digo.
— Ao que parece vou ter que me contentar em te beijar - ele diz deitando-se ao meu lado de novo.
— Para mim está ótimo - digo rindo.
— Eu amo sua risada - ele diz.
— Você é único que consegue me fazer rir - digo - Eu não sinto o peso que eu sentia antes.
— Para isso que estou aqui - ele diz.
— Que horas são? - pergunto.
— Quase 6 pm - ele diz.
— Quanto tempo fiquei desmaiada? - pergunto.
— Cerca de meia hora - ele diz - Mas você estava estável, só precisava de glicose.
— Eu to com fome - digo.
— Seu risoto deve estar chegando - ele diz - O que acha de irmos comer hambúrguer ou pizza depois que sairmos do hospital.
— Que horas podemos visitar Sammy?
— Acho que umas 7pm - ele diz - Você come, toma um banho, e já vamos porque acredito que sua filha está sentindo sua falta.
— Ben tem razão - digo - Eu com certeza me arrependeria de dá-la.
— Ben é um cara legal - ele diz.
— Como se conheceram? - pergunto.
— Ele era líder da Alpha Epsilon quando eu era calouro - ele diz - Basicamente ele me fez limpar vômito por quase 4 meses.
— Eu já fui na fraternidade - digo - Os calouros atuais não fazem bem o serviço deles.
— Tem festa quase todos os dias - ele diz - É impossível limpar todo vômito.
— Não sei qual o prazer de vomitar - digo - Quase morri nos últimos 6 meses.
— O prazer é beber, vomitar é consequência - ele diz.
— Nunca fui uma grande fã de álcool - digo.
— Você bebeu uma garrafa de vodka sozinha - ele diz.
— Eu estava irritada porque ia ser barriga de aluguel - digo.
— Eu estava irritado com a faculdade - ele diz.
— Todos os dias durante ela - digo rindo.
— Ainda tem uns dias que tenho raiva e preciso beber para controla-la - ele diz rindo.
— Essa desculpa não vai funcionar - digo.
Alguém bate na porta, Phillip atende e traz um carrinho com meu prato de comida, ao sentir a comida bater no meu estômago vazio sinto vontade de vomitar, bebo um copo d'água para não fazer isso acontecer, consigo terminar o risoto.
Vou até o banheiro e tomo um banho de verdade, ao terminar de me vestir saio do hotel com Phillip rumo ao hospital.
Ao entrar na ala neonatal e sentir o calor de Sammy nos meus braços começo a chorar, não sei como vou cuidar dela, mas não vou desistir dela.
— Parece que você fica mais linda quando está amamentando - Phillip diz.
— Talvez seja minha cara de dor.
— Vai melhorar - Phillip diz.
— Espero - digo acariciando os cabelos de Sammy.
Ficamos quase 2 horas no hospital, das quais Sammy mamou por 1h e meia e o restante tirei leite para amamenta-la na madrugada.
— Pronta para o hambúrguer mamãe? - Phillip me pergunta.
— Vou chorar de felicidade - digo olhando para Sammy no meu colo - Você só vai poder sentir essa felicidade quando tiver dentes.
— Ela parece bem satisfeita com seu leite - ele diz.
— Meu peito que o diga.
— Pronta para ir? - ele pergunta.
— Não - digo - Mas preciso.
— Logo ela vai embora conosco - ele diz.
— Se eu tiver outro surto? - pergunto.
— Superamos como fizemos hoje - ele diz - Um dia de cada vez.
— Acho que ela engordou - digo.
— Do jeito que ela come, com certeza - ele diz pegando-a dos meus braços.
— São quase 9 Pm - a enfermeira diz mostrando que temos de ir embora.
— Falta muito para poder levá-la?
— 150g - ela diz me fazendo suspirar de alívio e preocupação ao mesmo tempo.
Phillip brinca um pouco com Sammy antes de entrega-la a enfermeira. Sair dali sem ela é deprimente.
No carro Phillip conta algo mas não presto atenção aos detalhes. Fico fazendo contas mentalmente de quanto Sammy ainda precisa mamar para sair de lá.
— Podemos pegar para viagem? Estou realmente cansada - digo quando ele procura uma vaga para estacionar, sem me responder ele apenas joga seu sorriso mais sedutor e segue para o drive.
Assim que pego o hambúrguer em minhas mãos, o calor reconforta um pouco do que estou sentindo, apesar de eu própria não saber classificar tal sentimento.
— Quer que eu venha te buscar amanhã cedo ou você vai com sua avó? - Phillip pergunta.
— Não vai ficar comigo? - pergunto.
— Eu iria para meu apartamento - ele diz - Hoje mal tive tempo para tomar banho.
— Tudo bem - digo encarando o pão mordido em minhas mãos.
Phillip insiste em entrar comigo no hotel, ele me deixa na porta do quarto, mas antes que eu bata na cara dele, ele impede a porta de fechar.
— Talvez não seja a melhor idéia te deixar sozinha - ele diz entrando - Mas vou precisar usar o seu banheiro.
Apenas dou de ombros e deito na cama.
Estou cansada de mais para levantar mas assim que Phillip sai, deixando uma neblina de vapor, vejo que preciso da água quente sobre meu corpo.
Mas fico petrificada ao perceber que ele está só de toalha.
— O que foi? - ele pergunta.
— Nada - digo ainda sem me mover.
— Você está bem? - ele pergunta.
— Preciso tirar essa essência de hospital de mim - digo me levantando e tentando não encara-lo.
— Você sabe onde tem escova extra? - ouço Phillip perguntar enquanto ainda estou no banho, logo em seguida ouço barulhos dele mexendo nas gavetas do banheiro.
— Phillip!
— O que foi? - ele pergunta inocentemente olhando para mim pelo box embaçado. Tento esconder meu corpo o máximo que consigo - Pare de drama, eu fiz seu parto, esqueceu-se que não pode usar roupa intima na cirurgia, vejo você amamentar a quase cinco dias, não há surpresas para mim.
— Isso é estranho - digo.
— Estamos juntos, não?
— Eu sei, mas nunca dividi banheiro com ninguém - digo.
— O que você quiser - ele diz abrindo o box e me dando um pequeno beijo, só então percebo que ele está apenas de cueca. Mas depois disso ele sai e solto o ar que estava segurando.
Phillip está deitado serpenteando pelos canais de tv. Tento ser o mais delicada possível ao deitar ao lado dele. Assim que entro nos cobertores ele desliga a televisão, tornando a lua da janela a única luz no quarto. Ele passa seu braço entre o meu, nos deixando de conchinha, fecho meus olhos tanto ignorar a vergonha que toma meu corpo, e sinto o leve beijo na minha cabeça antes de ouvir o suave e constante som da respiração dele, com o tempo meu nervosismo vai passando e seus braços se tornam seguros, e assim consigo dormir como não dormia a muito tempo. 



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Olá meus amores,Estourei o período de uma semana, mas foi por causa do Enem, até achei que iria demorar mais, mas aqui está o capítulo de vcs; entrei num assunto delicado mas pretendo explicar melhor no próximo capítulo

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Olá meus amores,
Estourei o período de uma semana, mas foi por causa do Enem, até achei que iria demorar mais, mas aqui está o capítulo de vcs; entrei num assunto delicado mas pretendo explicar melhor no próximo capítulo

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