Parte 1

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No alojamento dos Cavaleiros, Shun dormia a sono solto. Entre os bravos guerreiros de Atena, era o que dormia melhor. Os outros eram atormentados por pesadelos, lembranças. Shun esquecia as coisas ruins. Sonhava com dias melhores, onde não era preciso lutar. Dias em que algum deus maluco não resolvesse do nada dominar o mundo.

Desta vez, contudo, algo surgiu para acordar Shun. Um ruído o fez abrir os olhos, mas não sentiu nenhum cosmo estranho ou maléfico. Poderia ser o Shiryu trazendo aquelas fanfics Yaoi para zoar com ele. As autoras de fanfics adoravam escrever coisas assim sobre o Shun.

Olhando em volta do quarto, Shun não viu nada. Teriam seus sentidos o enganado? Voltou a dormir, desta vez não tão profundamente.

Sentiu uma aproximação sobre seu rosto. Definitivamente, seu sono havia acabado.

- Mas o quê... - indagou, levantando-se.

Eram as correntes de Andrômeda. Sua armadura havia saído sozinha da caixa e estava tentando lhe dizer alguma coisa. Um presságio, talvez um novo inimigo. Que pena, os dias de paz pareciam acabado.

Shun deixou-se levar pelo Cosmo de sua armadura. Absorveu os sentimentos dela – se é que armaduras tinham sentimentos. Era tudo uma simbiose mágica, estranha e difícil de explicar. Coisa dos deuses.

Em contato com as correntes, sentiu medo. Viu Seya, envolto em sombras, um Cosmo ruim. Seya como um arauto da destruição dos Cavaleiros. Isso tudo era muito estranho, pensou. Tentou descobrir mais, mas a visão acabou. Tudo que a armadura sabia era que Seya faria algo ruim, ou se meteria em problemas. Ou talvez fosse algum Seya do mal vindo de outra dimensão. As correntes de Andrômeda não sabiam.

De manhã, os Cavaleiros estão junto para a refeição matinal. Shun observava Seya, distraído enquanto passava manteiga no pão. Estaria Seya tramando algo? Ele, que sempre foi um Cavaleiro tão dedicado a Atena?

Sim, muito dedicado. Até demais.

Ao ver aqueles cabelos roxos entrando na cozinha do alojamento, Seya estremeceu – e Shun percebeu. Havia amor no olhar do Cavaleiro de Pégasus. Atena... Seya a salvou tantas vezes! E a salvaria mais centenas, milhares de vezes. Quantas fossem necessárias. Sentia-se ligado a ela por algo mais que uma armadura ou um dever. Uma ligação de alma e cosmo.

Seya acompanhava o balanço daqueles fios roxos com os olhos. O jeito doce de Saori pegar o chá, sua risada tímida de oriental. Ele podia se apaixonar por Saori, mas não podia se apaixonar por Atena. Ela era uma deusa, caramba! Mas Saori era Atena e Atena era Saori. Que coisa complicada para um apaixonado!

Por alguns momentos, Shun ficou pensando o que poderia de tão ruim acontecer com Seya desta vez. Ele tinha sobrevivido a tanta coisa! Seya apanhou, apanhou e apanhou, mas sempre tinha forças para um último Meteoro de Pégasus que faria tudo ficar bem. Mas, desta vez, Seya era o perigo. As correntes de Andrômeda tinham avisado.

Shun decidiu que observaria Seya atentamente. Não contaria nada para os outros Cavaleiros. Eles eram muito impulsivos, iriam querer brigar com Seya, tentar resolver as coisas na porrada. Uma cisão interna do grupo era o que eles menos precisavam naquele momento.

Depois do café era hora do treino. Os Cavaleiros se reuniam no pátio para ensinar os mais novos a usar o Cosmo, meditavam... bem, o Shiryu meditava. Os outros preferiam lutar entre si.

Estranhamente, Seya não apareceu para o treino naquela manhã. Ficou só, na floresta, sentado com as costas em uma árvore. Pensava em tudo que tinham feito, e pensava em Saori. Só queria o melhor para ela.

Foi acordado de seus devaneios por um Cosmo estranho. Alguém se escondia nas sombras da floresta. Quem quer que fosse, ele encontraria e, sendo um inimigo, acabaria com ele. Mesmo sem armadura.

Andou devagar em direção àquele Cosmo. Sentiu-o mais forte em meio a algumas árvores perto dali. Pé ante pé ele andou, buscando surpreender quem estivesse lá. Não era preciso. Debaixo de um salgueiro chorão estava um rapaz loiro, muito bonito, sorridente. Usava uma armadura brilhante, com enormes asas de cristal. Atrás dela, como as armas na armadura de Libra, ficavam um conjunto de arco e diversas flechas rubras.

- Olá Seya – disse o estranho.

- Quem é você? Revele-se! - ordenou Seya, avançando um passo.

- Sou quem aparece para os apaixonados. Quem resolve os problemas dos corações partidos. Sou Eros, o deus da paixão.

O Cavaleiro de Pégasus parou um instante. Sozinho, sem armadura, teria algumas dificuldades em acabar com esse cara. Se ele fosse mesmo um deus, pensava. Seya sempre se achava muito forte perto dos inimigos, e isso o fazia apanhar demais. Todo mundo sabia que ele não iria mudar tão cedo.

- Diga o que quer, Eros! Não se pode entrar impunemente nos territórios de Atena! Se avançar mais, terei de pará-lo.

- Acalme-se, jovem! - disse Eros. - Você é muito impulsivo. Na verdade, vim lhe ajudar. Sei de seus pensamentos, Seya. E vou dizer o que você não quer admitir para ninguém. Você ama Atena.

Eros olhou bem nos olhos de Seya, como se pudesse lê-lo. Como se seus sentimentos estivessem transparentes. Mas a divindade do amor podia ver o que ele queria tanto esconder. Eros continuou:

- Você sabe como os deuses são caprichosos, não sabe, Seya? Eles propõem aos mortais participação em algumas coisas realmente estúpidas. Afinal, os mortais são tão divertidos! Pois bem: vou lhe propor algo... uma aposta que fiz no Olimpo. É melhor colaborar comigo ou seus amigos pagarão.

- Não vou colaborar com você! Sou fiel a Atena!

- Fiel até demais, não é mesmo? Ah pobres mortais! - riu como se divertisse muito com tudo aquilo – Bem caro Seya, o que lhe proponho é simples. Beije Atena.

- O quê? - perguntou Seya.

- Beije Atena, oras. Você gosta dela, não? Pois a beije nas próximas 24 horas.

- Ou o quê? Vamos ter que lutar?

- Oh não, não não. A cada três horas que você não a beijar vou raptar um dos seus amigos, até que se completem as 24 do tempo limite. Quem sabe assim você não se anima a cooperar? Pense que divertido: desta vez você nem terá que subir escadas!

- Não vou ser uma peça dos seus joguinhos! Vamos lutar! Meteoro de Pégasus!

Seya lançou seu golpe com força e determinação, mas só atingiu o ar. Ficou claro que Eros não pensava em lutar, pois desapareceu completamente.

Assim ficava difícil, pensou Seya.

Desorientado, o cavaleiro retornou ao quartel-general sem entender o que se passava. Sob a sombra de uma árvore, encontrou Shun. Quem sabe o cavaleiro de Andrômeda poderia ajudá-lo?

- Shun! Ei Shun! - gritou Seya. Shun olhou para ele e se levantou. Seya avançou mais alguns passos quando um homem apareceu do nada entre eles. O estranho vestia uma armadura com um tom cor-de-rosa. Olhou para os dois cavaleiros e nada disse por alguns segundos. Todos se entreolharam.

- Desaparecimento do amor! - Gritou o homem, enquanto soltava um poderoso golpe sobre Shun. Este simplesmente desapareceu.

-Hehe – foi apenas o que o Seya ouviu do homem, que fez um giro e desvaneceu no ar tão rapidamente quanto Shun.


Um beijo por Atena (fanfic CDZ)Onde histórias criam vida. Descubra agora