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H

29 de abril de 2013

— Estire o joelho. Muito bem. Agora gire o tornozelo. Dói?

— Não...

— Mas é difícil?

— Sim...

Harry observava inquieto a sessão de fisioterapia de Louis, hiper atento a qualquer careta de dor ou desconforto que ele pudesse fazer, apesar de já saber que não podia interferir muito no trabalho da fisioterapeuta, afinal, todos os médicos achavam positivo que Louis voltasse a falar por si mesmo agora que tinha cordado, depois de passar um ano em coma.

— Agora eu preciso que você contraia os dedos do pé direito. — disse a fisio, uma mulher negra de meia idade com voz de meditação guiada. — Tente de novo, Louis, você moveu os dedos do pé esquerdo, mas não se preocupe, isso é normal no seu quadro, tudo bem?

— Hazz...

Dando um pulo da cadeira onde estava no canto da sala, Harry se aproximou de onde o outro estava sentado na cabeceira da maca. Ainda estava se acostumando a ouvir novamente a voz dele, mesmo que nessa versão fraca e alquebrada pela falta de uso e — de acordo com a equipe de psicólogos — pelas consequências emocionais do trauma.

— Eu posso? — perguntou, e ao que a fisioterapeuta assentiu tomou uma mão de Louis entre as suas, tentando transmitir força. — Vamos pensar meu bem, qual é a mão que você escreve?

— Direita...

— Mexe os dedos dessa mão. — a doutora sorriu, vendo o menor bater os dedos da mão livre contra o colchão. — Agora mexe os dedos do seu pé que fica do mesmo lado que essa mão.

— Muito bem, Louis! Seu namorado é um ajudante incrível, isso vai te fazer melhorar muito rápido, com certeza.

— É noivo... — corrigiu Louis, fazendo Harry sorrir.

— Realmente, erro meu. E estamos todos aguardando o casamento, eu quero um convite, ouviram? — era adorável como toda a equipe do hospital se importava com eles, nunca barrando que ficassem juntos e sempre elogiando a ligação que tinham.

— Paciência, doutora. Lou precisa se recuperar primeiro, e não vamos esquecer de você, pode ficar tranquila.

Louis fez que sim, enfaticamente, enquanto esfregava os pés no lençol. Harry já tinha notado como isso era um hábito dele, como se para comemorar que podia se mover e sentir novamente.

— E pode gravar minhas palavras, senhor Styles, em pouco tempo nosso Louis vai estar pronto para se casar quantas vezes quiser.

— Nada disso, ele só pode casar uma vez, e só se for comigo!

♠♠♠

Desde quando eles tinham 10 anos, Louis dizia que queria se casar, e que pedidos de casamento deveriam ser feitos em restaurantes caros e brindados com vinho tinto, para dar sorte, porque tinha sido dessa forma que o pai dele tinha feito o pedido, e os pais dele eram o casal mais unido do mundo. Quando eles tinham 12 anos, os pais de Louis morreram em um acidente de carro, e ele foi viver com o tio, irmão da mãe, que também tinha pedido a esposa em casamento em um restaurante, mas feito o brinde comemorativo com uísque, a bebida favorita dos dois.

Agora, aos 23 anos, eles estavam presos em um quarto de hospital e proibidos de consumir álcool, mas na manhã seguinte à fisioterapia ele entrou no quarto com o almoço de Louis em uma bandeja e um sorriso no rosto.

— Hey, Lou.

— Oi, Hazz. — Louis tinha voltado do coma com parte da memória perdida, os últimos quatro anos completamente exterminados da mente dele, mas esse apelido antigo permanecera na ponta da língua dele, exatamente como quando eles eram vizinhos em Holmes Chapel e Louis se esgueirava pela marquise para bater à janela de Harry.

O mais alto apoiou a bandeja na mesinha e se ocupou de suspender a cama até o outro estar sentado, deixando um beijo na testa dele e finalmente colocando a bandeja apoiada em seu colo.

— Hoje completa um mês e meio que você acordou, amor! Como você 'tá se sentindo?

— Bem... eu acho.

— Você acha? — perguntou, enquanto desembalava cuidadosamente o pote de sopa e o sanduíche de frango.

— É... às veze- — a voz de Louis quebrou, e ele respirou fundo, fazendo por um minuto os exercícios que o fonoadiólogo tinha ensinado, enquanto Harry aprontava os talheres. — Vezes. Eu tenho dor de cabeça. E... e eu queria lembrar... eu não consigo, Harry...

— Quando estiver doendo você precisa avisar pra mim, assim a gente pode fazer alguma coisa, tudo bem?

— Uhum. — ele levou uma mão vacilante até a colher, claramente se esforçando em seguir a rotina de exercícios cotidianos.

— E sobre as lembranças, não se preocupe, tudo bem? Eu me lembro de tudo, por mim e por você. O que importa é que você me ama, e nem assim você esqueceu disso... — Louis depositou a colher de volta na tigela e depois assentiu. — Nunca vou esquecer como você acordou do coma já chamando meu nome.

— Nem dá pra diz- dizer que aquilo foi chamar, né.

— Pode ter sido com a voz mais fraquinha do mundo, eu não ligo, só ligo pra como você me queria perto.

— É...

— Lou. Louis. Você quer se casar comigo?

— A gente não já noivou? — a surpresa fez com que o menor falasse muito e rápido demais, engasgando com as palavras no final, mas mantendo os olhos fixos em Harry.

— Isso foi antes. E eu não quero saber se você quer ser meu noivo. Quero saber se quer ser meu marido, para todo o sempre e amém.

— Oh.

Harry se esticou até alcançar sua mochila, tirando de lá a caixinha com uma única aliança de prata.

— Essa é a sua aliança de noivado. A minha se perdeu no acidente, mas olha, — ele procurou em outro bolso e puxou um livreto. — peguei o catálogo da joalheria, você pode escolher nossas alianças de casamento como quiser! Isso se você aceitar, é claro.

— Okay...

Se empertigando e segurando dramaticamente a caixinha com a aliança de noivado, Harry piscou um olho e sorriu.

— Louis Tomlinson, você aceita ser meu esposo, para o bem e para o mal, até que a morte nos separe?

Louis estendeu a mão direita, tocando a bochecha e os lábios de Harry com os dedos antes de a apoiar contra o coração dele.

— Sim. Sim, Harry, sim...

Capturando a mão delicada do outro com a própria, Harry deslizou a aliança pelo anelar dele, deixando um beijo na ponta do dedo e outro na palma, mantendo os lábios contra a pele quente e macia enquanto sussurrava:

— Você é meu tudo.

— Obrigado. Por me amar. — disse Louis, os olhos claros brilhando com uma mistura de lágrimas e sol de primavera que entrava pela vidraça.

— Agora, meu amor, é só o tempo para você escolher nossas alianças e elas ficarem prontas, e então nosso sonho vai ser real.

— Quanto tempo?

— Hmmm, — ponderou Harry, enquanto servia dois copos de suco. — Dois meses, no máximo. Aqui, nós não temos um restaurante chique, muito menos vinho, mas pedi suco de uva pra nós. Um brinde a um novo começo?

Louis capturou o copo descartável, piscando para o líquido roxo por alguns segundos.

Por fim concordou, fazendo o brinde, que ironicamente não teve som nenhum naquele ambiente fora do tempo que era o hospital.

— Um novo começo. — repetiu, aceitando feliz o beijo depositado em seus lábios.


Poison, Beauty and Rage ♠ L.S. AUOnde histórias criam vida. Descubra agora