2.5 Presente

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10 de setembro de 2015

O tempo se tornava progressivamente mais chuvoso, a umidade praticamente palpável no ar. A rotina continuava idêntica no sítio: cuidar dos pés de morango, dos cavalos, do jardim em volta da casa, fazer as refeições, conversar com Niall, que chegava para trabalhar todos os dias coberto de lama e reclamando da chuva, como se isso pudesse mudar alguma coisa.

Aparentemente imperturbado, dentro de si Louis processava lentamente suas memórias, buscando uma explicação para o que vivia no presente. Paralelamente, refletia sobre o que fazer agora. Contar tudo e enfrentar Harry? Fingir que estava tudo bem, indefinidamente? Pegar sua égua e fugir cavalgando no meio da noite?

Uma semana depois de recuperar as memórias ele tinha experimentado essa tática. Se levantara, pegara um casaco grosso, botas, e nada mais. Fora até o estábulo, preparara Valleyard em tempo recorde e montara. À medida que guiava a égua para a estrada, confiando na luz quase nula das estrelas e em seu senso de direção, começou a sentir o medo apertar a garganta.

Tinha medo de prosseguir, de voltar para o mundo real, onde não tinha nada, onde teria que se esconder e criar uma nova identidade, nem mais Louis Tomlinson, nem Louis Styles, o que fez perceber que Harry o tinha feito mudar de nome no casamento para o isolar ainda mais de seu passado. Não tinha pegado nem dinheiro nem documentos, teria que arranjar uma forma de vender Valleyard em algum lugar, e então... então o que? Para onde ir? O que fazer?

Também tinha medo de voltar, de enfrentar a reação de Harry se ele percebesse que Louis estava tentando fugir. De voltar para aquela vida falsa, onde seu coração era diariamente dilacerado por aquela força doente que o mantinha ligado a Harry. Mesmo que voltasse, as coisas nunca seriam as mesmas. O veneno da verdade destruíra sua fé, ainda que não houvesse afetado a dependência que tinha do outro desde a infância, e nem apagado a paixão furiosa que se desenvolvera entre eles.

Alcançara a estrada, o ruído dos cascos da égua cortando a escuridão da noite. O cheiro de mato úmido era denso, e o vento frio que vinha do norte fazia a respiração do animal se condensar numa névoa branca. Louis apertou o casaco em volta de si, os dedos frios envoltos nas rédeas, e só então percebeu que pegara um casaco de Harry.

As lágrimas voltaram, e ele fechou os olhos, chorando silenciosamente enquanto progredia na direção de Fortrose. Não apertou o passo, não tinha razão para aquilo. Deixou a cabeça pender sobre o peito, como quem aceita o próprio destino e desiste de lutar, deixando que a lágrimas intermináveis fizessem seu caminho enquanto ele morria mais uma vez, metaforicamente, ao abandonar a coisa mais próxima que tivera de um lar, ainda que envenenado.

Ouviu o som distante de um galope, mas continuou em seu caminho. O som se aproximou, e logo havia um outro cavalo correndo logo atrás de si. Por alguma razão, sua mente continuou sem se abalar, envolta em trevas, e seus olhos permaneceram fechados, mesmo quando uma mão forte agarrou as rédeas de Valleyard, a fazendo parar. Só então abriu os olhos, e olhou para o lado, sem levantar a cabeça.

Harry o encarava, o rosto fechado e os olhos arregalados. Parecia assustado, e ao mesmo tempo desesperado.

— Louis? — ele chamou, sem levantar a voz, por estarem muito próximos.

— Hm? — foi tudo o que o menor respondeu, subitamente se sentindo fraco demais até para falar. Escorregou um pouco na sela, e o marido o aparou.

— Deus! — ele exclamou, agarrando o corpo de Louis com o braço livre, e com algum esforço o transferiu para a cima de Zorro, onde podia manter ele seguro. — Louis, acorda. — sussurrou, acariciando suavemente o outro.

Aquilo fez uma onda nova de desespero quebrar sobre Louis, que se inclinou para a frente violentamente, soluçando e se debatendo histericamente. Em resposta, Harry o abraçou mais apertado, impedindo que ele se jogasse de cima do cavalo.

— Sshh, 'tá tudo bem, eu 'tô aqui, sshhh... — ele sussurrava.

Eventualmente, Louis se acalmou o suficiente para eles começarem a voltar para casa, mas continuou mudo enquanto Harry contava que acordara sozinho na cama e tinha ido atrás de Louis, estranhando a ausência do casaco e das botas, e depois da égua, e acabara suspeitando que os pesadelos tinham se transformado em sonambulismo.

O olhos de Louis se encheram de água novamente, quando ele assumiu silenciosamente que nunca teria conseguido escapar para longe de Harry. Porque ali, entre os braços do outro, ele sentia como se uma faísca se acendesse dentro de si, o instigando a viver, não só existir. Assim, deitou a cabeça no ombro do marido e se deixou levar pelo sono, abandonando toda pretensão de fuga.

♠♠♠

Agora, três dias depois dessa empreitada, ele estava fazendo a cama quando uma ideia o assaltou. Terminou a tarefa e foi para a sala, onde Harry estava sentado na poltrona, lendo um livro e aproveitando o calor da lareira. Louis caminhou até ele e afastou o livro, sorrindo enquanto se acomodava de lado no colo dele, feito uma criança que pede atenção. Harry sorriu de volta e voltou a ler.

Alguns minutos se passaram, até que Louis cutucou o outro, o fazendo rir e largar o livro. Eles trocaram um beijo rápido e Harry estirou as pernas.

— Eu 'tô sonhando umas coisas engraçadas esses dias. — disse Louis, como quem não quer nada. — Nenhum sonho faz o menor sentido, mas todos tem uma coisa em comum.

— É mesmo?

— Aham.

— E o que seria essa coisa, misterioso senhor Louis? — brincou Harry.

— Sempre aparece essa garota, eu acho que já vi ela, mas não sei onde. Muito bonita. Não sei porque, mas no sonho eu sempre chamo ela de Isabelle. — piscou, fingindo inocência, e esperou pela reação do outro.

Harry se virou lentamente, o olhando nos olhos. Sua expressão facial não dizia nada, mas seus olhos estavam trêmulos, entregando o tumulto que devia acontecer dentro dele. No fim, apertou o maxilar e deu um sorriso tenso, forçado.

— Bom, sonhos são coisas estranhas mesmo, não é meu amor? Não precisa se preocupar com isso. — disse, deixando um beijo no nariz do outro, e voltou a pegar o livro, como se nada tivesse acontecido.


Nota: Eu :) amo :) essa :) fic :). E pra quem andou perguntando, não posso dizer se o final é triste ou não, não sei como vocês vão se sentir com o que vai acontecer.

Obrigada pelos votos e comentários, e não esqueçam de votar e comentar aqui também! Até amanhã!

xxx Lua

Poison, Beauty and Rage ♠ L.S. AUOnde histórias criam vida. Descubra agora