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L

30 de agosto de 2015

"Você não entende!"

Louis tentou rebater a voz que retumbava em sua cabeça, mas em vão.

"Você não entende!"

"Você não entende!"

"Você não entende!"

O QUE EU NÃO ENTENDO? — ele quis perguntar, gritar, mas a escuridão parecia uma droga paralisante, o mantendo inerte, mas incapaz de impedir o pânico que se alastrava por sua mente.

"Eu amo você, só eu amo você!"

Louis abriu os olhos, esperando ver o próprio quarto, mas se deparando com mãos que não eram as dele agarrando um volante com toda força, os nós dos dedos ainda mais pálidos que a pele em volta, o volante girando vertiginosamente. Ele viu a própria mão se estender de onde estava no banco do carona, e flutuar no ar, os dedos se dobrando enquanto batiam contra o para-brisa e o rompia, o som do vidro se partindo o induzindo a um sono profundo e calmo.

♠♠♠

— Lou? Louis? Lou, me responde!

Louis desgrudou a testa da bancada da cozinha, onde tinha descansado a cabeça para cochilar.

— Mmmmf, me deixa Hazz. — resmungou, se arrepiando quando a memória do sonho que acabara de ter o invadiu.

Ele tinha uma ideia de sobre o que se tratava o sonho, mas não tinha coragem de contar a Harry. O acidente era um assunto delicado, não só pelos motivos óbvios, mas também porque aos poucos Louis estava começando a suspeitar que o dia em que eles se acidentaram estava marcado por alguma outra lembrança ruim para Harry.

— Vai dormir na cama, meu amor. — disse o mais alto, abraçando a cintura de Louis e o puxando delicadamente para ficar de pé. — Se você 'tá com sono é melhor dormir logo de uma vez.

— Mas eu prometi que ia ficar com você...

Harry riu, já guiando o marido até o quarto.

— Não adianta ficar comigo, mas parecendo o Albatroz narcoléptico de Alice no País das Maravilhas.

Enfiando o rosto nos travesseiros, Louis grunhiu uma resposta, mais ocupado em fazer uma careta para a pontada que sentiu na cabeça. Essa dor de cabeça já durava dias, indo e voltando, o fazendo acordar no meio da noite atordoado, e dormir durante o dia quando sentia algum alívio.

Abraçou um travesseiro de Harry e se ajeitou debaixo das cobertas, os últimos dias do verão já se tornando úmidos e temperados com uma brisa fria que prenunciava chuva.

Sentiu um beijo ser depositado em sua nuca e sorriu, suspirando suavemente de satisfação antes de se deixar levar pela inconsciência.

♠♠♠

Ele estava andando num gramado, fazendo esforço para subir uma pequena elevação envolta em verde brilhante, apesar do céu cinzento de Londres. Quando chegou ao cume se apoiou em um poste, recobrando o fôlego, antes de caminhar mais um pouco até alcançar uma área cheia de bancos e chafarizes.

O parque não estava cheio, porque era uma terça-feira, e as crianças ainda estavam nas escolas. Ele se sentou no banco mais próximo do caminho e sorriu, jogando a cabeça para trás para observar a luz do sol ser filtrada pelas nuvens e criar pontos de luz entre as folhas das árvores.

Tateou os bolsos da jaqueta até puxar uma caixinha de papelão azul. Puxou a tampa e de dentro tirou uma outra caixinha, essa de veludo preto. Guardou a caixa de papelão de volta no bolso e segurou a de veludo com a ponta dos dedos, como se o mínimo toque pudesse estragar a perfeição do objeto.

Ouviu passos e abaixou a cabeça, prestando atenção mas sem se revelar, e reprimiu um ataque de riso nervoso.

Era agora ou nunca.

Os passos se aproximaram mais, até pararem de frente para onde ele estava, sentado, com o olhar fixo na grama diariamente maltratada por sapatos, e engolindo uma última respiração ansiosa antes de cair de joelhos, abrindo a caixinha de veludo para revelar duas alianças de prata, que ele estendeu para cima, o sorriso ameaçando rasgar seu rosto.

Ergueu o queixo, e então os olhos, e foi assaltado por uma visão:

Cabelos castanhos bagunçados pelo vento, cascateando abaixo dos ombros.

Mãos pálidas cobrindo um sorriso boquiaberto.

Olhos azuis decorados por cílios perfeitos.

E no momento em que as mãos desceram e a voz doce e melodiosa entoou "Louis!", um nome invadiu sua mente, rápido e revelador como um relâmpago na noite escura.

Isabelle.

♠♠♠

Louis acordou paralisado, apesar do coração ameaçando explodir pela força que batia em seu peito. Seus olhos arregalados aos poucos se acostumaram à luz do quarto, vinda pela janela, que se sacudia na moldura com a força da tempestade que estava caindo lá fora. Um relâmpago estalou, iluminando os móveis e a forma de Harry dormindo placidamente ao seu lado, e ele sentiu mais uma onda de ansiedade.

Isabelle.

Levantou com cuidado da cama, sabendo como Harry tinha o sono leve, e foi até a janela, afastando a cortina de tecido fino e branco. As árvores e sebes se sacudiam violentamente, e ele teria agradecido à providência por a plantação de morangos já estar coberta, se não estivesse tão ocupado pensando, analisando cada momento dos últimos dois anos, ou melhor, de toda a sua vida.

Olhou de volta para a cama, tentando acalmar o próprio corpo, que, em pânico, estava trazendo à tona os instintos de fuga.

Suprimindo a vontade de gritar e soluçar fixou a atenção em Harry, enquanto inconscientemente enrolava os dedos da mão direita em volta do anelar da mão esquerda, envolvendo a aliança de casamento.

Sem forças, se atirou para fora do cômodo, conseguindo chegar até a cozinha, onde deslizou para o chão e começou a chorar desesperadamente, abafando os sons enfiando um punho na boca.

Os relâmpagos e trovões continuavam nos céus, e dentro de casa, Louis vivia sua própria tempestade, porque finalmente podia se lembrar de tudo, e agora sabia que sua vida atual não passava de uma mentira cheia de veneno, beleza e fúria.


Nota: Olá amiguinhos! Primeira parte da atualização TRIPLA de hoje, fiquem atentos. E quais são os palpites, agora que o Louis recobrou a memória?

Até daqui a pouco!

xxx

Lua

Poison, Beauty and Rage ♠ L.S. AUOnde histórias criam vida. Descubra agora