1.2 Passado

1.1K 187 56
                                    


H

17 de março de 2012

Uma luz forte encheu sua mente, e Harry se perguntou se deveria sentir tanta dor. Foi aí que ouviu o bipe incessante das máquinas e o sangue correndo em seus ouvidos, e compreendeu que estava vivo. Tentou abrir os olhos, mover os lábios para perguntar por Louis, mas uma força o mantinha perfeitamente imóvel, e logo a consciência escorregava para longe, o mandando de volta para a terra dos sonhos.

♠♠♠

Quando finalmente acordou por completo, a primeira coisa que fez foi perguntar por Louis. Soube que ele ainda estava no centro cirúrgico, sendo que o próprio Harry tinha saído de lá há poucas horas, depois de uma rápida cirurgia para consertar um par de costelas quebradas e uma fratura exposta no braço causadas pelo acidente.

— Nós precisamos saber a ligação entre o senhor e o sr. Tomlinson, para determinar se mais alguém precisa ser chamado. — disse a enfermeira, uma mulher de meia idade e rosto severo, mas tranquilo. — O senhor é o número de emergência na ficha do sr. Tomlinson, e vice versa, como o senhor já deve saber, mas com os dois hospitalizados ficamos de mãos atadas.

— Louis é me- — parou para beber água e se impedir de tossir, já que a tosse magoava suas costelas recém consertadas. Aproveitou o momento para pensar friamente sobre o que a enfermeira dissera. Se eles eram o número de emergência, e por consequência o acompanhante automático, um do outro, não havia mais ninguém a ser chamado. À não ser...

— Seu?

E naquele segundo Harry tomou uma decisão que colocaria tudo nos eixos, pelo menos para ele.

— Meu noivo.

♠♠♠

— A situação do sr. Tomlinson é muito delicada. — disse o médico naquela noite, meia hora depois de Harry receber o jantar. — Ele estava sem cinto de segurança, então foi arremessado para fora do carro, e nesse processo bateu a cabeça duas vezes, uma vez no vidro do para-brisa, e outra no chão quando caiu. Ele também tem duas fraturas menores na clavícula e uma costela partida, e nós precisamos esperar que o quadro dele se estabilize para operar. A pancada na cabeça causou uma parada cardiorespiratória, então ainda não temos ideia de como o organismo dele realmente está.

— Mas ele 'tá vivo?

O médico fez que sim, e então parou, como se calculasse as próximas palavras.

— No momento sim, mas ele pode não estar mais daqui a um segundo. O senhor precisa estar preparado para a possibilidade de morte cerebral, agora que ele entrou em coma profundo... Eu sei que esse é um momento delicado, mas o senhor não pode nem perder a esperanças, nem criar falsas expectativas. Nós entramos em contato com a amiga da família que o senhor indicou, ela disse que vem ainda hoje à noite.

Foi a vez de Harry assentir, tenso, mas determinado a continuar lutando enquanto Louis vivesse.

♠♠♠

Harry estava dormindo, mas acordou quando Isabelle entrou. Ela parecia cansada e um pouco assustada, o olhar fixo nas máquinas e tubos em volta da cama.

— Desculpa te acordar... — ela sussurrou, e então se sentou na cadeira ao lado do leito. — Eu fui ver o Lou, ele parece que 'tá morto, mas não realmente, porque dá pra ver ele respirando. Que pesadelo...

Eles ficaram alguns minutos em silêncio, cada um perdido nos próprios pensamentos.

— Como foi que isso aconteceu? — perguntou a mulher, o rosto cheio de dor.

Harry quis dar de ombros, mas as fraturas o impediram, então ao invés disso sacudiu a cabeça.

— Eu perdi o controle do carro, tinha alguma coisa na pista, eu não sei. Foi horrível, nem sei quantas vezes a gente capotou, eu não fiquei consciente o tempo todo.

Isabelle assentiu. Mordeu o interior da bochecha, mexeu nervosamente nos anéis que usava.

— Você disse pra equipe do hospital que era noivo dele... por que?

Era evidente que ela estava magoada por isso, uma bobagem considerando que Louis estava entre a vida e a morte.

— Fiquei com medo de eles não me contarem o estado do Louis se a gente não tivesse algum parentesco. — mentiu.

Isabelle o encarou fixamente.

— Sempre achei você medroso demais. — disse subitamente, fazendo Harry levantar as sobrancelhas.

— Eu só tenho medo de uma coisa nesse mundo, Isabelle, e tenho certeza que você nunca entenderia mesmo se eu tentasse explicar. — relaxou o corpo e fechou os olhos, encerrando a conversa. — Boa noite.


Nota: Eu não consegui postar terça, então hoje é att dupla.

Lendo os comentários eu notei que a Isabelle anda recebendo bastante ódio, e eu preciso que vocês prestem atenção numa coisa: todo capítulo em que ela aparece é no ponto de vista do Harry, que não é nada imparcial porque sente muito ciúme dela. Imaginem que você está namorando  uma pessoa maravilhosa, divertida e que te trata muito bem há alguns anos, vocês planejam um futuro juntos, a pessoa te pede em casamento, você aceita; nesse mesmo dia essa pessoa sofre um acidente e entra em coma, você não tem a chance de se despedir, mas fica do lado da pessoa, apesar de não poder ser acompanhante porque uma outra pessoa mentiu para a equipe do hospital e te isolou completamente; depois de meses os médicos perdem a esperança de que a pessoa que você ama volte do coma, e você finalmente aceita a perda de alguém querido, de um futuro feliz, de filhos, família. Mas você ama essa pessoa, então quer que o sofrimento dela acabe, e acha melhor desligar as máquinas, apesar de o mentiroso achar que você está errada; quando você desabafa sobre isso, o mentiroso se torna um assassino e tenta matar a pessoa que você ama, para depois fazer um teatrinho de vítima e pintar você de malvada.

Isabelle e Louis se amavam, mas era um amor saudável. O que ela fez não foi "desistir" de Louis, até porque ele estava virtualmente morto, o que ela fez foi honrar o amor que eles sentiam um pelo outro e preservar a  própria sanidade no meio da quantidade absurda de dor que estava sentindo. Tenham mais empatia, e parem de achar que amor é sinônimo de obsessão. Amor pode ser tanto ficar, quanto ir embora.

Próximo capítulo daqui a pouco!

Poison, Beauty and Rage ♠ L.S. AUOnde histórias criam vida. Descubra agora