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H

24 de dezembro de 2012

Nove meses. Harry suspirou, encarando a mesa do restaurante do hospital, os olhos correndo do tampo de fórmica para a bandeja de plástico, para o guardanapo de papel, para o pacotinho de sal.

Nove meses que ele assombrava os corredores daquele hospital esperando por Louis.

Ele sequer sabia o que estava esperando, na verdade. Louis poderia acordar, morrer, ficar vegetativo, ou qualquer outra coisa incapaz de ser prevista pelos médicos que mal podiam ver além do diagnóstico de coma por trauma. Mas independente disso tudo, ele e Louis tinham uma promessa de sempre estarem um ao lado do outro, e nada, absolutamente nada, era motivo para quebrar aquela promessa.

Harry desistiu de comer o pouco que ainda restava no prato e se levantou, caminhando até estar no jardim do hospital, os olhos agora fixos nas decorações de Natal pendendo dos edifícios em volta, dos postes da rua, dos arbustos do jardim. Pensou nas crianças ansiosas para os presentes, nos adultos ansiosos por causa das visitas e da comida. Pensou na surpresa que estava preparada desde Fevereiro, esperando por Louis, e que agora poderia nunca ser entregue. Era a primeira vez em vinte anos que ele não podia desejar feliz aniversário a Louis, e aquilo doía ainda mais quando ele pensava nas expectativas que tinha para o aniversário daquele ano.

De volta ao quarto no terceiro andar, ele entrou sem ligar as lâmpadas, a luz dos monitores suficiente para distinguir o rosto de Louis da penumbra. Harry então puxou uma cadeira até estar sentado ao lado da cama, entrelaçando seus dedos — longos, quentes e calejados — com os do outro — curtos, gelados e macios.

— Feliz aniversário, Lou. Eu não sei se você consegue me ouvir, ninguém por aqui sabe. — ele pausou, estendendo a mão livre até poder acariciar os cabelos (recém cortados para a ocasião) de Louis. — Eu não sei quantas vezes disse isso, mas você é a minha pessoa favorita no mundo. Há vinte anos você é a minha verdade, a minha existência, a minha salvação, a beleza que eu vejo no mundo, você é tudo o que eu tenho. Você sempre foi tudo pra mim. E sempre vai ser. Eu amo você, Lou, e eu nunca vou te deixar.

♠♠♠

Saindo do metrô e caminhando para casa naquela noite, Harry se surpreendeu com a vivacidade das próprias memórias, por um momento visitando cada momento crucial da própria vida, vendo Louis sempre ao seu lado.

O primeiro dia de aula. A a morte da avó. O prêmio nacional da feira de ciências. A descoberta da própria sexualidade. A aprovação na Universidade. A expulsão de casa quando contou aos pais que era gay.

Ainda podia ver os olhos azuis de Louis transbordando preocupação quando Harry apareceu na porta da casa dele — do tio dele, na verdade — com tudo que podia carregar em duas mochilas, chorando sem parar e incapaz de explicar o que tinha acontecido.

Abrindo a porta do próprio apartamento, o Harry de agora olhou pra si mesmo, ainda vivo, ainda inteiro, apesar do desejo contrário de cada pessoa que o tinha rejeitado na vida.

Depois de um banho rápido, ele se sentou na cama, puxando os cobertores para perto de si, a calefação não completamente suficiente para amenizar o frio de Dezembro. Abriu a gaveta do criado-mudo e acabou se deparando com a caixinha de papelão azul que estava lá há nove meses. A apanhou delicadamente e abriu a tampa, encarando o delicado aro de prata contra o papelão grosseiro.

— Eu amo você. — sussurrou, tocando a aliança de noivado de Louis. — Só eu amo você.

Depositou um beijo no metal frio, a sensação contra seus lábios quase sufocando a lembrança do som de pneus cantando e vidro se estraçalhando da última vez em que tinha dito estas exatas palavras para Louis.

Nota: Agradecendo à beta colourrying que escreveu o seguinte no email com o arquivo do capítulo betado "senhor da glória tenha piedade da minha alma que sofre [sic]".

E agora que já ultrapassamos 1/3 da história publicada eu quero saber, o que vocês acham que aconteceu com o Louis e o Harry nessa história? Criem teorias, eu prometo responder todas :P

xxx

Lua

Poison, Beauty and Rage ♠ L.S. AUOnde histórias criam vida. Descubra agora